Semeando o Evangelho

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Semear a Verdade e o Amor de Deus

sexta-feira, 24 de março de 2017

A hipocrisia da religião - Série em Romanos (Rm 2:17 a 29) - Comunidade Cristã de Londrina


VERDADES E EQUÍVOCOS QUANTO AO PECADO

É muito importante que primeiro tenhamos uma compreensão adequada quanto ao significado do termo “pecado”, visto que muitos erros modernos a respeito dessa palavra têm causado sérios danos ás demais disciplinas da teologia. O falso entendimento acerca do pecado e de seus efeitos na vida do homem, podem com toda certeza afetar todo um contexto de vivência cristã e relacionamento espiritual com Deus, e isso podemos ver em algumas denominações evangélicas, onde a Igreja é vista como uma instituição mais para escravidão do que para libertação.

O que é pecado?
1.1. No dicionário da língua portuguesa. De acordo com a definição do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), a palavra pecado vem do latim peccatu e significa “transgressão de preceito religioso, falta, erro, culpa, vício”. A famosa Grande Enciclopédia Larousse descreve pecado como “Transgressão consciente e voluntária da lei divina. Falta contra quaisquer regras ou normas. Estado que resulta para o pecador em consequência de falta cometida” (Grande Enciclopédia Delta Larousse, p. 5.189 – Ed. Delta, 1976).

1.2. Em algumas Confissões. Segundo o Breve Catecismo de Westminster (entre 1643 e 1649), “Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão desta lei”. A Confissão Belga de 1561 declara que “pecado é uma depravação de toda a natureza humana e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas”. (Nas próximas páginas exporemos outras Confissões de Fé importantes).

1.3. Na língua hebraica – Encontramos as seguintes palavras para pecado no hebraico: חטא(chata), que quer dizer “errar o alvo” (Êx. 20.20); עון ̀(avon) ou עוון ̀(avown) “depravação, iniquidade, culpa ou punição por iniquidade, agir com perversidade” (Is. 53.6); פשע (pesha), “revoltado” (Is. 1.2); פשע (pasha)“rebelar, transgredir, revoltar” (Js 7.1);

1.4. Na língua grega – Os termos bíblicos usados para pecado são: αμαρτια (hamartia), que significa “ato pecaminoso, pecaminosidade” (At. 3.19); παραβασις (parabasis) “transgressão, quebra de uma lei definida, passo em falso” (Ef.2.1); ανομια (anomia), “ilegalidade, transgressão, pecado como estado mental, ato ilegal” (Mt. 13.41); παραβαινω (parabaino), “ultrapassar, negligenciar, violar, transgredir, passar tanto a ponto de desviar-se de”; eανομος (anomos) “destituído da lei (mosaica), em referência aos gentios, que se desvia da lei, que desrespeita lei, ilegal, malvado, sem a lei, sem o conhecimento da lei, pecar em ignorância da lei Mosaica”.

Dentro das exposições a partir das línguas originais podemos então definir que “Pecado é transgredir, ou ir contrário à Lei de Deus. Não é somente alguma coisa contrária ao que Deus disse que o homem não deveria fazer, mas é também algo contrário ao que Deus não quer que o homem faça, com base nos princípios revelados. O pecado é tudo que é contrário ao caráter de Deus”.

Verdades e Equívocos
O assunto acerca do pecado, seus efeitos e sua natureza criou muitos erros interpretativos e equívocos teológicos. As diversas teorias filosóficas a respeito do pecado e do mal nem sempre trazem argumentos dentro da visão bíblica. Entre essas filosofias exporemos a ideia do “dualismo”, do pecado como “ilusão” ou “egoísmo”, do pecado como falta de consciência de Deus e outros. Trabalharemos também o tema acerca da existência do mal, com os mais conhecidos argumentos. Mas antes, um dos assuntos que mais trouxe debates entre os crentes, será nossa primeira abordagem: A Blasfêmia contra o Espírito Santo. Entre os principais questionamentos buscaremos responder as seguintes perguntas: O que é realmente o pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo? Em que ocasião o assunto foi exposto por Cristo? O servo de Deus pode cometer a blasfêmia contra o Espírito Santo? Por que esse pecado não oferece o perdão?

2.1. Pecados contra o Espírito Santo

O Espírito Santo tem um ministério especial de operar nos corações dos homens fazendo com que eles recebam os benefícios salvadores do trabalho de Cristo. Ele habita nos crentes e está presente na Igreja de Cristo, levando-a a marchar rumo as mansões celestiais. A Bíblia menciona certos pecados que são cometidos contra Ele, e entre esses graves erros está a blasfêmia. Os pecados mencionados na Bíblia são:

a) Mentir ao Espírito Santo. Em Atos 4, temos a história de Ananias e Safira que mentem para o Espírito Santo. O pecado que eles cometeram não foi devido a retenção de parte do dinheiro, mas a pretensão de dizerem que haviam dado tudo, de forma que recebessem honra por um sacrifício que não fizeram. Levando a cabo o seu pecado Ananias e Safira estavam tentando a Deus (Atos 5.9), e o seu destino é uma advertência para os que seguiriam os seus passos.

b) Entristecer o Espírito Santo. Em Efésios 4.30 Paulo nos instrui para que não entristeçamos o Espírito Santo de Deus. O fato de o Espírito poder ser entristecido implica em Ele amar o povo de Deus. Nós podemos entristecer somente aquele cujo amor e generosidade nós desprezamos.

Esta visão do amor do Espírito é usada por Paulo como um motivo para não O entristecermos. O fato dEle nos selar revela o Seu amor e faz com que Ele habite em nós, ajudando-nos e abençoando-nos. O Espírito Santo é entristecido através do pecado na vida dos crentes. Nossos corpos são o Seu templo e nós deveríamos estar alertas para não nos sujarmos. Ele é perfeitamente santo e o pecado ofende a Sua pessoa. São mencionados modos particulares pelos quais o Espírito pode ser entristecido no contexto de Efésios 4.30.

c) Extinguir o Espírito Santo. Na 1ª carta de Paulo aos Tessalonicenses 5.19, nós somos advertidos contra extinguirmos o Espírito. Isso um crente pode fazer durante um certo tempo endurecendo o seu coração contra a liderança do Espírito. Devemos estar prevenidos para não abafarmos a voz do Espírito de Deus. Alguns modos pelos quais o Espírito é extinguido são os seguintes: A) Rebelar-se contra a Palavra inspirada de Deus como é registrada na Bíblia ou a palavra cedida de forma oral pelos profetas (I Tessalonicenses 5.20); B) Abafando as repreensões do Espírito quando nós O entristecemos; C) Resistindo à liderança interna do Espírito em nossas vidas.

d) Resistir ao Espírito Santo. Em Atos 7.51, Estevão acusou os judeus por resistirem o Espírito Santo como fizeram os seus pais (Hebreus 3.7-10, e Isaías 63.10). Em Gênesis 6.3, Deus fala do Espírito contendendo com as pessoas antes do dilúvio. A rebelião contra a palavra de Deus causa resistência ao Espírito Santo
2.2. A Blasfêmia contra o Espírito Santo

“Portanto, eu vos digo: Toda forma de pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.” (Mateus 12.31-32)

A existência de um pecado imperdoável tem mexido com a mente dos cristãos em todo mundo em todos os séculos do cristianismo. Podemos observar no contexto apresentado pelo evangelista, que a advertência de Jesus dirige-se contra os que rejeitam sua mensagem ao chamá-la de satânica. No entanto, vemos que, se há preocupação, pelo fato de que algo possa eliminar o ato do perdão de Cristo é, ironicamente, evidência de que o homem crê em Cristo e que o mesmo foi enviado por Deus, e constitui, assim, prova de que tal pessoa não cometeu o pecado contra o qual o Senhor adverte.

I. O Termo grego. Uma das palavras gregas para blasfêmia é Λοιδορια “loidoria” que significa insulto, injúria, ultraje. Já o termo “blasfemía” é o mais usado no grego bíblico, mas também com o mesmo significado e sentido. No contexto do Antigo Testamento uma blasfêmia era algo muito grave entre os judeus. Para os sábios da época a blasfêmia mui grave estava relacionada a uma afronta á natureza, ao nome de Deus e á sua obra. Especialmente no grego da Septuaginta, palavras como blasphemia e blasfemeos trazem, com poucas ex­ceções, o sentido de atos contrários à majestade de Deus. Quando ligadas ao mundo religioso, considera-se “blas­fêmia” várias atitudes contra Deus e o que é santo. No contexto geral bíblico vemos algumas descrições acerca de blasfêmia nos seguintes textos:

a) Fazer uso do nome santo de Deus em vão em algo contrário a sua vontade. Por exemplo, o terceiro manda­mento traz em si este princípio, embora não seja estabelecida a pena, como em outros casos registrados na Bíblia. Entretanto, existe a proibição: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão: porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx20.7).

b) Falar contra o nome santo de Deus, amaldiçoando-o (Lv. 24.10-11). E julgar-se igual a Deus. Por causa desta concepção os judeus acusaram Jesus: “Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia, porque sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo. 10.33).

c) Falar contra o Templo e contra a Lei também era considerado blasfêmia pelos judeus (At. 8.13). Falar contra o Céu e contra aqueles que nele habitam (Ap. 13.6).

d) Outros atos abusivos eram considerados blasfemos, tais como: falar contra Moisés (At. 8.11); contradizer a verdade de Deus (At. 13.45); falar contra a palavra de Deus (Tt. 2.5); proferir mentiras blasfemas (Ap. 2.9).

2.3. Equívoco interpretativo. O entendimento radicalizado dos judeus quanto á blasfêmia levou-os á um grande equívoco quanto ao nome do Senhor. Ao que tudo indica, durante o primeiro e o segundo séculos d.C, desenvolveu-se entre os judeus uma superstição contra o uso do nome de Deus por medo da blasfêmia contra o Eterno. Para alguns historiadores essa superstição passou a existir desde o cativeiro babilônico. A Jewish Encyclopaedia diz: “As pessoas passaram a evitar pronunciar o nome YHWH… devido a um mal-entendido em relação ao Terceiro Mandamento”. O terceiro dos Dez Mandamentos dado aos israelitas por Deus declara: “Não deves tomar o nome de Yahweh, teu Deus, dum modo fútil, pois Yahweh não deixará impune aquele que tomar seu nome dum modo fútil.” (Êxodo 20.7).

Assim, o decreto de Deus contra o uso impróprio do Seu Nome foi distorcido e transformado numa superstição. A Mishinah declara que “quem pronunciar o nome divino conforme é escrito” não terá parte no futuro Paraíso terrestre prometido por Deus. Segundo algumas fontes, esse medo da blasfêmia surgiu devido até mesmo na escrita, onde levou os judeus, com a preocupação de que o documento no qual o Nome estivesse escrito pudesse acabar no lixo, a “dessacralizar” o nome divino. Seja como for, a blasfêmia era temida.

Flávio Josefo (37-103), escritor e historiador judeu descendente de família sacerdotal, ao narrar a revelação que Deus forneceu a Moisés no local da sarça ardente, diz: “Então, Deus lhe revelou Seu nome, que antes disso não tinha chegado aos ouvidos dos homens, e sobre o qual estou proibido de falar.” (Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], II, 276 [xii, 4] Publicado no Brasil como História dos Hebreus)

A abordagem de Jesus
A declaração apresentada por Jesus neste episódio distingue a blasfêmia contra o Espírito Santo de todos os outros tipos de pecados que um ser humano pode cometer. É preciso, no entanto, apresentar ao leitor um dado a muito conhecido pelos teóricos do Novo Testamento com relação as expressões usadas neste período. A tradução Versão Autorizada Inglesa (King James) traduz a expressão passa hamartia por “toda forma de pecado”. O sentido da expressão equivale a “toda outra espécie de pecado”, sendo assim já se torna claro que a blasfêmia contra o Espírito Santo não está inclusa nesta expressão. As traduções de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil (sociedade Bíblica do Brasil) e revista e corrigida, traduzindo literalmente do grego, todo pecado, obscurecem o sentido mais amplo. O estudioso Wilson R. Cardoso em sua abordagem expondo as várias interpretações sobre o que realmente é blasfemar contra o Espírito Santo declara que, mesmo que as opiniões sejam expressivamente divergentes, é possível encontrar o verdadeiro significado da abordagem de Cristo, usando todos os relatos nos evangelhos, dentro do contexto:

Todos parecem saber que esse delito é imperdoável, porém as opiniões se divergem amplamente quanto ao que ele realmente pode ser. Alguns afirmam ser o suicídio, outros o adultério. Também há quem diga ser a rejeição do evangelho depois da vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Poucos se detêm a examinar o contexto das referências à blasfêmia contra o Espírito Santo, como acontece na maioria dos casos dos assuntos aparentemente divergentes na Bíblia. A análise cuidadosa do texto elucida alguns pontos aos quais devemos atentar. Os textos relevantes são encontrados nos três primeiros evangelhos chamados evangelhos sinóticos (que devem ser vistos em conjunto). (CARDOSO, Wilson R., artigo livre)

Na história da Igreja, muitos estudiosos emitiram sua opinião sobre o assunto: Para Irineu, Blasfêmia contra o Espírito Santo seria a rejeição do evangelho; Atanásio acreditava ser a negação da divindade de Cristo, a qual teve sua evidencia ao homem pela concepção do Espírito Santo; Para Orígenes, toda a quebra da lei após o batismo e, Agostinho – a dureza do coração humano rejeitando a obra de Cristo

I. Quando e por que Jesus abordou o assunto? Em Mateus 12, as afirmações de Jesus sobre blasfemar contra o Espírito Santo ocorreram quando ele curou um homem cuja possessão demoníaca o havia feito cego e mudo. Em Marcos 3, a cura não é mencionada, Lucas registra a cura no capítulo 11 e menciona a blasfêmia contra o Espírito Santo em 12.10. Afirmar que o mal é o bem e que luz é trevas, era pratica comum entre os fariseus. Esta prática traz em si mesma um alerta anunciado pelo profeta Isaias (Is. 5.20) e agora reinterpretado por Jesus como Blasfêmia contra o Espírito Santo.

Vemos então que a acusação feita contra Jesus em Mateus 12.24 “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” era de que ele não passava de um curandeiro, cujos exorcismos eram feitos pelo poder maligno, acusação que se repete nos evangelhos. Contesta-se, o verdadeiro significado do poder e das obras do Messias. Não vemos no texto a negação da realidade do milagre, mas a acusação de que são diabólicos, nega-os como sinais do poder soberano de Deus. A reação de Jesus acontece em meio a uma série de parábolas rápidas que demonstram ser ilógico pensar que Satanás daria poderes a Jesus a fim de destruir a si próprio. A última parábola (Mat.12.29), acerca de apoderar-se dos bens do valente, pode ser uma alusão a Isaías 49.24-25, em que Deus descreve a salvação futura com o mesmo tipo de figura de linguagem.

II. O que é então essa blasfêmia contra o Espírito Santo? Louis Berkhof em sua “Teologia Sistemática” é categórico em afirmar que a raiz desse pecado é o consciente e deliberado ódio a Deus e a tudo quanto se reconhece como divino. Declara ele que o pecado é imperdoável, não porque a sua culpa transcende os méritos de Cristo, ou porque o pecador esteja fora do alcance do poder renovador do Espírito Santo, mas, sim porque há também no mundo de pecado certas leis e ordenanças estabelecidas por Deus e por Ele mantidas. “E, no caso desse pecado particular, a lei é que ele exclui toda a possibilidade de arrependimento, cauteriza a consciência, endurece o pecador e, assim, torna imperdoável o pecado”. (p. 249). Conclui Berkhof: “Em vista do fato de que esse pecado não é seguido pelo arrependimento, podemos estar razoavelmente seguros de que os que receiam havê-lo cometido e se preocupam com isso, e desejam as orações doutras pessoas por eles, não o cometeram.”

Para F. Davidson a blasfêmia é uma rejeição da salvação oferecida pelo Espírito Santo. Ele diz: “Este pecado, a rejeição propositada de Cristo e sua salvação é o único que, pela natureza, priva o homem da possibilidade de perdão… A explicação é que o Espírito Santo é quem oferece a salvação ao coração do homem.” (O Novo Comentário da Bíblia, Ed. Vida Nova, 3ª edição – 1995, p. 965).

Dr. Billy Graham em seu livro “O Espírito Santo”, declara:

Este pecado, chamado de “o pecado imperdoável”, é cometido por descrentes Os inimigos de Jesus, quando O acusaram de expulsar demônios pelo poder de Satanás apesar de Ele ter dito antes que os expulsava pela poder do ‘Espírito de Deus’, cometeram este pecado. (…) O pecado imperdoável é rejeitar as verdades sobre Cristo. É rejeitar de maneira completa e definitiva o que o Espírito Santo diz sobre Jesus Cristo: que Ele é o Filho de Deus, o único que pode nos salvar dos nossos pecados. (p. 134, 135)

A blasfêmia contra o Espírito Santo é rejeitar a graça preciosa para a salvação em Jesus Cristo. Desta forma podemos concluir que apenas aqueles que se declaram apáticos as boas novas do Cristo, poderiam blasfemar contra o Espírito Santo, e não os cristãos, conforme recomendação do apóstolo Paulo em Efésios 4.17-22ss e como conclui Charles Ryrie: “(…) para cometer esse pecado imperdoável, é necessário uma condição especial. Não se trata simplesmente de blasfemar em nome do Espírito Santo, mas afirmar ou acusar que as obras de Cristo originam-se em Satanás, e assim esta seria uma acusação de que Cristo seria um agente de Satanás. (…) A rejeição a Cristo é, naturalmente, um pecado imperdoável em qualquer tempo (Jo. 3.18)”. (RYRIE, Charles C., Dicionário Bíblico Wycliffe, Ed. Cpad – 2ª Edição, 2007).

 O erudito em Teologia judaico-messiânica David H. Stern também é de acordo quando diz “Blasfâmias (ou seja, insulto) contra o Ruach HaKodesh consiste em (1) continuar de vontade própria a negar o evangelho quando o Espírito Santo deixou claro para você que ele é verdadeiro, ou (2) atribuir as obras do Espírito Santo ao Adversário (Satanás); no contexto presente elas apontam para a mesma coisa (outras interpretações foram oferecidas)” (Comentário Judaico do Novo Testamento, ed. Atos – 2008, p.72).

O Cristão e a Blasfêmia contra o Espírito Santo
De acordo com o ensinamento geral da Bíblia, e na interpretação dos heruditos, enten­demos que jamais uma pessoa cristã cometeu tal pecado, especialmente aqueles que pensam que o fizeram. O Dr. Geo Goodman oferece uma explicação para aqueles cristãos que imaginam ter cometido tal pecado. Como muitos cristãos têm sido perturbados e mesmo alarmados com esta possibilidade, pensemos a respeito:

I. Não é ela para perturbar a consciência impressionável, pois ter uma consciência sensível é estar na condição espiritual diametralmente oposta. O blasfemo aqui referi­do é uma pessoa cuja consciência está cauterizada como que por um ferro em brasa.

II. Não se refere a alguém cair em tentação, a um pecado ou pecados; é mais uma atitude de espírito do que mesmo um ato.

III. Não significa uma simples palavra irrefletida ou descuidada, embora blasfema, porque blasfêmias e peca­dos semelhantes podem ser perdoados.

IV. Não significa meramente atribuir a obra de Cristo ao poder das trevas, como no caso citado – embora isso já seja um sintoma muito perigoso. Contudo, ainda não é o próprio crime. Foi por terem os fariseus e escribas feito isso que Cristo apontou o perigo em que estavam caindo.

Conclusão. O Senhor Jesus advertiu os escribas e fariseus sobre o tenebroso perigo da rejeição de suas almas com vistas ao mundo vindouro. Eles, em suas interpretações, atribuíram ao reino das trevas a redenção que Jesus trouxe. A expulsão dos demônios pelo poder divino era sinal de que o Reino de Deus havia chegado no mundo com todo o seu peso de poder e glória.

Do outro lado, as acusações que os mestres judaicos dirigiram contra Jesus importam em negação do poder e da grandeza do Espírito Santo de Deus como Ser Supre­mo. O teológo Pedro Severino diz:

E, ao atribuírem origem demoníaca à atuação do Se­nhor, revelaram perversidade de espírito que, desafiando a verdade, prefere chamar de trevas a própria Luz. Nesse contexto, a blasfêmia contra o Espírito Santo denota re­jeição consciente e deliberada do poder e da graça salvadora de Deus, demonstrados e concretizados medi­ante as palavras e atos de Jesus. No pensamento de W. L. Lanne, a blasfêmia é, portanto, algo muito mais sério do que tomar em vão o nome divino. (A Existência e a Pessoa do Espírito Santo. Ed. Cpad, 1ª edição – 1996,  p. 111).

Concluímos nosso assunto com uma abordagem feita pelo Dr. Henry H. Halley, que, mostrando as interpretações de pôr o tema num entendimento mais contextualizada comentou:

Um modo frequente de entender o pecado imperdoável é o seguinte: podia ser perdoada a rejeição a Cristo enquanto ele estava na terra, com sua obra ainda inacabada, quando seus discípulos não o compreendiam. Mas, depois de completada a obra de Cristo e após a vinda do Espírito Santo, a rejeição deliberada e definitiva da oferta de Cristo como Salvador, feita pelo Espírito Santo, consiste no pecado eterno para o qual nunca haverá perdão. (…) (Manual Bíblico de Halley, Ed. Vida –2011, p. 475)

Teorias Filosóficas a Respeito da Natureza do Mal
As várias teorias filosóficas acerca do mal, sua natureza e efeitos mostram que o pensamento acadêmico é bem amplo em sua argumentação. As principais teorias são: a Dualista; a teoria da Mera Privação; da Ilusão; a teoria de que o pecado é falta de “consciência” de Deus, pelo fato de estar a natureza humana presa aos sentidos; a teoria do pecado como falta de confiança em Deus e como oposição ao seu reino devido à ignorância; teoria do Egoísmo e; a teoria de que o pecado consiste na oposição das propensões inferiores da natureza humana a uma consciência moral desenvolvida gradativamente.

Berkhof apresenta todas essas teorias fazendo questão de mostrar os pontos considerados frágeis e também seus principais defensores, como segue:

5.1. Teoria Dualista. Esta é uma das teorias que foram comuns na filosofia grega. Na forma do gnosticismo, conseguiu penetrar na Igreja Primitiva. Admite a existência de um princípio eterno do mal, e sustenta que no homem o espírito representa o princípio do bem, e corpo, o do mal. A teoria dualista é objetável por várias razões: (a) É posição filosoficamente insustentável que haja fora de Deus algo que seja eterno e independente da Sua vontade. (b) Essa teoria retira do pecado o seu caráter ético, fazendo dele uma coisa puramente física e independente da vontade humana, e, deste modo, destrói na verdade a ideia de pecado, (c) Também elimina a responsabilidade do homem, apresentando o pecado como uma necessidade ou inevitabilidade física. Segundo essa teoria, o único meio de escarparmos do pecado consiste em livrar-nos do corpo. (Comentário de Berkhof).

5.2. Teoria de que o pecado é mera privação. De acordo com Leibniz, o presente mundo é o melhor mundo possível. A existência do pecado deve ser considerada inevitável. O pecado não pode ser atribuído ao acaso pessoal de Deus e, portanto, deve ser considerado como simples negação ou privação, sem necessidade de nenhuma causa eficiente. As limitações da criatura o tornam inevitável. Essa teoria torna o pecado um mal necessário, desde que as criaturas são necessariamente limitadas, e o pecado é uma consequência inevitável dessa limitação. Sua tentativa de evitar fazer de Deus o autor do pecado não tem bom êxito pois, mesmo que o pecado fosse apenas uma negação sem nenhuma causa eficiente, Deus seria, não obstante, o autor da limitação da qual ele resultaria. Além disso, a teoria tende a obliterar a distinção entre o mal moral e o mal físico, visto que descreve o pecado como pouco mais que um infortúnio sobrevindo ao homem. Consequentemente, propende a embotar no homem a noção do mal ou da corrupção do pecado, destruir o sentimento de culpa e ab-rogar a responsabilidade moral do ser humano.

5.3. Teoria de que o pecado é uma ilusão. Para Spinoza, como para Leibniz, o pecado é simplesmente um defeito, uma limitação da qual o homem está cônscio; mas enquanto Leibniz considera a noção do mal, que surge dessa limitação, como necessária, Spinoza sustenta que a resultante consciência do pecado deve-se simplesmente à inadequação do conhecimento do homem, que não consegue ver tudo sub specie aeternitatis, isto é, em unidade com a eterna e infinita essência de Deus. Se o conhecimento do homem fosse adequado, de sorte que visse tudo em Deus, ele não teria nenhuma ideia do pecado; este seria simplesmente inexistente para ele. Mas essa teoria, que apresenta o pecado como uma coisa puramente negativa, não explica os seus terríveis resultados que a experiência universal da humanidade atesta da maneira mais convincente. Levada adiante coerentemente, ela ab-roga todas as distinções éticas e reduz conceitos como “caráter moral” e “conduta moral” a frases sem sentido. De fato, reduz toda a vida do homem a uma ilusão: seu conhecimento, sua experiência, o testemunho da consciência, e assim por diante, pois todo o seu conhecimento é inadequado. Além disso, vai contra a experiência da humanidade, que atesta que os mais inteligentes são, muitas vezes, os maiores pecadores, sendo Satanás o maior de todos.

5.4. Teoria de que o pecado é falta de consciência de Deus, pelo fato de estar a natureza humana presa aos sentidos.  É o conceito de Schleiermacher. Segundo ele, a consciência do pecado, da parte do homem, depende da sua consciência de Deus. Quando o senso da realidade de Deus se desperta no homem, imediatamente toma consciência da oposição da sua natureza inferior àquela noção. Esta oposição segue-se da própria constituição de seu ser, de sua natureza sensorial, presa aos sentidos, da ligação da alma com um organismo físico. É, pois, uma imperfeição inerente, mas uma imperfeição que o homem sente como pecado e culpa. Contudo, isso não faz de Deus o autor do pecado, uma vez que o homem concebe erroneamente essa imperfeição como pecado. O pecado não tem existência objetiva, mas existe somente na consciência do homem. Mas essa teoria declara o homem constitutivamente mau. O mal estava presente no homem mesmo em seu estado original, quando sua consciência de Deus não era suficiente forte para dominar a natureza sensorial do homem, presa aos sentidos. Isso está em flagrante oposição à Escritura, quando esta sustenta que o homem erroneamente julga que esse mal é o pecado e, assim, entende o pecado e a culpa como puramente subjetivos. E embora Schleiermacher queira evitar esta conclusão, faz de Deus o autor do pecado, responsável por este, pois Ele é o Criador da natureza sensorial do homem. A teoria repousa também numa incompleta indução dos fatos, visto que não leva em conta o fato de que muitos dos mais odiosos pecados do homem não pertencem à sua natureza física, e, sim, à sua natureza espiritual, como por exemplo a avareza, a inveja, o orgulho, a malícia, e outros. Além disso, leva às conclusões mais absurdas como, por exemplo, a de que o ascetismo, enfraquecendo a natureza sensorial, o domínio dos sentidos, necessariamente enfraquece a força do pecado; a de que o homem vai ficando menos pecador conforme se vão enfraquecendo os seus sentidos; a de que o único redentor é a morte; e a de que os espíritos desencarnados ou incorpóreos, o diabo inclusive, não tem nenhum pecado. (Berkhof).

5.5. Teoria do pecado como falta de confiança em Deus e como oposição ao seu reino, devido à ignorância. Como Schleiermacher, Ritschl também dá ênfase ao fato de que o pecado é entendido somente do ponto de vista da consciência cristã. Os que se acham fora dos limites da religião cristã, e os que estão ainda alheios à experiência da redenção, não têm nenhum conhecimento do pecado. Sob a influencia da obra redentora de Deus, o homem toma consciência da sua falta de confiança em Deus e da sua oposição ao reino de Deus, que constitui o bem supremo. O pecado não é determinado pela atitude do homem para com a lei de Deus, mas por sua relação com o propósito de Deus, que visa ao estabelecimento do Reino. O homem imputa a si próprio, como culpa, o seu fracasso em não conseguir tornar seu propósito de Deus, mas Deus o considera apenas como ignorância e, porque ignorância, é imperdoável. A ideia de que o pecado é ignorância vai contra a voz da experiência cristã. O homem que leva sobre si o fardo o senso de pecado, certamente não pensa nisso daquele modo. Também é grato porque não somente os pecados cometidos na ignorância são doáveis, mas igualmente todos os demais, com a única exceção da blasfêmia contra o Espírito Santo.

5.6. Teoria de que o pecado é egoísmo. Assumem essa posição Mueller e A H. Strong, entre outros. Alguns que assumem essa posição concebem o egoísmo apenas como o oposto do altruísmo ou da generosidade; outros o entendem como a escolha do ego, em vez de Deus, como o supremo objeto do amor. Para Berkhof essa teoria, especialmente quando concebe o egoísmo como a colocação do ego no lugar de Deus, é, de longe, a melhor das teorias mencionadas. Todavia, dificilmente se pode dizer que é satisfatória. Embora todo egoísmo seja pecado, e haja um elemento de egoísmo em todo pecado, não se pode dizer que o egoísmo é a essência do pecado. Só se pode definir propriamente o pecado com referencia à lei de Deus, referencia completamente ausente da definição em foco. Além disso, há muitos pecados nos quais o egoísmo está longe de ser o principio dominante. Quando um pai é abatido pela pobreza e vê a esposa e os filhos esmorecidos por falta de alimento, e, em, seu desesperado desejo de socorrê-los acaba recorrendo ao roubo, dificilmente se pode dizer que isso é puro egoísmo. Até pode ser que a ideia de ego estivesse inteiramente ausente. A inimizade para com Deus, a dureza de coração, a impenitência e a incredulidade são pecados hediondos, mas não podem ser simplesmente classificados como egoísmo. E certamente a ideia de que toda virtude é desinteresse próprio ou generosidade, o que parece constituir um necessário corolário da teoria que estamos considerando, não é válida, pelo menos numa das suas formas. Um, ato deixa de ser virtuoso quando a sua realização cumpre e satisfaz alguma exigência da nossa natureza. Ademais, a justiça, a fidelidade, a humanidade, a clemência, a paciência e outras virtudes podem ser cultivadas ou praticadas, não como formas de generosidade, mas como virtudes inerentemente excelentes, não meramente pela promoção da felicidade de outros, mas pelo que elas são em si mesmas.

5.7. Teoria de que o pecado consiste na oposição das propensões inferiores da natureza humana a uma consciência moral desenvolvida gradativamente. Essa opinião foi desenvolvida por Tennant, em suas Conferências Hulseanas. É a doutrina do pecado elaborado de acordo com a teoria evolucionista. Os impulsos naturais e as qualidades herdadas, derivadas dos animais inferiores, compõem o material do pecado, mas não se tornam pecado concretamente enquanto não forem tolerados contrariamente ao senso moral da humanidade em seu desenvolvimento gradual. As teorias de McDowall e Fiske seguem linhas semelhantes. A teoria apresentada por Tennant hesita um tanto entre a ideia bíblica sobre o homem e a ideia apresentada pela teoria evolucionista, inclinado-se ora para um lado, ora para outro. Pressupõe que o homem tinha livre arbítrio – vontade livre – mesmo antes do despertar da sua consciência moral, de modo que podia fazer uma escolha quando era posto diante de um ideal moral; mas não explica como se pode conceber uma vontade livre e indeterminada num processo de evolução. A teoria limita o pecado às transgressões da lei moral cometidas com clara consciência de um ideal moral e, portanto, condenadas como más pela consciência. É, na verdade, apenas a velha ideia pelagiana do pecado enxertada na teoria evolucionista e, portanto, está aberta a todas as objeções que pesam sobre o pelagianismo. O defeito radical dessas teorias todas é que procuram definir o pecado sem levar em consideração que o pecado é essencialmente o abandono de Deus, a oposição a Deus e a transgressão da lei de Deus. Sempre se deve definir o pecado em termos da relação do homem com Deus e Sua vontade como vem expressa na lei moral.

O Problema do Mal
São diversos os questionamentos quanto ao assunto da existência tanto de Deus quanto do mal: Se Deus criou todas as coisas, e se o mal existe, então Ele também criou o mal? Se Deus é amor e infinito em misericórdia, como poderia tê-lo criado? Se isso é assim, não seria o próprio Deus a fonte dos nossos males? O culpado de toda miséria que aflige o homem?

De fato, a existência do mal suscita um dos maiores questionamentos contra a fé cristã, seja por parte dos opositores intelectuais, dos adeptos de religiões não-cristãs ou dos escarnecedores. O nosso objetivo, neste ponto, que visa abordar de forma concisa o debate sobre o tema, é apresentar argumentos teológicos e apologéticos suficientemente fortes e razoáveis, baseados na Palavra de Deus. Sua Palavra, como sempre, é a luz para o nosso caminho e, como afirmou o sábio Salomão, grande pensador, sobre a vida humana: “… A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv. 4.18). Mas não poderíamos abordar tão importante assunto sem trabalhar a argumentação de eruditos como Geisler, Greg Bahnsen, Agostinho e Tomás de Aquino.

6.1. A existência do mal e o seu problema. É importante que exerçamos nossa cosmovisão¹, reconhecendo a realidade do mundo e também que a questão do mal não é simplesmente um jogo de discussões; ou seja, uma forma de ver a vida de maneira não ou menos justa. O mal é real. O mal é horrível. Somente quando ficamos intelectual e emocionalmente sensíveis a respeito da existência do mal podemos avaliar a profundidade do problema que os descrentes enfrentam em relação à visão cristã de mundo, mas, do mesmo modo, percebemos por que o problema do mal acaba confirmando este ponto de vista cristão, ao invés de enfraquecê-lo. O mal deve ser levado a sério como “mal”.

Greg Bahnsen diz que “o problema do mal nunca foi propriamente compreendido por muitos apologistas cristãos que, algumas vezes, menosprezam a dificuldade dos céticos ao cristianismo quando compreendem o problema do mal como sendo apenas uma demonstração colérica contrária à suposta bondade de Deus”. De qualquer maneira, é assim que os crentes professam a bondade de Deus. Mas os descrentes vêm com os seus exemplos contrários a isso. (O problema do mal, por Greg Bahsen  – Revista Defesa da Fé nº 72 , ICP – Instituto Cristão de Pesquisas).

I. O descrente e sua argumentação. O filósofo escocês do século 18, David Hume, expressou o problema do mal mediante uma maneira forte e desafiadora. Declara: “Se Deus quer evitar o mal, mas não é capaz disso, então Ele é impotente. Se Ele é capaz, mas não quer evitá-lo, então Ele é malévolo. Se ele é capaz de evitá-lo e quer evitá-lo, como se explica o mal?”. (HUME,David. Diálogos sobre a religião natural. [Tradução José Oscar de Almeida Marques]. São Paulo: Marins Fontes, 1992, p. 136).

O que Hume estava argumentando é que o cristão não pode, de forma lógica, aceitar estas três premissas: Deus é onipotente, Deus é benevolente, e, no entanto, o mal existe no mundo. Se Deus é Todo-Poderoso, então deve ser capaz de evitar ou remover o mal, se desejar. Se Deus é benevolente, então certamente deseja evitar ou remover o mal. Todavia, é inegável que o mal existe.

Já George Smith em seu livro, Atheism: the case against God [Ateísmo: o caso contra Deus]: declara o problema do mal da seguinte maneira: “Resumidamente, o problema do mal é este: Se Deus sabe que o mal existe, mas não pode evitá-lo, Ele não possui todo o poder. Se Deus sabe que o mal existe e pode evitá-lo, mas não deseja fazê-lo, Ele não é benevolente”. (Buffalo, New York: Prometheus Books,1979).

Smith acha que os cristãos não podem, de forma lógica, crer nas premissas: “Deus é completamente bom, bem como completamente poderoso.” Então, a acusação que os descrentes fazem é que a doutrina cristã é incoerente porque adota declarações inconsistentes umas com as outras, devido à maldade que paira neste mundo. O descrente argumenta que mesmo que tivesse de aceitar as afirmações da teologia cristã, sem levar em consideração a prova individualmente favorável ou contrária à sua opinião, “essas premissas não se admitem entre si”. O desafio do cristianismo é interno e até mesmo o crente deve reconhecer, contanto que ele, de forma realista, admita a presença do mal no mundo. Este mal, acredita-se, é incompatível com a bondade de Deus ou com o seu poder.

6.2. A gênese do mal. Norman L. Geisler diz que os elementos básicos na resposta teísta a esse “problema” são encontrados em Agostinho e Tomás de Aquino. Os Teístas desde então seguiram as linhas de seu pensamento. Ambos concordam na resposta, que pode ser declarada na premissa da seguinte forma:

Deus é absolutamente perfeito.
Deus criou apenas criaturas perfeitas.
Uma das perfeições que Deus concedeu a algumas dessas criaturas foi o poder do livre arbítrio.
Algumas dessas criaturas escolheram livremente fazer o mal.
Portanto, uma criatura perfeita causou o mal.
Geisler completa:

Deus é bom, e criou criaturas boas com uma qualidade denominada livre-arbítrio. Infelizmente, elas usaram este poder bom para trazer o mal ao Universo ao se rebelar contra o Criador. Então o mal surgiu do bem, não direta, mas indiretamente, pelo mau uso do poder bom chamado liberdade. (GEISLER, Norman – Enciclopédia de Apologética, p. 534, Ed. Vida – 2002).

Desta forma, Deus é responsável por tornar o mal possível, mas as criaturas livres são responsáveis por torná-lo real. Diante disso, conclui-se que, de alguma forma, o mal se relaciona a Deus, porém, se o crente prega que o mal não é algo separado de Deus e, ao mesmo tempo, não pode proceder de seu interior, então o que é o mal? O problema da criação não pode ser simplificado nas seguintes premissas: 1. Deus é o Autor de tudo o que existe; 2. O mal é algo que existe; 3. Logo, Deus é o Autor do mal

Concordar que Deus não criou todas as coisas é negar sua soberania. Todavia, admitir que Ele causou todas as coisas e que o mal faz parte dessas coisas é reconhecer que Deus causou o mal. Entretanto, os crentes respondem que o mal não é uma coisa ou substância, antes, é a falta ou a privação de algo bom que Deus fez. Assim, o mal é a corrupção das substâncias boas que Deus criou. É como a ferrugem em um carro ou a podridão em uma árvore. O mal não é algo em si só. Existe somente em companhia de outra coisa, mas nunca sozinho.

6.3. A ocorrência do mal: Por que Deus, na sua onipotência, não destrói o mal?

Mesmo um ser onipotente como Deus não é capaz de fazer qualquer coisa para mudar esta tendência humana. Explicando: Deus jamais forçaria as pessoas a escolher livremente o bem, porque a liberdade forçada seria uma contradição à sua Palavra. Logo, Deus não pode destruir literalmente todo o mal sem aniquilar o livre-arbítrio. A única maneira de destruir o mal seria destruindo o bem do livre-arbítrio. Logo, se Deus destruísse todo o mal, teria de destruir também todo o bem do livre-arbítrio Mas, apesar de Deus não aniquilar o mal, Ele pode (e irá!) derrotá-lo e, ao mesmo tempo, preservar o livre-arbítrio. Assim, ainda que o mal não possa ser destruído sem destruir o livre arbítrio, ele pode ser derrotado.

I. A finalidade do mal. Deus tem uma determinação para tudo e, por conta disso, nos permite conhecer um bom propósito para a maior parte do mal. Por exemplo, a habilidade que temos de sentir dor possui um bom propósito. C. S. Lewis² declarou que “a dor é o megafone de Deus para advertir o mundo moralmente surdo”. Além disso, temos de ponderar que parte do mal é produto do bem e que Deus é capaz de extrair coisas boas do mal. Também, temos de entender que nem todo evento específico no mundo precisa ter um bom propósito. Apenas o propósito geral precisa ser bom. Certamente, Deus tinha um bom propósito para criar a água (sustentar a vida), mas afogamentos são um dos subprodutos malignos. Assim, nem todo afogamento específico precisa ter um bom propósito, apesar de a criação da água ter tido. A bem da verdade, muitas coisas boas seriam perdidas se Deus não tivesse permitido que o mal existisse. Isso não significa que este mundo seja o melhor mundo possível, mas que Deus o criou como a melhor maneira de atingir seu objetivo supremo do bem maior. (Os artigos de Geisler e Greg Bahnsen acerca do assunto foram da tradução do apologista Elvis Brassaroto Aleixo).

Os Efeitos Noéticos do pecado e as Divergências Teológicas
Outro tema divergente na hamartiologia é o conceito do chamado “efeitos noéticos do pecado”. A palavra “noético” deriva-se da palavra grega nous, que é normalmente traduzida como “mente”. No conceito da teologia os efeitos noéticos do pecado são consequências da queda do homem no intelecto humano. Ou seja, a pessoa humana inteira, incluindo todas as nossas faculdades, foi devastada pela corrupção da natureza humana. Esse pensamento interpretativo conclui que nossos corpos morrem devido ao pecado e, a vontade humana se encontra em um estado de prisão moral, cativa aos desejos e impulsos maus do coração. Assim, nossas mentes, da mesma forma, são caídas, e nossa própria capacidade de pensar foi severamente enfraquecida pela queda.

Essa posição teológica que se opõe a qualquer forma racional de interpretação bíblica, alega que o pecado corrompeu tanto a mente humana que não é possível que a humanidade caída entenda a revelação de Deus adequadamente nem raciocine corretamente. A visão está baseada numa compreensão específica da teologia reformada e é expressa por teólogos como Soren Kierkegaard (1813-1855), Herman Dooyeweerd (1894-1977) e Cornelius Van Til (1895-1987). Outros cristãos reformados e apologistas clássicos rejeitam essa dicotomia, afirmando que, apesar de o pecado destruir a imagem de Deus na humanidade e a revelação geral, ele não as apaga. Como veremos nessa breve abordagem.

7.1. O pecado e a mente na interpretação teológica. É clara a posição de alguns teólogos Reformadores na ênfase aos efeitos noéticos do pecado. João Calvino (1509-1564) supostamente, foi rápido em demonstrar que a depravação da vontade humana obscurece a capacidade de entender e responder à revelação natural de Deus. Calvino Escreveu: “A ideia da natureza dele [de Deus] não é clara a não ser que o reconheça como origem e fundação de toda bondade. Logo, surgiria a confiança nele e o desejo de apegar-se a ele, se a depravação da mente humana não a afastasse do curso adequado de investigação”. (Institutas, 1.11.2). Calvino acreditava que a Certeza completa só vem pelo Espírito Santo agindo por meio dessa evidência objetiva para confirmar no coração da pessoa que a Bíblia é a Palavra de Deus. Ele ainda disse:

Nossa fé na doutrina só é estabelecida quando temos a convicção perfeita de que Deus é seu Autor. Logo, a maior prova da Escritura é uniformemente tirada do caráter daquele a quem a palavra pertence. Nossa convicção da verdade das Escrituras deve ser derivada de uma fonte maior que conjecturas, julgamentos ou razões humanas; a saber, o testemunho secreto do Espírito. (ibid., 1.7.1, v. 1.8.1).

Ainda na interpretação teológica acerca da depravação mental humana pelo pecado, o argumento moderno do teólogo holandês Cornelius Van Til, torna-se expressivo nessa argumentação. Em sua obra “Em defesa da fé”, ele diz que o incrédulo tem dentro de si o conhecimento de Deus por causa da criação à imagem de Deus. E declara: “Mas essa ideia de Deus é suprimida pelo seu falso princípio, o princípio da autonomia” (In defense of the faith [Em defesa da fé], p. 170). É esse princípio que constitui a analogia da “visão distorcida” de Van Til, pelo qual todo conhecimento do incrédulo é distorcido e falso. A doutrina da depravação radical implica na crença de que toda atividade interpretativa incrédula resulta em conclusões falsas, conforme base bíblica de Ef. 2.1 – “mortos no pecado”, 1ª Co. 2.14 – “Ausência do discernimento espiritual”, e – 1ª Co. 1.21 – “Ausência da sabedoria”.

7.2. Posições com argumentos contrários. Outros teólogos reformados não-pressuposicionais, tais como Jonathan Edwards, Β. Β. Warfield, John Gerstner e R. C. Sproul também acreditam firmemente na depravação total sem aceitar essa posição dos efeitos noéticos do pecado. A depravação total pode ser compreendida como a incapacidade de iniciar ou obter a salvação sem a graça de Deus, ou seja, os versículos de base apresentados não podem significar que não haja evidência da existência de Deus, já que Paulo declarou também em Romanos 1.19,20 que a evidência da existência de Deus é tão clara que os pagãos são “indesculpáveis”. O contexto de 1ª Coríntios não é a existência de Deus, mas seu plano de salvação na cruz. Ainda em 1ª Coríntios, Paulo lembra o testemunho ocular da ressurreição de Cristo, que seu companheiro Lucas denominou “muitas provas indiscutíveis” (At. 1.3). Portanto, sua referência ao mundo que pela sabedoria não se conhece a Deus não é uma referência à incapacidade dos seres humanos para conhecer a Deus por meio da evidência que ele revelou na criação (Rm. 1.19,20) e na consciência (Rm. 2.12-15). Antes trata-se de uma referência à rejeição humana, insensata e depravada da mensagem da cruz. Apesar de cada pessoa saber claramente por meio da razão humana que Deus existe, a depravação “detém”, ou “suprime”, essa verdade pela injustiça (Rm 1.18).

            7.2.a. Reinterpretando Calvino. Geisler em sua “Enciclopédia de Apologética” diz que Calvino jamais acreditou nos efeitos noéticos do pecado, a ponto de afirmar que nenhuma pessoa incrédula poderia entender a revelação de Deus. Na realidade, Calvino insistiu em que “existe na mente humana, e na verdade por instinto natural, um senso de divindade” (Institutas. 1.3.1). Ele argumentou que “não há nação tão bárbara, nem raça tão bruta, que não esteja impregnada com a convicção de que há um Deus” (ibid.). Esse “senso de divindade está tão naturalmente gravado no coração humano que até os depravados são forçados a reconhecê-lo” (Institutas, 2.4.4). Calvino foi além, afirmando que a essência invisível e incompreensível de Deus foi manifesta nas obras de Deus, junto com provas da imortalidade da alma (Institutas, 1.5.1-2). Pois em cada uma das suas obras sua glória está gravada em letras tão brilhantes, tão distintas e tão ilustres, que ninguém, por mais ignorante, pode alegar sua ignorância como desculpa (ibid.).

Geisler ainda lembra que ao comentar Romanos 1.20,21, Calvino conclui que Paulo ensina que Deus apresentou à mente de todos a maneira de conhecê-lo, tendo se manifestado por meio de suas obras, de forma que elas devem necessariamente ver aquilo que elas mesmas não procuram saber — que há um Deus (New Testament commentaries: Epistles of Paul to the Romans and Thessalonians). Para Calvino, esse conhecimento inato de Deus inclui o conhecimento de sua lei justa. Ele acreditava que, já que “os gentios têm a justiça da lei naturalmente gravada em sua mente, não podemos dizer que são totalmente cegos à regra da vida” (Institutas, 1.2.2 2). Ele chama essa consciência moral “lei natural”, que é suficiente para a condenação, mas não para a salvação (ibid.). Por meio dessa lei natural, “o julgamento da consciência” é capaz de distinguir entre o que é justo e injusto (New Testament commentaries: Epistles of Paul to the Romans and Thessalonians, p. 48). Por causa das letras brilhantes da glória de Deus, a maioria das pessoas tem as mesmas ideias básicas sobre o que é certo e o que é proibido. É evidente que Deus deixou “provas” de si mesmo para todos, tanto na criação quanto na consciência (ibid, p. 48). (Enciclopédia de Apologética, Ed. Vida – 2002, p. 633-34).

CONDENADOS ATÉ POR CAUSA DOS ANIMAIS

“O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel.” (Provérbios 12.10)

As pessoas de coração perverso demonstram desprezo até mesmo pelos animais, criaturas maravilhosas criadas por Deus, para o nosso aprazimento.
Meu cachorrinho, tão dócil e fofo, tem sofrido uma agravante quanto a isto, porque tem o pelo negro como a noite, e quantos na rua o olham com desprezo, sem poderem esconder o seu racismo até mesmo contra um ser tão doce e indefeso, e quanto mais não o terão pelos homens, seus semelhantes, criados à imagem de Deus?

Mas no que condenam os próprios bichos que nos foram dados pela graça do Deus bendito, condenam a si mesmos perante Ele, para um juízo que há de se manifestar no tempo devido, porque não viveram para amar e manifestarem misericórdia, segundo o propósito eterno de Deus na criação do homem.
Um homem justo será misericordioso, ele não terá apenas misericórdia dos seus semelhantes, mas até mesmo dos seus animais, porque sabe que Deus em sua providência preserva tanto aos homens quanto aos animais.

E o bom tesouro do coração do homem justo o dispõe naturalmente a isto, porque está cheio de terno afeto, tanto espiritual quanto natural. Assim tudo fará para preservar a vida na terra, não apenas para que tenha continuidade, mas para que haja qualidade de vida feliz, calma e sossegada, no cuidado em que se esmera para fazer o bem a todo o ser que tem vida.


Não se achará no coração do justo a mesma crueldade que é manifestada pelo perverso, ainda que não haja causa para ser cruel.
Agirá sempre segundo a sua natureza perversa porque não se pode esperar que de uma fonte má flua água pura e doce.

Até as próprias manifestações de misericórdia do ímpio são cruéis, porque se valem desta aparência misericordiosa para se aproximarem daqueles aos quais intentam fazer o mal.
Por isso está condenado em si mesmo, pelo seu próprio comportamento, que sempre o dispõe a desejar e a praticar o mal, e não seria surpreendente que não o despejasse primeiro nas pobres criaturas indefesas que são os animais.

Devocional Alegria Inabalável - John Piper

DEUS OPERA ATRAVÉS DE BONS PROPÓSITOS

Versículo do dia: Por isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé. (2 Tessalonicenses 1.11)

Buscar o poder de Deus para cumprir nossos bons propósitos não significa que nós realmente não decidimos ou que realmente não usamos o poder da vontade.

O envolvimento do poder de Deus nunca toma o lugar do envolvimento da nossa vontade! O poder de Deus na santificação nunca nos torna passivos! O poder de Deus se estabelece por baixo, por trás ou dentro de nossa vontade, não em lugar de nossa vontade.

A evidência do poder de Deus em nossas vidas não é a ausência de nossa vontade, mas a força de nossa disposição.

Qualquer um que diga: “Bem, eu creio na soberania de Deus e por isso vou apenas sentar e não fazer nada”, realmente não crê na soberania de Deus. Pois por que alguém que crê na soberania de Deus lhe desobedeceria tão descaradamente?

Quando você se senta para não fazer nada, não está sem fazer nada. Você está ativamente envolvendo sua vontade em uma decisão de sentar-se. E se essa é a forma como você lida com o pecado ou tentação em sua vida, isso é desobediência flagrante, porque somos ordenados a combater um bom combate (1 Timóteo 1.18), resistir ao diabo (Tiago 4.7) e seguir a santificação (Hebreus 12.14).

Esse versículo diz que é pelo poder de Deus que nós cumpriremos nosso bom propósito e nossa obra de fé. Porém, isso não anula o significado da palavra “propósito” e da palavra “obra”. Parte de todo o processo de caminharmos de modo digno do chamado de Deus é o engajamento ativo de nossa vontade ao propor agir com justiça.

Se você tem pecado persistente em sua vida, ou se continua negligenciando alguma boa obra, só porque tem esperado ser salvo sem lutar, você está agravando a sua desobediência. Deus nunca se manifestará com poder em sua vontade em qualquer outra forma além de um bom propósito que você faz e mantém.

Assim, as pessoas que creem na soberania de Deus não devem temer envolver as suas vontades na luta pela santidade. “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão” (Lucas 13.24).

Devocional Do Dia - Charles Spurgeon

Versículo do Dia: “Provei-te na fornalha da aflição.” (Isaías 48.10)

Crente atribulado, conforte-se com este pensamento – Deus afirmou: “Provei-te na fornalha da aflição”. Estas palavras não nos alcançam como se fossem uma chuva refrescante que ameniza a fúria das chamas? Não constituem uma proteção contra a qual o fogo não tem qualquer poder? Que venha a aflição. Deus me escolheu! Pobreza, você pode caminhar porta adentro, mas Deus já está em casa, e já me escolheu. Doença, você pode entremeter-se, mas tenho pronto um bálsamo – Deus me escolheu. Não importa o que aconteça comigo neste vale de lágrimas, sei que Deus me escolheu.

Crente, se você deseja uma consolação ainda mais poderosa, lembre que o Filho de Deus está com você na fornalha da aflição. Naquele cômodo silencioso, assentado ao seu lado, está Alguém que você não vê, mas que o ama. E, mesmo quando você não o percebe, em tempo de angústia, Ele prepara a sua cama e afofa o seu travesseiro. Você é pobre mas, na sua amável casa, o Senhor da vida e glória é um visitante frequente. Ele ama vir a estes lugares desolados, a fim de visitá-lo. O seu Amigo permanece muito perto de você. Talvez você não O esteja vendo, mas pode sentir a força das mãos dele. Você não ouve a voz dele? Mesmo no vale da sombra da morte, Ele diz: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus” (Isaías 41.10). Crente, não tema, Jesus está com você. Em todas as suas abrasadoras provações, a presença dele é tanto o seu conforto como sua segurança. O Senhor Jesus nunca abandonará aquele que escolheu para ser dele mesmo. “Não temas, pois, porque sou contigo” (Isaías 43.5). Esta é a palavra de promessa dele para seus eleitos que se encontram na fornalha da aflição. Você não se apegará rapidamente a Cristo, então?

Através de rios e chamas, com Jesus, meu Rei, aonde quer que Ele vá, eu O seguirei.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Como está sua consciência diante de Deus? - Série em Romanos (Rm 2:12-16) - Comunidade Cristã de Londrina


CULTO SEGUNDO AS ESCRITURAS

“Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Romanos 12.1.

No primeiro verso do capítulo 12 da carta à igreja de Roma, o apóstolo Paulo nos mostra a forma do culto racional e diário, assim como Moisés escreve o segundo mandamento (Ex 20.4-6; Dt 4.15-19) como regulamento do mesmo. A Bíblia revela, do começo ao fim, como devemos adorar a Deus e a forma como foi constituída essa adoração. O culto segundo as Escrituras provém da Escritura, é a palavra escrita que determina o culto solene. Não parece ser tão óbvio assim, devido a real situação do culto na maioria das igrejas. É tanto urgente, como necessário, oferecer o conceito de culto para que o culto seja devidamente estabelecido. Culto poderia ser definido como: ajuntamento solene com o propósito de glorificar a Deus de forma reverente e com muito temor. O povo da aliança é convocado de forma santa a cultuar a Deus de acordo com Hebreus 12.28-29, lembrando assim que Deus é fogo consumidor:

“Pelo que, recebendo nós um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e temor; pois o nosso Deus é um fogo consumidor.”

Tanto no Antigo como no Novo Testamento a estrutura do culto é abastecida de temor ao Senhor. Perceba que Hebreus 12 tem ecos do Salmo 50.3-4, como exemplo disso temos o que aconteceu no Monte Sinai. Deus exige um culto conforme Ele deseja e somente o aceita dessa forma. A exigência divina deve ser percebida, Ele exige um culto santo, pois é fogo consumidor. Nas palavras do Rev. Kenneth Wieske [1] sobre o caráter do culto solene: “Desde o Antigo Testamento já era necessário obedecer e atender à santa convocação do Senhor. Quando Deus convocava seu povo diante do Monte Sinai que fumegava, relampejava, trovejava e via-se a presença dos anjos (At 7.53; Hb 2.2; Dt 33.2), quem ousaria dizer 'não, não posso ir ao culto, pois tenho outros compromissos? Acho que papai e mamãe irão, mas eu tenho alguma coisa a comprar no shopping'. Que nada! Deus estava convocando seu povo e ai daquele que não obedecesse ao seu chamado! Se naquela época era impensável se desprezar a santa convocação, quanto mais hoje?”. Eis o que a CFW diz a respeito no capítulo XXI sobre o assunto do culto solene [2]:

“A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de todas as forças; mas, a forma aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituída por Ele mesmo, e é tão limitada pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.”

O culto segundo as Escrituras deverá ter características fundamentalmente bíblicas. Ele deve ser unicamente e devidamente bíblico, evangélico, pactual, histórico, alegre, litúrgico e reverente [3]. O culto bíblico que o Senhor instituiu tem implicações nos dez mandamentos. Encontramos esses princípios nos primeiros mandamentos, onde Deus estabelece quem deve ser adorado, como deve ser adorado e a reverência dessa adoração. No primeiro mandamento (Ex 20.3; Dt 5.7) há uma ordem, “não terás outros deuses diante de mim”, aqui aprendemos a quem unicamente devemos adorar. No segundo mandamento (Ex 20. 4-6; Dt 5. 8-10) observamos a maneira que Ele instituiu essa adoração e nos deixou avisados da forma que Ele mesmo abominaria se fizéssemos.

“Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações aos que me amam e obedecem aos meus mandamentos.” Êxodo 20. 4-6.

No terceiro e quarto mandamentos, de forma contínua é pressuposto o dia e a reverência dessa adoração (Ex 20.7-11; Dt 5.11-15). Nem as especulações humanas, nem muito menos a sinceridade de um coração é suficiente para celebrar o Deus Triuno no culto solene. A exemplo disso temos Caim (Gn 4.5), Nadabe e Abiú (Lv 10.1-2), Uzá (2 Sm 6.6-7) que tentaram da sua própria forma realizar um culto e/ou oferecer um serviço na presença de Deus.

O culto deve ser bíblico pelo inequívoco fato de que Deus, em Sua palavra, já ter regulado os elementos do culto e seus princípios que são segundo a sua vontade (Dt 12.29-32). Deus revela em Sua sagrada palavra tudo o que precisamos para cultuá-lo com zelo pela sua glória e reverência pelo seu nome. Desejo sincero não significa culto aceitável, cumprimento bíblico sim. Oferecer um culto ao Senhor sem ser prescrito pela Sua palavra é uma profanação a sua pessoa. Um culto à si mesmo é condenado pela própria Escritura (Cl 2.23). Não há desculpa para se apartar da regra, a regra é clara. O que não é proferido não pode ser oferecido. Segundo Daniel Hyde, em poucas palavras [4]: “Em tempos de analfabetismo bíblico, precisamos de um culto cheio das Escrituras, com uma linguagem escriturística em cada aspecto, das leituras responsivas e cânticos, às orações e leituras bíblicas propriamente ditas.” Importa que estejamos aptos para compreender que o culto segundo as Escrituras precisa ser cheio das Escrituras.

O culto deve ser evangélico, isto é, alicerçado nas boas novas de salvação em Cristo Jesus. O culto deve ser cristocêntrico, deve ter o evangelho ressoando do começo ao fim. O culto deve ser evangélico devido a obediência ativa e passiva de Cristo, Ele mudou tudo. Temos livre acesso a presença de Deus, o evangelho - Cristo nos garantiu esse caminho novo a presença do Criador (Ef 2.11-22; Hb 10.19-22). Temos um grande sacerdote sobre a casa de Deus, o autor aos Hebreus afirma com clareza que através do sangue de Cristo podemos confiantes nos aproximar humilhados além do véu. “Assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e os nossos corpos lavados com água pura.” Hebreus 10.22. Assim como Abel (Hb 11.4), podemos nos aproximar com plena convicção de fé e um coração sincero, um culto superior, pois é segundo as Escrituras. O culto é evangélico pois o evangelho é o reflexo daquilo que é pregado, orado e cantado. O povo do pacto é alimentado pelo evangelho e o Espírito Santo atrai os incrédulos para ouvir as boas novas de salvação. A grande questão é que nos nossos dias os cultos foram divididos por temas. E com isso há grandes prejuízos. Me parece que o que temos hoje são fatias de um bolo que não poderia ser ratificado. Culto de adoração, culto da consagração, culto evangelístico, culto de oração e/ou doutrina. Acredito que o culto deverá conter esses elementos, não há culto solene sem oração ou exposição da sã doutrina. Não poderá haver culto sem o evangelho ou sem consagração. Todo culto deverá conter elementos prescritos na palavra, como disse Timothy Keller [5], em resumo:

“se o culto de domingo visa em primeiro lugar o evangelismo, aborrecerá os santos. Se visa principalmente a instrução, confundirá os incrédulos. Mas se visa louvar o Deus que salva pela graça, isso vai instruir os de dentro e desafiar os de fora. A boa adoração corporativa será naturalmente evangelística”.

Complemento dizendo que, todo esforço não será útil para somente abastecer os santos ou atrair os incrédulos, o culto deve ser bíblico e conter elementos que glorifiquem o Senhor, que é santo e soberano sobre todos os corações.

O culto deve ser pactual, significa não ser tradicional ou moderno. Essas formas culturais de culto não são apropriadas ao contexto teológico segundo as Escrituras. Manter a distância das formas contextualizadas de culto segundo as especulações humanas deve ser o dever do cristão. O culto deve ser pactual pelo fato de ser baseado na aliança de Deus com o seu povo. De acordo com a continuidade do Antigo e Novo Testamento, conforme prescrito na lei. O culto deve ser pactual porque possui um caráter legal e íntimo como um casamento, a comunidade dos eleitos com o Deus Triuno (Ef 5), uma verdadeira aliança. Muitos podem objetar dizendo que precisamos de um culto contemporâneo, com a intenção de atrair uma nova geração de crentes que vivem em uma outra forma cultural de adoração. Engano! Nosso culto deve ser guiado pelo padrão das Escrituras, não é a cultura que dita a forma da santa convocação nem os elementos oferecidos na adoração. Outros podem destoar do conceito de culto pactual, devido não ser uma linguagem acessível. No entanto, como disseram os reformadores devemos falar no vernáculo, ou seja, numa linguagem compreensível. A ordem da pactualidade do culto solene não despreza uma linguagem acessível, nem muito menos a suficiência do texto sagrado. A estrutura que predomina nas Escrituras é o pacto, a Bíblia é um documento pactual, deve ser necessário essa compreensão para não restar dúvidas sobre essa forma de culto. Há um diálogo entre Deus e o Seu povo no culto, vejamos essa citação: “Deus nos diz: 'Eu serei o seu Deus' e nós respondemos: 'Nós seremos o seu povo'. Deus nos chama à adoração e respondemos em cântico. Deus nos fala a sua Lei, nós lhe respondemos com a confissão dos nossos pecados. Ele nos absolve dos nossos pecados, nós respondemos em oração. Ele nos fala pela Palavra e nos sacramentos, nós respondemos com dádivas de gratidão e doxologia. Isto é o que realmente significa dizer que o nosso culto é pactual.” O culto é a renovação da promessa pactual que Deus fez em Cristo conosco, esse pacto da graça é renovado a cada semana na exposição da Palavra e nos Sacramentos.

O culto deve ser histórico porque é necessário que seja coerente com a doutrina dos apóstolos, que tenha continuidade com a história da igreja e que realce a maneira que os nossos antigos cristãos cultuaram solenemente o Deus Triuno. Deve ser um culto histórico e unido a tão grande nuvem de testemunhas (Hb 12.1). Quando nos reunimos no dia do Senhor, devemos ter em mente que estamos de forma coerente afirmando aquilo os antigos cristãos também afirmaram sobre a solenidade e simplicidade do culto. Seguindo o modelo básico da igreja primitiva sobre o culto, conforme testemunho dos pais da igreja, dos reformadores e seus escritos. Como afirma o Hyde [6], “em resumo, seguimos este modelo básico da Igreja primitiva de culto, no qual a Palavra é lida e pregada, os sacramentos são celebrados com ação de graças, orações de confissão, intercessão, graças são dadas, e as ofertas do povo de Deus coletadas para o ministério da misericórdia.”

O culto deve ser alegre e reverente, e isso quer dizer cheio de temor ao Senhor. Não espontâneo e sem entendimento. Aqui, chegamos num ponto controverso. Quem disse que um culto recheado de risos, gritos e danças é um culto alegre? Quem disse que um culto silencioso, harmonioso, sem expressões extravagantes é um culto triste? A liquidez dos cultos perde completamente o sentido de alegria sólida e perseverante. Segundo os Salmos, o culto é extremamente alegre e reverente (Sl 100.1-3). Percebemos o salmista enfatizando extrema alegria e temor. A questão é que a falta de percepção de quem nós somos não permite-nos entender o que significa verdadeira alegria no culto ao Senhor. Não seria a hora de entender o que de fato é, e não é alegria? Alegria não quer dizer ter liberdade para fazer o que quiser, também não quer dizer oferecer ao Senhor o seu culto do seu jeito conforme seu bem parecer. Um culto alegre significa uma grande expectativa que Deus irá lançar sobre nós a Sua graça quando diante dEle estivermos reverentes com tremor e temor (Sl 2.11). O culto alegre é um deleite na bondade do Senhor e em resposta manifestamos nossa gratidão diante do seu favor. A alegria é a condição de um coração que foi profundamente convicto dos seus pecados diante de um Deus Santo que foi compassivo e misericordioso. A alegria de um culto é a qualidade de um coração que foi livre da condenação e aceito por um supremo e justo redentor. Alegria e agitação não são sinônimos, emoções desenfreadas e extravagantes na verdade só enfatizam falta de reverência e temor diante de Deus que é fogo consumidor. Nas palavras do Robert Godfrey [8], “Devemos lembrar que reverência nem sempre significa calma, e alegria nem sempre significa ruído. Alegria e reverência são, antes de tudo, atitudes do coração para as quais procuramos manifestações apropriadas no culto. A alegria pode ser intensa no canto de uma canção muito tranquila. A reverência pode ser manifesta no cantar alto.” Devemos a exemplo dos santos no AT e NT oferecer ao Senhor um culto alegre e reverente, grandes coisas fez o Senhor por nós e por isso estamos alegres (Sl 126.3).

O culto de ser litúrgico, organizado e estruturado. Isso não quer dizer mecânico ou seco, como se não houvesse vida. O culto deve ser compreensível e simples, seguido conforme o rito (Lv 9.16 cf. Lv 10.1; Dt 12.29-32), isso não quer dizer cheio de rituais antropocêntricos. Liturgia ou ordem de culto significa um serviço, Cristo e o Seu povo como num banquete santo, uma atividade pactual. Nos é devido adorar ao Pai em espírito e em verdade (João 4.24), todavia, existe uma estrutura para que essa adoração seja oferecida. A necessidade da liturgia não é transformar o culto em ritos idolátricos, a ausência da liturgia não quer dizer que o culto torna-se dirigido pelo Espírito Santo. É necessário cautela, precisamos ser fiéis ao padrão divino que está prescrito em Sua palavra. Uma estrutura litúrgica bíblica de culto não será enfadonha ou cansativa, será sim, de grande ensinamento e isso apontará a glória de Deus em Cristo. O centro da liturgia é a Palavra de Deus lida e proclamada, como também os Sacramentos administrados corretamente. A congregação entoa cânticos, faz orações e confissões, declara a confissão de fé e ajunta ofertas para os necessitados, finalizando com uma benção, desafiando os cristãos a seguirem firmes e com fé na proclamação do evangelho. Os elementos do culto, conforme prescritos nas Escrituras, precisam enfatizar e anunciar o Senhor Jesus Cristo e seu supremo e perfeito sacrifício. A igreja precisa compreender que a cultura não tem autoridade sobre o culto ao Senhor. O Culto conforme o Evangelho é contra e supra cultural. A adoração deve ser segundo as Escrituras, o sermão expositivo deve ser compreensível, os sacramentos devem ser administrados corretamente, as orações e ações de graça no culto precisam ser rendidas segundo a vontade soberana e a renovação pactual estabelecida. Combatemos o culto místico, louvores que exaltam o homem, uma liturgia idólatra, confissões positivas, apelos compulsivos, orações que obrigam Deus satisfazer desejos ególatras. Juntamente com as Escrituras precisamos priorizar o culto solene abastecido de sermões expositivos, liturgias confessionais, sacramentos biblicamente administrados e orações humilhadas. Nas palavras de Calvino temos uma ótima advertência [9]:

“Exortamos os homens a que não adorem a Deus de modo frígido e descuidado, e enquanto apontamos o modo, não podemos perder de vista o fim, nem omitir qualquer coisa que diga respeito àquilo que apontamos. Proclamamos a glória de Deus em termos muito mais elevados do que estávamos acostumados a proclamar antes, e com todo vigor trabalhamos para tornar as perfeições nas quais a glória de Deus brilha mais e mais conhecidas. Exaltamos tão eloquentemente quanto podemos seus benefícios a nós, ao tempo em que conclamamos outros a reverenciar sua majestade, render a devida homenagem à sua grandeza, sentir a devida gratidão por sua misericórdia, e nos unirmos em seu louvor.”

Portanto, concluo que devemos rejeitar todo e qualquer culto a si próprio. O culto do ego, das habilidades, das conveniências. Rejeitemos com força a hipocrisia dos fariseus e a religiosidade dos líderes dos judeus. Rejeitemos toda influência cultural e que a cada semana seja a nossa doxologia oferecer ao Senhor um culto segundo as Escrituras.

“Apliquem-se a fazer tudo o que eu ordeno a vocês; não acrescentem nem tirem coisa alguma.” Deuteronômio 12.

COMPRIMIDOS NÃO ACABAM COM O PECADO

Muitos tomam comprimidos para acabar com as dores de consciência de pecados praticados, mas isto não tem qualquer efeito para remover a enfermidade chamada pecado que produz estas dores de consciência.

Assim, ao falar de arrancar o olho e a mão que nos leva a pecar, Jesus quis se referir à necessidade de se curar a enfermidade que tem causado as nossas transgressões.
Peca-se também com a mente e com a imaginação. Portanto não cair em tentação não consiste meramente em deixar de praticar o ato sugerido pelo pecado, mas permanecer abrigando sentimentos, desejos, imaginações pecaminosas, que impedem que tenhamos um coração puro, conforme é da vontade de Deus, que nos é dado pelo poder do Espírito enquanto andamos nEle.

Onde estiver o nosso coração ali estará o nosso tesouro e vice-versa. O que nos atrai é o que revela onde estamos de fato, se em santificação ou no pecado.
Se o que vivo e aprovo, e gosto, é tudo aquilo que Deus reprova, então fica bem claro a quem estou realmente servindo, se ao Senhor ou ao pecado.

A pior forma de adultério é o espiritual, quando somos infiéis Àquele que nos foi dado como esposo, a saber, Cristo, que é totalmente santo. Se não é a Ele a quem servimos, conforme Sua vontade, então estamos adulterando. Quão sutil e terrível é isto! Quão frequentemente os homens pecam vendo programas de TV, lendo em revistas, jornais e em quaisquer outros meios de comunicação modernos, coisas que são verdadeiras abominações diante dos olhos de Deus. Assim, os olhos deles os levam a pecar, porque eles não extirpam seus olhos (não estamos nos referindo a uma extirpação literal), mas cortarem de seus olhos a contemplação de tais coisas que são pervertidas e que lhes agradam e dão prazer, quando sabem o quanto elas desagradam e despertam a ira de Deus.


Outros se gloriam em seu conhecimento intelectual, eles se tornam orgulhosos e altivos, esquecidos que não é o fruto da árvore do conhecimento que nos torna agradáveis a Deus, antes, por causa dele entrou a maldição no mundo, mas o fruto da árvore da vida que é Cristo, que é a quem devemos primeiro conhecer de fato, e nos gloriarmos somente no conhecimento dEle, e não nas coisas relativas a este mundo, que são passageiras e não adentrarão a eternidade.

Muitos se gloriam nos feitos de suas mãos, e a propósito a grande maioria destes feitos não estão em conformidade com a vontade do Senhor, e portanto nos conduzem a transgredir a Sua vontade. Convém afastar nossas mãos da prática de toda forma de injustiça, de aceitar suborno, de escrever coisas vãs e abomináveis, de exercer atos de violência e tudo o mais em que possam ser usadas como instrumentos de perversidade.
Os olhos têm a ver com os sentimentos, com as imaginações, com a entrada da cobiça através da mente; e as mãos têm a ver com os atos, assim Jesus englobou tanto o pecado em forma de sentimentos e imaginações, quanto em forma de ações, no texto de Mt 5.27-30.

Até aquilo que fazemos para Deus em Sua casa que é a igreja e que não nos tenha sido requerido por Ele, e que não tenhamos consultado a Ele para receber a aprovação para fazê-lo é pecado.
Assim, até mesmo aquilo que pensamos ser um bem, como as esmolas que os fariseus davam aos pobres para serem elogiados pelos homens, é uma forma horrenda de pecado aos olhos de Deus, porque está carregado de orgulho e de justiça própria.
Então não se pense no pecado que entra pelos olhos, ou no pecado que se pratica com as mãos somente em questão de coisas que costumamos julgar como negativas, porque é possível pecar ainda mais naquelas que julgamos positivas, como o dar esmolas, enquanto o fazemos com um perverso coração e por motivos errados.

Devemos escutar o ensino do bendito Filho de Deus e examinarmos nossos pensamentos, desejos e imaginação. E a não ser que sintamos que somos vis e sujos, e que necessitamos ser limpos e purificados, a não ser que nos sintamos impotentes com uma total pobreza de espírito, e a não ser que sintamos fome e sede de justiça, não podemos aplicá-lo de fato às nossas vidas.
Dou graças a Deus por ter um evangelho que me diz que Jesus que é imaculado e puro e completamente santo e que tem tomado sobre Si meu pecado e minha culpa. Que tenho sido lavado em Seu precioso sangue, e que me tem feito participante de Sua própria natureza.

Devocional Alegria Inabalável - John Piper

ARME-SE COM PROMESSAS

Versículo do dia: Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. (Mateus 5.8)

Quando Paulo diz para mortificarmos os feitos do corpo “pelo Espírito” (Romanos 8.13), eu considero que ele quer dizer que devemos usar a única arma na armadura do Espírito que é usada para matar. Ou seja, a espada, a qual é a palavra de Deus (Efésios 6.17).

Assim, quando o corpo está prestes a ser levado a uma ação pecaminosa por algum medo ou desejo, devemos pegar a espada do Espírito e matar esse medo e desejo. Em minha experiência, isso significa principalmente cortar a raiz da promessa do pecado pelo poder de uma promessa superior.

Assim, por exemplo, quando começo a desejar algum prazer sexual ilícito, a espada que muitas vezes cortou a raiz desse prazer prometido é: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5.8). Eu me lembro de prazeres que provei ao contemplar a Deus mais claramente a partir de uma consciência pura; e lembro-me da brevidade, superficialidade e amargor opressivo dos prazeres do pecado, e com isso, Deus matou o poder conquistador do pecado.

Ter consigo promessas que se adequem à tentação do momento é uma chave para a guerra eficaz contra o pecado.

Porém, há momentos em que não temos em nossas mentes uma palavra de Deus perfeitamente adequada. E não há tempo para buscar na Bíblia uma promessa feita sob medida. Então, todos nós precisamos ter um pequeno arsenal de promessas gerais prontas para usarmos sempre que o medo ou desejo ameaçam nos desviar.

Esteja constantemente aumentando o seu arsenal de promessas. Mas nunca perca de vista aquelas poucas promessas preciosas que Deus abençoou em sua vida. Faça as duas coisas. Esteja sempre pronto com a antiga. E todas as manhãs busque uma nova para ter consigo durante o dia.

Devocional Do Dia - Charles Spurgeon

Versículo do Dia: “Pelo que todo o Israel tinha de descer aos filisteus para amolar a relha do seu arado, e a sua enxada, e o seu machado, e a sua foice.” (1 Samuel 13.20)

Estamos engajados em uma grande luta contra os filisteus do mal. Temos de usar toda arma que estiver ao nosso alcance. A pregação, o ensino, a oração, o contribuir – tudo precisa ser colocado em atividade; e os talentos que achamos ser inúteis para a obra têm de ser empregados. Arado, machado e foice, todos podem ser úteis para acabar com os filisteus. Armas toscas podem dar golpes fortes e a matança não precisa ser feita de forma elegante, desde que seja eficiente. Cada momento apropriado ou não, cada fragmento de habilidade (treinada ou não), cada oportunidade (favorável ou não) têm de ser usadas, pois nossos inimigos são muitos e nossa força, insuficiente. A maioria de nossas armas carece de afiação. Precisamos de agudez de percepção, tato, energia, diligência – adaptação completa para a obra do Senhor.

O bom senso prático é uma virtude rara entre aqueles que dirigem as realizações do cristianismo. Temos de aprender de nossos inimigos e fazer que os filisteus amolem as nossas armas. Neste dia, observemos o suficiente para afiarmos nosso zelo por intermédio da ajuda do Espírito Santo. Observemos a devoção dos incrédulos: que sofrimentos eles suportam na adoração de seus ídolos! Eles são os únicos que demonstram paciência e renúncia? Observemos o Príncipe das Trevas: quão perseverante em seus esforços, quão desembaraçado em suas tentativas, quão ousado em seus planos, quão pensativo em suas conspirações, quão vigoroso em tudo o que faz! Os demônios estão unidos, como se fossem um só homem, em sua rebelião infame, enquanto nós, crentes em Jesus, estamos divididos em nosso servir a Deus e raramente trabalhamos com unanimidade. Oh! que aprendamos das atividades infernais de Satanás a sair, como bons samaritanos, à procura daqueles que podemos abençoar!

terça-feira, 21 de março de 2017

O Evangelho é a Resposta Para o Mundo - Paul Washer


O CARÁTER ÚNICO DOS PAIS CRISTÃOS

Há algo maravilhosamente único acerca dos pais Cristãos. Pais Cristãos buscam manter uma tendência contracultural, até mesmo enquanto procuramos preparar nossos filhos para serem inseridos na cultura, como adultos plenamente funcionais. Eles buscam preparar seus filhos para a vida na terra, ao mesmo tempo em que procuram prepará-los para a vida no céu. Pais Cristãos enxergam seus filhos como dádivas concedidas, e também compreendem a sua responsabilidade como cuidadores (“mordomos”). Eles são “nossos filhos”, contudo, também reconhecemos que eles pertencem a outro – o seu Pai Celestial. Ser um pai ou uma mãe Cristãos é uma empreitada ímpar e singular, sendo eles um tipo raro. Aqui estão algumas das coisas que tornam os pais Cristãos algo único, neste mundo caído:

1. Pais Cristãos procuram amar seus filhos, mas não adorá-los ou venerá-los.

Eles têm os nossos corações, mas eles não podem dominar as nossas almas. Nós vivemos para Deus, e não para os nossos filhos.

2. Pais Cristãos procuram inculcar princípios morais, e não apenas moralidade aparente ou externa.

Conformidade aparente não é o nosso objetivo. Nós desejamos ver os seus corações mudados e renovados no Senhor.

3. Pais Cristãos procuram encorajar um padrão, e não buscar a perfeição.

Até mesmo quando nós lhes apontamos para a Lei de Deus, nós sabemos que eles irão falhar várias vezes. A graça de Deus transbordou sobre nós, e nós devemos transbordar graça sobre eles.

4. Pais Cristãos almejam ver seus filhos sendo bem sucedidos, mas não de acordo com os padrões estabelecidos pelo mundo.

O sucesso, aos nossos olhos, difere do sucesso aos olhos do mundo. O sucesso que preenche as nossas almas com deleite é espiritual, acima de todos os outros.

5. Pais Cristãos olham para o futuro dos seus filhos, mas não para aquele que é meramente aqui, nesta terra.

Conforme criamos nossos filhos, nós os estamos treinando para a eternidade. Nós temos nossos olhos na eternidade, e estamos buscando ajustar os olhos deles na eternidade.

6. Pais Cristãos desejam que seus filhos sejam felizes, mas não às custas da santidade.

Que bênção é assistir os nossos filhos desfrutarem da vida, mas nós desejamos uma alegria que decorre da santidade e da vida piedosa.

7. Pais Cristãos querem que a vida dos seus filhos seja aliviada, mas não desprovida de provações.

Os cuidados e preocupações do mundo são pesados, e nós gostaríamos, à medida do possível, que os ombros dos nossos filhos fossem aliviados deles, mas não às custas do seu crescimento em Cristo. Nós sabemos que as provações moldam o caráter e estamos dispostos a sofrer, conforme observamos os nossos filhos sofrerem, para que um fim maior seja realizado na nossa vida e na deles.

8. Pais Cristãos esperam que seus filhos se adaptem ao seu mundo, mas que não se sintam confortáveis nele.

Os nossos filhos vivem neste mundo, mas esperamos que apenas como peregrinos e forasteiros. Pela graça de Deus, nós esperamos que eles estejam desconfortáveis aqui, pois eles estão em seu percurso para a cidade celestial.

9. Pais Cristãos encorajam os seus filhos a perseguirem a humildade, até mais do que a autoconfiança.

A autoconfiança é boa, mas não se ela triunfa sobre a humildade. A humildade é boa, até mesmo quando ela triunfa sobre a autoconfiança.

10. Pais Cristãos ensinam os seus filhos a buscarem a resposta fora de si mesmos, ou seja, em Cristo, ao invés de olharem para dentro de si mesmos.

Buscar a Deus, em Cristo, é a sua única esperança.

11. Pais Cristãos encorajam os seus filhos à independência, mas apenas conforme eles crescem na dependência do Senhor.

Nenhum de nós é verdadeiramente independente, e precisamos ensinar esta verdade para os nossos filhos. Conforme eles crescem em independência, em relação aos seus pais, a nossa espectativa é que eles estejam crescendo em uma ardende dependência no Senhor.

12. Pais Cristãos valorizam a vontade de servir mais do que o seu anseio de liderar.

A liderança Cristã revira tudo de cabeça para baixo. Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.

13. Pais Cristãos valorizam o caráter mais do que as conquistas.

O valor do caráter prevalece sobre o das conquistas na “economia” de Deus, e portanto também em nossa missão como pais Cristãos.

14. Pais Cristãos aprovam que os seus filhos olhem para o seu Pai no céu mais do que para o seu pai e mãe na terra.

Nós prontamente apontamos para fora de nós mesmos. Eles têm um Pai Celestial mais seguro e fiel do que nós.

15. Pais Cristãos buscam treinar os seus filhos para colocar os outros antes de si mesmos.

Amor sacrificial domina a nossa fé, e nós desejamos que isto também os domine.

16. Pais Cristãos oram por seus filhos.

Ser um pai ou uma mãe Cristãos não é um empreendimento solitário. Se fosse, nós falharíamos. Ao invés disso, nós temos um Pai Celestial que cuida de nós, ouve as nossas orações, e ama conceder boas dádivas aos Seus filhos. Nós erguemos nossos filhos, em oração, na esperança deles serem os Seus filhos, e na espectativa de que Ele irá cuidar deles, assim como Ele cuida de nós.

AUXÍLIO E HOSPITALIDADE

“compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade;” (Romanos 12.13)

“Comunicando com as necessidades, etc”. Paulo retorna aos deveres de amor; dos quais o principal é fazer o bem àqueles de quem esperamos a menor recompensa. Como então geralmente acontece, que são especialmente desprezados aqueles que são mais do que outros, oprimidos com carências e que necessitam de ajuda (porque os benefícios que lhes são conferidos são considerados por muitos como perdidos) Deus os recomenda a nós de uma forma especial.

Na verdade, é somente então que provamos ser o nosso amor genuíno, quando aliviamos os irmãos necessitados, não por outro motivo, senão pelo de exercer a nossa benevolência. Agora, a hospitalidade não é um dos menores atos de amor; isto é, que a bondade e generosidade sejam mostradas em relação a estranhos, pois eles estão, na maior parte destituídos de todas as coisas, estão longe de seus amigos; ele recomenda, portanto, claramente isso para nós. Por isso, vemos que quanto mais alguém é negligenciado pelos homens, mais devemos estar atentos às suas necessidades.

Observe também a idoneidade da expressão, quando ele diz, que devemos comunicar com as necessidades dos santos; pela qual ele afirma que devemos aliviar as necessidades dos irmãos, como se estivéssemos aliviando a nós mesmos. E ele nos manda ajudar especialmente os santos porque apesar do dever de o nosso amor ser estendido a toda a raça humana, ainda deveria com sentimento peculiar abraçar a família da fé, aqueles que são, por um vínculo mais estreito, unidos a nós.


Abençoar quem Amaldiçoa

“abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis.” (Romanos 12.14)

“Abençoai, etc”. Eu gostaria, de uma vez por todas, lembrar ao leitor, que o apóstolo Paulo não está buscando escrupulosamente uma ordem precisa quanto aos preceitos aqui estabelecidos neste 12º capítulo de Romanos, senão que devemos nos contentar em ter preceitos curtos, desconexos, embora adequados para a formação de uma vida santa, tal como são deduzidos a partir do princípio que o apóstolo afirma no início do capítulo.
Ele daria presentemente uma direção relativa à retaliação das injúrias que podemos sofrer: mas aqui ele exige algo ainda mais difícil, – que não devemos imprecar males sobre os nossos inimigos, mas desejar e orar a Deus para tornar todas as coisas prósperas para eles, por mais que eles possam nos perseguir e cruelmente nos tratar; e esta bondade, por ser muito difícil de ser praticada, devemos, portanto, com o desejo mais intenso lutar por isto; porque o Senhor nada ordena, em relação ao que ele não exige a nossa obediência; nem há qualquer desculpa para ser autorizada, se estamos destituídos daquela disposição, pela qual o Senhor deseja que seu povo seja diferente dos ímpios e dos filhos deste mundo.

Árduo é isto, eu admito, e totalmente contra a natureza do homem; mas não há nada muito árduo para ser superado pelo poder de Deus, que nunca nos faltará, desde que não deixemos de procurar por isto. E mesmo que você possa dificilmente encontrar alguém que tenha feito tais avanços na lei do Senhor, que ele cumpra esse preceito, ainda assim ninguém pode afirmar que é filho de Deus ou se gloriar no nome de um cristão, que não tenha em parte atingido esta mente, e que não resista diariamente à disposição oposta.
Eu disse que isso é mais difícil do que deixar a vingança quando alguém é injuriado, porque embora alguns retenham suas mãos e não são conduzidos pela paixão de fazer o mal, eles ainda desejam que alguma calamidade ou perda acontecesse, de alguma forma, aos seus inimigos; e, mesmo quando eles são pacificados a ponto de não desejarem o mal, há ainda quase um em cada cem que deseja o bem àqueles dos quais recebeu injúrias; ou melhor, a maioria dos homens ousadamente explodem em imprecações. Mas Deus, por sua palavra, não somente restringe as mãos de fazer o mal, como também domina os sentimentos amargos interiores; e não somente isso, senão que faz com que sejamos solícito para o bem-estar daqueles que injustamente nos incomodam e buscam a nossa destruição.

Erasmo estava enganado quanto ao significado do verbo γεῖν – abençoar; porque ele não percebeu que ele se opõe a praguejar e amaldiçoar; porque Paulo tinha Deus em ambos os casos para ser uma testemunha da nossa paciência, e ver que não somente somos freados em nossas orações quanto à violência de nossa ira, como também mostrar compaixão por orar por perdão para aqueles que, dentre os nossos inimigos nos afligem; quando eles deliberadamente arruínam a si mesmos.

Simpatia Espiritual

“Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.” (Romanos 12.15)

“Alegrai-vos com os que se alegram, etc”. A verdade geral é afirmada em terceiro lugar – que os fiéis, com afeição e estima mútuas, devem considerar a condição de outros, como sendo a sua própria. Paulo primeiro especifica duas coisas particulares, – “que eles deveriam se alegrar com os que se alegram, e chorar com os que choram.” Porque tal é a natureza do amor verdadeiro, que prefere chorar com seu irmão, ao invés de olhar com indiferença a sua dor, e viver em prazer ou facilidade. O que significa, então, é – que, tanto quanto possível, devemos simpatizar um com o outro, e que, qualquer que seja a nossa condição, cada um deve transferir para si o sentimento do outro, seja de dor na adversidade, ou de alegria na prosperidade. E, sem dúvida, não considerar com alegria a felicidade de um irmão é inveja; e não lamentar por seus infortúnios é desumanidade. Que haja uma tal simpatia entre nós, que possamos nos adaptar a todos os tipos de sentimentos.

Devocional Alegria Inabalável - John Piper

DE ONDE VEM O NOSSO CONSOLO?

Vesículo do dia: Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! Então, Pilatos o entregou para ser crucificado. (João 19.15-16)

A autoridade de Pilatos para crucificar Jesus não o intimidou. Por que não?

Não porque Pilatos estava mentindo. Não porque ele não tinha autoridade para crucificar Jesus. Ele o crucificou.

Antes, essa autoridade não intimidou Jesus porque ela era derivada. Jesus disse: “ela te foi dada de cima”. O que significa que é realmente autoritativa. Não menos, porém mais.

Então, como isso não é intimidante? Pilatos não somente tem autoridade para matar Jesus. Ele tem autoridade dada por Deus para matá-lo.

Isso não intimida Jesus porque a autoridade de Pilatos sobre ele está subordinada à autoridade de Deus sobre Pilatos. Jesus recebe seu consolo nesse momento não porque a vontade de Pilatos é impotente, mas porque a vontade de Pilatos é guiada. Não porque Jesus não está nas mãos temíveis de Pilatos, mas porque Pilatos está nas mãos do Pai de Jesus.

Isso indica que nosso consolo não vem da impotência dos nossos inimigos, mas do governo soberano do nosso Pai sobre o poder deles.

Esse é o ponto de Romanos 8.35-37. A tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo e a espada não podem nos separar de Cristo, porque “em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8.35-37).

Pilatos (e todos os adversários de Jesus — e nossos) intentaram o mal. Porém, Deus o tornou em bem (Gênesis 50.20). Todos os inimigos de Jesus se uniram com a autoridade que Deus lhes deu “para fazerem tudo o que a mão [de Deus] e o propósito [de Deus] predeterminaram” (Atos 4.28). Eles pecaram. Mas, por meio de seu pecado, Deus salvou.

Portanto, não se intimidem com seus adversários que só podem matar o corpo. Não apenas porque isso é tudo o que eles podem fazer (Lucas 12.4), mas também porque isso é feito sob a mão vigilante do seu Pai.

“Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais” (Lucas 12.6-7).

Pilatos tem autoridade. Herodes tem autoridade. Soldados têm autoridade. Satanás tem autoridade. Mas ninguém é independente. Toda a autoridade deles é derivada. Tudo isso é subordinado à vontade de Deus. Não tema. Você é precioso para o seu soberano Pai. Muito mais precioso do que os pássaros que não são esquecidos.

Devocional Do Dia - Charles Spurgeon

Versículo do Dia: “Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas.” (Cântico dos Cânticos 4.16)

Qualquer coisa é melhor do que a calma mortal da indiferença. Talvez nossas almas desejem, sabiamente, o vento norte dos problemas, caso somente ele possa espalhar o perfume de nossas graças. Desde que não pode ser dito: “o SENHOR não estava no vento” (1 Reis 19.11), não tremeremos na mais gelada rajada de vento que soprar nas plantas da graça. Neste versículo, a esposa não se sujeitou humildemente às repreensões de seu Amado? Ela rogou que Ele enviasse, de alguma maneira, a sua graça, não fazendo nenhuma especulação quanto à maneira peculiar em que ela viria. A esposa não se tornou, à nossa semelhança, tão completamente fatigada daquela insensibilidade, que chegou a suspirar por uma visitação que a estimularia à ação? Sim, ela também desejava a brisa quente do sul da consolação, os sorrisos do amor divino, o gozo da presença do Redentor; estas coisas são frequentemente poderosas e eficazes para despertar-nos da vida de morosidade.

A esposa desejava ou os sorrisos do amor divino, ou a presença do Redentor, ou ambas as coisas, para que pudesse deleitar seu Amado com os aromas de seu jardim. Ela não podia suportar o ser inútil, assim como nós também não o podemos. Que pensamento estimulante é o fato de que Jesus pode encontrar conforto em nossas pobres e frágeis graças! Tal pensamento parece excelente demais, para ser verdade! Certamente procuraríamos o sofrimento ou até mesmo a morte, se por meio deles pudéssemos deixar contente o coração de Emanuel. Oh, que nosso coração seja reduzido a átomos, se apenas por meio desta pisadura nosso doce Senhor Jesus puder ser glorificado. Graças não exercidas são como doces perfumes inativos nas flores. A sabedoria do sublime Esposo faz com que das aflições, bem como das consolações, brotem fé, amor, paciência, esperança, resignação, alegria e muitas outras flores lindas do jardim. Que saibamos, por agradável experiência, o que isto significa!

segunda-feira, 20 de março de 2017

Os Efeitos Positivos do Pecado - Paulo Junior


IDEOLOGIA DE GÊNERO: UMA QUESTÃO TEOLÓGICA E BIOPOLÍTICA

Em toda história da Igreja Cristã podemos pontuar vários ensinos contrários ao que a igreja professa. Isso é um fato inegável. O Cristianismo sempre sofreu oposição ideológica. A Ideologia de Gênero que tem sido pauta para os últimos debates sócio-educacionais é um assunto que precisa ser refletido com seriedade pela igreja e não pode ser ignorado, pelo simples fato de ser uma proposta alteradora do modelo bíblico para a sexualidade humana, a saber, homem e mulher (Gn 1.26-28). Ao me referir ao discurso hipermoderno sobre gênero, estabeleço uma ligação própria com a heresia, o termo usado por heresia é o que a Igreja tem professado no decorrer dos séculos, uma distorção da verdade declarada nas Escrituras de forma axiomática. A heresia é um desfoque da fala divina, é uma corrupção do ensino bíblico; e questão do gênero defendida por correntes psicológicas, antropológicas e sociológicas é uma distorção clara e confrontadora do que diz a Bíblia a respeito do homem e da mulher e de seu comportamento sexual[i].

De fato e de verdade, as teorias relativas à ideologia de gênero (também conhecidas como teoria queer ou gender) são desdobramentos de ideologias sociais referentes ao feminismo[ii], homossexualidade e demais distorções do comportamento sexual humano. O processamento de tal ideologia na sociedade é desastrosa e extremamente prejudicial. Crianças de ambos os sexos usarem o mesmo banheiro na escola? Deixar que a criança descubra suas inclinações sexuais sem nenhum molde – seja da religião, seja da moral vinda dos pais, seja de um padrão social ocidental – é uma violação da liberdade e não uma proclamação da liberdade. A intenção claramente é destruir a autoridade estabelecida, e isso é quebra do quinto mandamento descrito no decálogo. É força empregada por ideologias de gênero, obviamente ligadas a questões de hegemonia nas ideias biopolíticas. É um poder ideológico que dá cabo a uma guerra cultural para erradicação da moralidade cristã estabelecida no Ocidente. É um desmonte cultural em relação à função do homem e da mulher na sociedade e uma nova formulação da ideia de família, obviamente contrária a Palavra de Deus.

De um ponto de vista teológico podemos dizer que a ideologia de gênero é uma negação da realidade, uma negação da verdade e uma negação da autoridade. A realidade de que a criança nasce com um sexo e gênero é o sinônimo e não algo a ser escolhido, essa negação da realidade é uma violação do mandato social descrito em Gênesis 1. Onde lemos que o homem e a mulher deveriam procriar, assim a humanidade só se multiplicaria pelo cumprimento do mandato social, e para que isso acontecesse a sexualidade criada por Deus deveria ser cumprida como no plano original do Criador e não no exercício da homossexualidade ou na neutralidade do sexo. Deus criou o homem para se relacionar sexualmente com a mulher e não com outro homem (Rm 1.24-27). O feminismo em seu formado agressivo de desestabilização da autoridade masculina e exaltação da independência da mulher de toda opressão do sexo oposto também é uma distorção do que dizem as Escrituras sobre o papel da mulher no casamento e o papel do marido (veja Ef 5. 22-33), a submissão da mulher ao marido é estabelecida pelo próprio Deus em sua Palavra e todo ensino contrário é uma afronta a vontade do Criador.

É triste observarmos quietos a invasão diabólica de tal ideologia, que em muitos casos é inserida em materiais didáticos e paradidáticos aprovados pelo MEC. A ideologia de gênero tem sido subliminarmente colocada nestes materiais, demonstrando o tamanho da covardia e sordidez de gente que se diz educador e implanta monstruosamente na mente de crianças, padrões de reconstrução moral e social[iii]. Obviamente, nosso objetivo aqui não é examinar historicamente e exaustivamente a questão da ideologia, mas, direcionar para uma pesquisa mais ampla, diga-se de passagem, urgente principalmente para pastores, pais e professores cristãos.

A urgência e a importância de refletirmos a partir de uma visão teológica sobre o assunto é sem precedentes, nenhum cristão que esteja envolvido nos campos de conhecimento está autorizado pela Palavra de Deus a pensar autonomamente sobre quaisquer assuntos envolvendo a criação de Deus. Com isso não estou defendendo a falta de liberdade científica, mas, pontuando um princípio cristão (1 Co 10.31) que tudo que fazemos deve ser para a glória de Deus. Nossa teologia deve atender a questões sociais e devemos cultivar uma mente bíblica para o exercício de uma cosmovisão redentora, uma percepção de mundo que aponte para Cristo, o Cristo total, o Cristo que é um cerne da teologia, da revelação, da Criação e da ordem devida ao mundo criado.

Desenvolvermos uma reflexão social a partir de bases bíblicas e teológicas é ordem das Escrituras (Êx 20.1-3). O professor Felipe Nery, fundador do Observatório Interamericano de Biopolítica relata em um de seus artigos que “... na Alemanha. Dois pais são presos por não permitirem que seus filhos compareçam às aulas de sexo na escola”. E continua:

O caso dos pais presos na Alemanha por não aceitarem que sua filha fosse doutrinada pela cartilha de “gênero” ilustra bem a índole dos promotores da nova moral mundial. Trata-se de um grupo claramente totalitário. Embora use com frequência termos como “liberdade”, “tolerância” e “diversidade”, aqueles que ousam discordar de suas teorias mirabolantes são imediatamente punidos, ora por meio da mentira e da difamação, ora por sanções legais – como é o caso de Eugen e Luise Martens.
A atitude desse casal, no entanto, não é uma simples “reação”, como se os dois estivessem preocupados apenas em “desmascarar” a ideologia de gênero, ou fossem meros soldados preocupados em matar o inimigo. Talvez, Eugen e Luise Martens, pais de nove filhos, nem se interessassem muito por toda essa discussão, por essa que é realmente uma guerra cultural. A situação com que se depararam, no entanto, obrigou-os a agir. Não por ódio ao adversário, mas por amor àquilo que tinham de mais valioso: os seus filhos[iv].

Felipe Nery completa dizendo:

Algum pai poderia imaginar-se na mesma situação? A escola do próprio filho, que ele criou com tanto amor, dedicação e cuidado, querendo incutir em sua mente toda “variedade” de práticas sexuais... O que fazer? Qual atitude tomar? Ora, o gesto de Eugen e Luise parece bastante compreensível. É o mínimo que qualquer pai e qualquer mãe podem fazer para preservar a integridade e a pureza de seus filhos. Contudo, o Estado quer essas crianças para si, quer educá-las do “seu” jeito, quer implantar nelas as suas ideias, ainda que sejam essas, absurdas, citadas acima. É o que alguns parlamentares também absurdamente defendem, quando trabalham pela implantação da ideologia de gênero em nosso país. Filhos doutrinados, pais encarcerados – é este o futuro de uma nação que mina a célula-base da sociedade, a família, e entrega as suas crianças nas mãos do Estado. Eugen e Luise Martens representam a resistência dos homens de bem de todo o mundo, que não querem ver os seus filhos sequestrados de suas mãos, para serem manipulados por um Estado imoral e por uma ideologia depravada. Eugen e Luise lembram, com sua atitude, que os pais, por serem os transmissores da vida aos filhos, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores, e que essa função é essencial, insubstituível e inalienável. Eugen e Luise não negam a importância da educação sexual, mas recordam que esta deve ser dada fundamentalmente pelos pais, e não em oposição aos seus princípios e valores[v].

Portanto o que nos resta quanto cristãos? Com certeza, não um conformismo com tamanha calamidade moral e social que nos cerca, não um isolacionismo irresponsável para com nossa confissão de fé e para com a missão que nos foi dada (Rm 12.1-2). Finalizo com um grandioso texto da Escritura que me faz refletir sobre nossa postura:

"Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo..." (2 Coríntios 10:5)