Semeando o Evangelho

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Semear a Verdade e o Amor de Deus

sábado, 27 de janeiro de 2018

Devocional Do Dia - Charles Spurgeon

Versículo do dia: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças. (Eclesiastes 9.10)

Tudo quanto te vier à mão para fazer refere-se a obras que são possíveis. Existem diversas coisas que vêm ao nosso coração para fazermos e que nunca faremos. Tudo bem que elas estejam em nosso coração, mas se desejamos ser eminentemente úteis, não devemos nos contentar com o formular planos em nossa mente e o conversar sobre eles. Temos de fazer “tudo quanto nos vier à mão para fazer”. Uma boa realização vale mais do que milhares de teorias brilhantes. Não esperemos por grandes oportunidades ou tipos diferentes de trabalho; antes, façamos apenas as coisas que nos vêm à mão, dia após dia. Não temos outro tempo para vivermos. O passado já se foi; o futuro ainda não chegou. Temos apenas o presente para vivermos. Portanto, não espere até que sua experiência atinja a maturidade, antes que você tente servir a Deus. Empenhe-se agora mesmo para produzir frutos. Sirva a Deus agora, mas seja cuidadoso quanto à maneira de fazer o que vem às suas mãos – “faze-o conforme as tuas forças”. Faça-o com prontidão. Não desperdice sua vida pensando no que você tenciona fazer amanhã, como se isso pudesse compensar a inatividade de hoje. Nenhum homem jamais serviu a Deus mediante o que será feito amanhã. Honramos a Cristo por aquilo que fazemos hoje. Coloque toda sua alma em tudo que fizer para Cristo. Não dê a Ele um simples trabalho ordinário, feito como uma coisa que pode esperar. Quando servir a Deus, faça-o de todo coração, alma e força. Onde está o poder de um crente? Não está nele mesmo, pois ele é fraqueza completa. O poder do crente está no Senhor dos Exércitos. Procuremos, então, a ajuda do Senhor. Prossigamos com oração e fé. Quando tivermos feito o que nos veio à mão, esperemos pela bênção do Senhor. O que fizermos, então, será bem feito e não falhará em seu propósito.

Oração uma necessidade individual e coletiva - Comunidade Cristã de Londrina


A TRIUNIDADE DE DEUS (3/4)

Por Heber Carlos de Campos

d. Fundamento teológico da doutrina da Trindade

Significado de essência e pessoa
Este é um dos aspectos mais difíceis de serem explicados na teologia cristã. Ele ultrapassa toda a lógica e raciocínio, pois trata do ser mais interior de Deus, que não pode ser compreendido, embora possa ser conhecido segundo ele se revela. Poucas coisas Deus deu a conhecer acerca da Trindade. Como já vimos, as Escrituras afirmam a existência das três pessoas, mas não nos dá nenhuma indicação que nos ajude a entender a verdadeira natureza das mesmas, nem exatamente como se relacionam.

O significado de essência
A palavra grega ousia (essência, substância), que foi usada nos credos primitivos da igreja para designar o ser divino, passou a ser entendida, na história da teologia, como sinônimo de physis (natureza). Todavia, esse uso foi objeto de crítica por ser derivado de phynai, que dá a ideia do ser que vem à existência, assim como a palavra “natura” é derivada de “nasci”.

Mesmo a despeito da crítica acima, foi esse o significado que prevaleceu historicamente. A palavra “natureza”, portanto, tem sido a mais comum e constante para indicar a essência divina. Ela fala daquilo que Deus é, mas nada diz a respeito do seu caráter tripessoal. Isso tem a ver com uma outra palavra técnica usada pelos teólogos: subsistência. A palavra “natureza” diz respeito ao que é comum nas três pessoas da Trindade, e não à particularidade de cada uma delas. Há uma só essência (ou natureza) em Deus, que é compartilhada pelas três pessoas.

Em 2Pe 1.4, as Escrituras usam a palavra physis para falar de algo que Deus é. Por essa razão, na teologia a palavra técnica ousia é tomada como sinônima de physis. Pedro diz que todos nós “somos co-participantes da natureza divina”. Em que sentido podemos entender essa afirmação de Pedro? Bavinck diz que existe alguma analogia entre a natureza divina e a humana. Há em nós reflexos do que Deus é, especialmente naqueles de nós que somos remidos por Cristo, porque a sua imagem está sendo gerada em nós. Há uma semelhança não de essência, mas de comportamento, que espelha o Criador. Consequentemente, por causa da imagem de Deus que está sendo restaurada em nós, temos uma noção clara de quem ele é, e podemos falar da sua natureza.

Todavia, quando falamos da natureza humana e da divina, temos que fazer as distinções devidas. Nós dois, o escritor e o leitor deste estudo, somos da mesma natureza – a humana. Essa natureza está presente em nós dois, e em cada membro da raça. Cada um de nós compartilha dessa natureza, mas de modo diferente que em Deus – as pessoas da Trindade compartilham da natureza divina. A natureza humana está presente em cada um de nós, porém de modo finito. Somos participantes da mesma natureza (physis), mas não somos numericamente um indivíduo. Ao contrário, somos indivíduos distintos e separados. Todavia, isto não pode ser dito do Ser divino.

Cada uma das pessoas da Trindade compartilha da mesma natureza, a divina. Contudo, essa natureza não somente está presente em cada uma delas, mas em cada uma delas ela é numericamente uma e a mesma. Portanto, as pessoas da Trindade são distintas, mas não separadas. Essa natureza divina está presente na sua totalidade em cada uma das pessoas, e em todas coletivamente.

Por essa razão, não obstante haver três pessoas que subsistem distintamente no ser divino, há uma só vontade, uma só mente e um só poder. A natureza de Deus aponta para a sua unidade, que é muito enfatizada pelas Escrituras.

Em nós, seres humanos, há uma natureza da qual todos compartilhamos. Somos também pessoas distintas, mas a grande diferença é que não somos numericamente um. Somos indivíduos distintos. Todavia, não é assim com Deus. Ele subsiste em três pessoas distintas, mas não separadas. Ele é numericamente um. Essa é a grande e infinita diferença que existe na maneira como todos os seres humanos partilham da mesma natureza e no modo como as pessoas da Trindade partilham da mesma natureza divina: é a unidade do ser divino, que não existe em nós.

O significado de pessoa
Enquanto o termo essência (ou natureza) aponta para a unidade de Deus, o termo pessoa (ou subsistência) aponta para as distinções que existem no Ser divino.

O maravilhoso mistério que existe no ser divino é que a sua unidade não exclui a sua distinção ou diversidade A sua natureza permite que Deus exista tripessoalmente, sem que isso afete a sua unidade, embora não possamos explicar esse fenômeno, pelo fato de ele ultrapassar o nosso entendimento.

A palavra grega usada para expressar “pessoa” na igreja oriental foi prósopon. Mas o seu sentido era ambíguo. Sabélio a interpretou como que significando “manifestações”, dando origem ao sabelianismo, que tratou dos “modos ele manifestação” de Deus e não das pessoas do Ser divino. Usou-se também a palavra grega hypóstasis (que significa fundamento, subestrutura. firmeza. aquilo que existe na realidade), mas a palavra prósopon prevaleceu. Na igreja ocidental, usou-se a palavra latina persona (que significa máscara, o papel que um ator representa – daí a palavra “personagem”). Em teologia, a palavra persona veio a significar a “condição, qualidade, capacidade na qual a pessoa funciona”. No Ocidente prevaleceu a palavra persona (que foi a tradução de prósopon) ao invés de hypóstasis, porque não havia em latim uma palavra que fosse uma tradução adequada desta última. Afinal as palavras hypóstasis e prósopon vieram a significar a mesma coisa.

Bavinck diz que até o tempo de Atanásio e dos três capadócios, “na linguagem da igreja o sentido de autoexistência, hypóstasis, subsistência, individualidade subsistente e suppositum tornou-se a característica essencial do termo prósopon ou pessoa”. Posteriormente, depois das controvérsias cristológicas, a palavra persona veio a adquirir uma conotação ainda mais específica. Urna pessoa era aquela que possui uma substância individual de natureza racional. Portanto, de acordo com essa ideia, uma pessoa é quem possui autoexistência e racionalidade ou autoconsciência. Se essa definição é correta na sua totalidade, os seres humanos não podem ser considerados como pessoas, porque eles não possuem autoexistência, apenas autoconsciência, que os difere dos animais. “Na doutrina da trindade, a palavra ‘pessoa’ simplesmente expressa a verdade de que as três pessoas da Deidade não são simples modos de manifestação, mas possuem uma existência real e distinta.” A preocupação das definições dos pais não era explicar o inexplicável, mas negar a doutrina unitária dos sabelianos. Na verdade, a grande dificuldade está na explicação da subsistência tripessoal na unidade do Ser divino. Essa é a grande e insolúvel questão!

A única coisa que podemos dizer é que Deus possui mais do que um modo triplo de existência. São realmente três pessoas distintas que coexistem ou subsistem no Ser que é numericamente um. Não são três indivíduos separados, mas um só indivíduo subsistindo em três personalidades distintas, sem serem separadas. Todas as três constituem o Deus único, vivo e verdadeiro. O Ser divino, por causa da sua infinidade, eternidade, poder, etc., exige ser da forma que é, tripessoal, sem que nos seja possível penetrar os mistérios da natureza interior de Deus.

Atanásio e os três pais capadócios definiram as hypóstasis como ‘modos de subsistência’, e com isso eles quiseram dizer que, embora as pessoas sejam um só ser ou essência, elas diferem na maneira de “existência”.

ROMANOS 6

Após ter discorrido consistentemente sobre a obra que Jesus realizou em nosso favor para sermos justificados somente pela graça e mediante a fé nEle, nos capítulos 3 a 5 de Romanos, o apóstolo vai nos revelar adiante, se por uma lado esta justificação nos trouxe paz, reconciliação com Deus, por outro, ela abriu uma verdadeira e contínua guerra contra o pecado que habita em nossa própria natureza terrena, que apesar de já não reinar como um senhor absoluto sobre a nossa vontade, pois quem reina agora é a graça por meio de Cristo Jesus, todavia, não resta qualquer alternativa para quem foi justificado senão a de ser imitador de Deus como seu filho amado.

Foi para este propósito de nos purificar do pecado que Jesus morreu no nosso lugar, carregando sobre Si mesmo os nossos pecados e culpa, no madeiro.
É aqui, pela negligência desta verdade, que podemos entender a atual apostasia da Igreja, justamente por fazer concessões a tantas formas de pecado, pela incompreensão do fato de que por se estar debaixo da graça de Cristo, e não mais condenado pela Lei, não somos autorizados por Deus a continuar na prática do pecado. A continuarmos sendo dirigidos pela antiga natureza terrena em vez da nova que foi recebida na conversão.

O vencedor ao qual Jesus se refere nos capítulos 2 e 3 do livro de Apocalipse, é sobretudo aquele que venceu as suas paixões carnais por trazê-las constantemente crucificadas, por meio da vigilância e oração contínuas e perseverantes, num procedimento inteiramente santo, ou então que esteja aplicado na busca sincera deste objetivo. Daí ter Ele nos indicado a necessidade da crucificação diária do nosso ego carnal, pelo carregar contínuo da nossa cruz, a saber, do instrumento da mortificação dos nossos pecados.

Alguém indagará: “mas como viver uma vida de pureza num mundo tão poluído como este chamado mundo pós-moderno no qual temos vivido? Como viver uma vida de fé em verdades absolutas num mundo em que tudo é considerado como verdades ocasionais e relativas?”

Mas é justamente nisto que consiste a profecia bíblica de que este tempo do fim, seria de dias difíceis para se viver a vida cristã conforme ela convém ser vivida, porque são múltiplas e variadas as formas de tentação que guerreiam contra a alma do crente.
Contudo, ele não será aprovado por Deus se não lutar e prevalecer contra toda forma de pecado, quer em pensamentos, atos ou palavras, porque Deus não muda, e a Sua vontade e Palavra também são imutáveis. Jamais poderemos manter uma viva e real comunhão com Deus, enquanto dermos guarida ao nosso antigo senhor, a saber, o pecado, porque é ele que interrompe a nossa comunhão com Deus.

As ordenanças bíblicas para que se tenha um coração puro, um pensamento que se fixe somente em “tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” (Fp 4.8)
Há uma grande armadilha para nos conduzir ao pecado sobretudo nos meios virtuais da Internet, da TV, e em filmes, propagandas comerciais, enfim, em tudo o que nos entra pelos olhos e pelos ouvidos.
Por isso soa sobre nós constantemente a advertência do Senhor quanto ao uso que fazemos dos nossos sentidos que nos colocam em contato com o mundo em que vivemos.

“Mat 6:22-23 São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso;
se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!”

Especialmente os que são jovens, devem ter uma particular atenção e cuidado em relação a isto, fugindo sempre das paixões que são mais inerentes à mocidade.
Veja que no uso da Internet há uma possibilidade de uso seletivo das atividades que podem ser ali realizadas, mas no que se refere à TV comercial, o telespectador é um mero agente passivo das coisas que desfilarão diante dos seus olhos e ouvidos, e muitas vezes, não terá a oportunidade de escapar do laço que lhe será lançado através de uma chamada de propaganda que seja um incentivo a se contaminar com aquilo que é impuro, e que pode imprimir em sua mente padrões de pensamentos impuros, que o tornam mais vulnerável à tentação para pecar.

Há situações de escravidão tão extremas, que seria melhor nem ligar a TV, porque há uma contaminação generalizada em quase toda a sua programação, que nos leva a ficar irritados e revoltados com coisas pelas quais deveríamos estar intercedendo, como por exemplo a instigação que é feita pelos repórteres e âncoras de programas que denunciam o crime e a corrupção, e que colocam toda a culpa nos políticos e na polícia; quando bem sabemos que o mal reside no coração de toda pessoa por causa da nossa natureza pecaminosa, e os próprios meios midiáticos cooperam para este aumento da iniquidade, e assim a sociedade atual está completamente desviada dos caminhos de Deus, e então tudo o que acontece é mera consequência desta causa maior do abandono de Deus e dos Seus preceitos.

Então, não é nada fácil ter uma vida consagrada a Deus nestes dias, pois somos chamados a ser sal e luz neste mundo de trevas, sem que nos deixemos contaminar por ele.
Assim, como no dizer do apóstolo, quem quiser ser vaso de honra e idôneo para uso do Senhor, terá que se purificar de todos estes erros que nos afastam da comunhão com Deus (II Tim 2.20-22).
Não basta ter a intenção de vencer o pecado para que se possa servir a Deus de modo frutífero e aprovado, porque é possível estar bem intencionado e continuar sendo vencido pelas paixões que guerreiam contra a alma.

É recorrendo a Jesus e nos esforçando para atuar no Seu Reino que é de justiça, amor, paz, e santidade, que achamos graça e auxílio para vencermos nossas inclinações carnais, pois Ele as mortificará pelo Espírito Santo, que em nós habita, e colocará em nossos lábios uma canção de louvor ao nosso Deus, gratidão e paz nos nossos corações, e disposições santas para servi-Lo.
Ninguém se iluda portanto, pensando que seja possível ser eficazmente usado por Deus, e viver de modo que lhe seja inteiramente agradável, quando se vive ainda na prática do pecado.

E ninguém pense também que achará graça e auxílio para vencer o pecado aguardando que venha um poder inesperado do céu, sem que o busquemos, que nos vacine contra todo tipo de tentação e de inclinação carnal, pois não é assim que funciona a ação da graça de Jesus. Nós devemos caminhar na direção das coisas de Deus nos esforçando em rejeitar e evitar aquelas coisas e comportamentos que são abomináveis para Ele, e então Ele nos dará a graça e a força necessárias para vencê-las. É assim que a nossa fidelidade a Ele é provada.

E se porventura nos encontramos ainda endurecidos e com os nossos olhos vendados, de maneira a não sabermos o que é lícito ou não, o que nos convém ou não, devemos orar para que o Senhor nos revele estes pecados que ainda estão ocultos aos nossos olhos espirituais, e Ele certamente nos levará não somente a enxergá-los como também a ter verdadeiro horror desses pecados, dos quais fugiremos como quem foge de uma serpente venenosa.

Todavia devemos cuidar para não incorrermos no erro que é tão comum de confundir estas coisas com uma vida ascética, baseada no não toques, não proves, não manuseies, porque não é nisto que consiste a prática da vida cristã.
Somos ordenados a seguir a direção e instrução do Espírito Santo porque é somente por meio dEle que podemos ser ajudados e habilitados a identificar as coisas que podem estar interrompendo a nossa comunhão com Deus.
Saberemos, pelo Espírito, quando a nossa atmosfera espiritual da comunhão está ficando poluída, e assim, poderemos nos afastar das fontes que estão produzindo esta poluição, e buscar a purificação e renovação no sangue de Jesus.
Paulo prosseguiu com os argumentos relativos aos efeitos da justificação neste sexto capítulo.

Mais precisamente, tendo falado da justificação, ele iria argumentar agora a favor da consagração e da santificação, que devem se seguir ao ato da justificação.
Ele começou afirmando a necessidade da mortificação do pecado, em face de termos sido justificados, porque foi para este propósito que Deus nos justificou em Cristo, a saber, para que pudéssemos permanecer diante dEle, santos e inculpáveis; condição esta que, a propósito já foi conquistada para nós por Jesus na cruz, e na qual convém que andemos.
Jesus morreu por causa dos nossos pecados, e é pela Sua morte que somos justificados, de maneira que não faz qualquer sentido permanecer na prática do pecado, sendo vencidos por pecados, depois de termos sido justificados, porque isto corresponde a agir contra o propósito eterno de Deus relativo à nossa salvação, e contra a própria nova natureza que recebemos do alto, quando fomos regenerados pelo Espírito Santo no dia da nossa conversão a Cristo.

A morte de Jesus na cruz é considerada por Deus como sendo a morte do próprio cristão, porque foi uma morte substitutiva.
Afinal aquela morte estava destinada a nós pecadores.
Jesus não tinha pecado, havia guardado perfeitamente toda a Lei, e portanto não era digno de morrer.
Então, pôde carregar sobre Si os nossos pecados, colocando-se no nosso lugar.
Foram os nossos pecados a verdadeira causa da Sua morte, e não simplesmente a perseguição que sofreu por parte dos principais sacerdotes, escribas e fariseus.
Como Ele morreu por causa do pecado e para nos livrar da prática do pecado, como poderia ser admitido o raciocínio já que Ele justifica pecadores, que não há portanto nenhum mal em viver na prática do pecado, porque afinal a graça nos perdoará?

Esta forma de pensar é induzida pelo fato de o pecado ser tão comum na sociedade, e tão inerente à velha natureza terrena, que ainda trazemos conosco enquanto vivermos neste mundo, que parece a muitos que Deus não se importa com a prática do pecado.
Não podemos esquecer no entanto que não há um só pecado em nenhum dos seres que vivem no céu. E que Adão e Eva foram criados perfeitos sem qualquer pecado.
Então a vinda de Jesus a este mundo, encarnando num corpo como o nosso para morrer no nosso lugar, teve por propósito principal nos livrar do domínio do pecado.
Isto equivale a dizer que a vontade de Deus em relação a Seus filhos é que sejam verdadeiramente santos, e que se santifiquem cada vez mais, através do processo da santificação pelo Espírito, mediante aplicação da Sua Palavra, como Jesus intercedeu em favor dos cristãos em Jo 17.17.

Nós já fomos limpos pela Palavra do Senhor na nossa conversão, e com ela, recebemos uma expressiva santificação pela Palavra que foi implantada em nós, mas importa que nossos pés espirituais sejam continuamente purificados das contaminações que recebemos por termos que viver e andar neste mundo de trevas espirituais; além da necessidade que temos de prosseguir no crescimento na graça e no conhecimento de Jesus.
Deste modo, Deus considera todo cristão morto para o pecado, e é assim, portanto, que cada cristão deve considerar a Si mesmo, para que esteja em acordo com a visão de Deus relativamente a ele, conforme Paulo afirma no verso 2.

Os que foram batizados em Cristo, não meramente nas águas do batismo, mas no próprio Cristo, pela comunhão espiritual com Ele, foram batizados também na Sua morte, como Paulo afirma no verso 3.
Na verdade, quando somos justificados, passamos a ser identificados com tudo que há em Cristo, porque o Pai planejou que fôssemos co-herdeiros com Ele em todas as coisas, inclusive nos Seus sofrimentos.
Por isso temos uma cruz, porque Ele também teve a Sua.
Temos aflições neste mundo, porque Ele também padeceu terríveis sofrimentos e perseguições por causa da justiça do evangelho.

Mas assim como Ele tem um trono no céu, nós também teremos um trono.
Assim como Ele ressuscitou, também seremos ressuscitados.
Enfim, somos chamados a participar juntamente com Ele de todas as coisas que Lhe são inerentes.
Assim, a vida que temos neste mundo deve ser a que Ele viveu, isto é, uma vida no poder do Espírito Santo, e mortificando o pecado de nossa natureza terrena, para que Deus possa ser glorificado, como Paulo diz no verso 4.
Fomos batizados tanto na semelhança da morte quanto da ressurreição de Jesus.
Então é morrendo para o pecado, pelo ato de carregar voluntariamente a nossa cruz, que poderemos experimentar também o poder da vida ressurrecta que Ele experimentou depois da morte, como se vê no verso 5.

O corpo do pecado deve ser desfeito, a saber, o nosso velho modo de vida, e tudo aquilo que pertence à carne, ao diabo e a tudo que se opõe à vontade de Deus, que a Bíblia chama de mundo, de maneira que sabendo que o nosso velho homem foi crucificado juntamente com Cristo, não devemos viver mais servindo ao pecado, como se lê no verso 6.
A justificação do pecado aconteceu exatamente por causa do fato de estarmos mortos em relação ao nosso velho homem.
Jesus veio para que tenhamos vida abundante, espiritual e eterna.
O diabo veio para roubar, matar e destruir.

Então esta mortificação do pecado não é o grande alvo da vida cristã, porque vem chegando o dia em que já não existirá mais morte, nem mortificação do pecado, senão a nova vida que obtivemos em Cristo.
Então o propósito de mortificar o pecado é para que tenhamos a verdadeira vida celestial, espiritual e divina.
O alvo do evangelho é trocar a tristeza pela alegria.
Dar-nos uma grinalda em vez de cinzas.

Trocar o espírito angustiado pelo louvor, conforme vemos em Isaías 61.2,3.
Mas nada disso é possível, se não passarmos antes pela mortificação da carne, com as suas paixões, através da cruz, como lemos no verso 8.
Era precisamente isto que o Espírito Santo pretendeu ensinar através de Paulo neste sexto capítulo de Romanos.
Assim como Cristo morreu e ressuscitou e já não pode morrer mais, de igual modo nós, ainda que morramos fisicamente, viveremos para sempre com Ele em espírito.
E isto é verdadeiro tanto em relação à morte espiritual por causa do pecado, quanto à morte física, porque se morrermos para o pecado pelo despojamento do velho homem, com a crucificação das obras da carne, nós viveremos espiritualmente, porque acharemos a vida poderosa do Espírito do outro lado da cruz, e o nosso corpo será ressuscitado por ocasião da segunda vinda do Senhor.

De maneira que em Cristo temos vida e não morte.
O que morre é o pecado. A velha criatura.
Mas a nova criatura vive, e viverá eternamente por causa de Jesus.
É àquela mesma justiça evangélica à qual nos referimos anteriormente, no comentário do terceiro capítulo, que devemos nos consagrar depois de justificados.
Devemos saber que estamos numa nova dispensação, a saber, a da graça, a do Espírito, a da justiça evangélica, a do tempo da paciência de Deus, que tem colocado à nossa disposição todos os dons e graças necessários para a nossa santificação.
Deste modo, o cristão que não estiver se consagrando a Deus pela santificação de sua vida, está vivendo de modo contrário à Sua vontade.
Isto não é apenas uma questão doutrinária, mas uma verdade que se demonstra nas Escrituras e na vida.

Aqueles que se consagrarem a Deus experimentarão o poder santificador da Palavra e do Espírito Santo, porque o próprio Deus efetuará neles tanto o querer quanto o realizar para o desenvolvimento da salvação deles, em crescimento espiritual.
O fato de não se estar mais debaixo de uma Antiga Aliança, a da Lei de Moisés, e de se estar debaixo de uma Nova Aliança, a da graça, não é nenhum salvo conduto que estamos recebendo da parte de Deus para permanecermos no pecado, como Paulo afirma no verso 15; sob a alegação de que afinal o sangue de Jesus cobrirá todo e qualquer pecado que pratiquemos, ainda que deliberadamente.

Aqueles que entristecem e apagam o Espírito Santo deliberadamente, não podem contar com o Seu consolo e companhia, enquanto endurecidos pelo pecado.
Apesar de Paulo não detalhar todas as consequências de uma desobediência voluntária de cristãos, neste capítulo, ele colocou tudo de forma resumida no verso 16:

“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?”

Os homens que permanecem escravizados ao pecado, por não terem sido libertados por meio da conversão a Jesus, caminham inexoravelmente para a morte espiritual, porque este é o pagamento que o pecado lhes dará ao final da sua jornada nesta vida; mas os que obedecem o evangelho e creem em Jesus para ser o seu Salvador e Senhor, são justificados, e por isso diz o apóstolo: “da obediência para a justiça”.

Assim, ele se apressou em esclarecer que no caso de autênticos cristãos, é de se esperar que obedeçam de coração à forma de doutrina à qual foram entregues em decorrência de terem sido tornados participantes de Cristo, porque devem ser santos assim como Ele é santo, como se lê no verso 17.
E uma vez que, foram libertados do pecado, não devem viver mais em servidão ao pecado, mas como servos da justiça evangélica, à qual foram submetidos por causa da justificação, como lemos no verso 18.
Então ele falou no verso 19 sobre santificação em termos de usar os membros do corpo não mais para servir à impureza e à maldade, mas para servirem à justiça evangélica, com vistas à santificação.

Antes da sua conversão, o cristão estava isento da disciplina da aliança, e da exigência da santificação, porque afinal estava debaixo da ira de Deus, por não ser justificado, como se lê no verso 20.
Mas o fruto daquelas ações passadas, anteriores à conversão, são agora, motivo de vergonha, porque o fim delas culminaria na morte, como se afirma no verso 21.
Deste modo, uma vez que foi libertado do poder do pecado, pela justificação, em Jesus Cristo, e tendo sido feito servo de Deus, o cristão deve ser diligente em seu viver visando ao fruto da santificação, e por fim à vida eterna, porque é preciso perseverar até o fim para a plena certeza da salvação, e santificar-se, porque sem santificação ninguém verá o Senhor.

Se a paga que receberíamos do pecado seria com certeza a morte eterna, devemos considerar que a vida eterna é um dom gratuito por meio de Jesus Cristo, como se lê no verso 23.
Então deveríamos nos aplicar às coisas que dizem respeito a esta vida, pela santificação, e não às que são relativas à morte espiritual, e que se manifestam quando se vive na prática deliberada do pecado, negligenciando-se a necessidade da santificação da vida.
Como muito da força do velho homem foi destruído na regeneração, isto comprova que ele está destinado a desaparecer totalmente pelo trabalho da santificação que consiste pelo seu lado negativo neste despojamento do velho homem, e pelo lado positivo no ato de revestir-se do próprio Cristo.

O conhecimento e a vivência desta verdade é de crucial importância, especialmente nestes últimos dias de apostasia da Igreja, porque o Arrebatamento está às portas, e aqueles que não estiverem santificados, seguindo o exemplo das cinco virgens imprudentes da parábola, correm o risco de serem deixados para trás para enfrentarem a Grande Tribulação e entrarem no milênio sem o corpo glorificado que receberão todos os crentes que forem arrebatados pelo Senhor.

Jesus e os apóstolos nos fazem sérias e repetidas advertências na Palavra para que nos preparemos em santificação para o encontro com o Senhor entre nuvens.
Ainda que o fato de alguns não serem arrebatados não signifique a perda da salvação para aqueles que não estiverem se santificando, todavia será uma grande desonra e dano para eles não participarem juntamente com seus irmãos das Bodas do Cordeiro no céu.

Quem em sã consciência gostaria de ver a sua obra sendo queimada pelo fogo da provação de Deus, por ter sido feita com restolho e madeira, e não com prata e ouro?
Quem gostaria de deixar de ouvir no céu dos lábios do próprio Senhor o “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.”?

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,” (Heb 12.14)

FORÇA PARA O DIA

A IMPORTÂNCIA DA HUMILDADE

Andai… com toda a humildade (Efésios 4:2).

A humildade é fundamental para o crescimento espiritual e as bênçãos.

Não é segredo que os problemas familiares estão em ascensão. Maridos e esposas vivem em conflitos. Crianças se rebelam contra seus pais. Infelizmente, a maioria das soluções propostas lida apenas com as questões periféricas em vez da questão central, que é o orgulho. Nunca haverá unidade ou felicidade em uma família sem humildade.

A humildade não é apenas essencial nas famílias; também é um ingrediente básico para toda benção espiritual. O livro de Provérbios é rico com esse ensino. “Quando vem a soberba, a desgraça não tarda, mas com os humildes está a sabedoria” (11:2). “A humildade precede a honra” (15:33). “A recompensa da humildade e do temor do SENHOR são riquezas, honra e vida”. (22:4). Tiago nos diz: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (4:6). Muitas vezes esquecemos a importância da humildade.

Você sabia que o orgulho foi o primeiro pecado cometido? Um anjo chamado Lúcifer tentou exaltar-se acima de Deus: “Subirei ao céu, exaltarei o meu trono acima das estrelas e me assentarei no monte da congregação, nas extremidades do Norte. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:13-14). Após Deus o expulsar do céu, Lúcifer tornou-se Satanás, “o acusador”.

Todo pecado – seja qual for – tem orgulho em sua raiz, porque todo pecado é um desafio a Deus. O que poderia ser mais orgulhoso do que dizer: “Eu não vou seguir os padrões de Deus”? Então, ao tentar vencer o pecado, também devemos lidar com o nosso orgulho. É impossível ser salvo sem humildade. Deus não está impressionado com as credenciais. Você deve ir a Deus e dizer: “Eu sou um pecador, e percebo que não sou digno de nada”. Não há outro caminho para a família de Deus e nenhuma outra maneira de andar quando você estiver lá.

Embora você tenha lido sua Bíblia, orado, tenha ido à igreja durante toda a sua vida, ou mesmo plantou igrejas, se você não estiver caminhando com humildade, você não está andando dignamente. A caminhada piedosa começa com “humildade”.

Sugestão para a oração

Considere como o orgulho se manifesta em algumas áreas de sua vida, confesse a Deus e peça o Seu perdão.

Estudo adicional

Leia Lucas 18:9-14. Compare as atitudes do cobrador de impostos e do fariseu. Qual deles agradou a Deus e por quê?

Devocional Alegria Inabalável - John Piper

GLORIFIQUE DANDO GRAÇAS

Versículo do dia: Todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus. (2 Coríntios 4.15)

Gratidão é alegria direcionada a Deus pela sua graça. Mas em sua própria natureza, a gratidão glorifica o doador. A gratidão reconhece a sua própria necessidade e a beneficência do doador.

Assim como eu me humilho e exalto a garçonete no restaurante quando eu digo “obrigado” a ela, assim eu me humilho e exalto a Deus quando eu sou grato a ele. A diferença, é claro, é que eu, de fato, estou infinitamente em dívida com Deus pela sua graça, e tudo o que ele faz por mim é livre e imerecido.

Mas a questão é que a gratidão glorifica o doador. Glorifica a Deus. E esse é o objetivo final de Paulo em todos os seus labores: por causa da igreja — sim; mas acima e além disso, para a glória de Deus.

O que é maravilhoso no evangelho é que a resposta que exige de nós para a glória de Deus é também a resposta que sentimos ser a mais natural e alegre; ou seja, gratidão pela graça. A glória de Deus e a nossa alegria não estão em competição.

Uma vida que dá glória a Deus por sua graça e uma vida de profunda alegria são sempre a mesma vida. E o que as faz uma é a gratidão.

Devocional Do Dia - Charles Spurgeon

Versículo do dia: Para proclamar libertação aos cativos. (Lucas 4.18)

Ninguém, exceto o Senhor Jesus, pode outorgar libertação aos cativos. A verdadeira liberdade vem tão-somente dele. É uma liberdade outorgada com justiça, porque o Filho, o herdeiro de todas as coisas, tem o direito de tornar os homens livres. Os santos honram a justiça de Deus, a qual lhes garante, agora, a salvação. É uma liberdade que foi comprada por um preço elevado. Cristo a manifesta pelo seu poder, mas a comprou pelo seu sangue. Você fica livre porque Ele suportou o seu fardo em seu lugar. Você é colocado em liberdade, porque o Senhor Jesus sofreu espontaneamente em seu lugar. Entretanto, apesar de comprada a preço elevado, Ele gratuitamente dá a salvação. O Senhor Jesus nos encontra vestidos de pano de saco e assentados na cinza e nos ordena a vestirmos as lindas roupas da liberdade. Quando Jesus liberta, a liberdade é dada perpetuamente. Que o Mestre me diga: “Cativo, eu o libertei”, e assim será para sempre. Satanás pode fazer planos para nos escravizar, mas, se o Senhor está ao nosso lado, a quem temeremos? O mundo com suas tentações pode procurar nos enredar; contudo, maior é Aquele que é por nós do que aqueles que são contra nós. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8.31). Nossos próprios corações enganosos podem perturbar-nos e aborrecemos. Mas Aquele que começou a boa obra em nós há de completá-la e aperfeiçoá-la até ao final (ver Filipenses 1.6). Os adversários de Deus e os inimigos do homem podem juntar suas hostes e se aproximar contra nós com fúria intensificada, mas se Deus absolve, quem nos condenará? (ver Romanos 8.34). A águia que ascende até seu ninho de pedra, e posteriormente, voa além das nuvens não é mais livre que a alma que Cristo libertou. Se não estamos mais debaixo da Lei, e sim livres da sua maldição, a nossa liberdade deve ser revelada, de modo prático, em servirmos a Deus com gratidão e regozijo. “SENHOR, deveras sou teu servo, teu servo, filho da tua serva; quebraste as minhas cadeias” (Salmos 116.16). Senhor, que desejas que eu faça?

O Espírito Santo e nossa responsabilidade perante Ele - Comunidade Cristã de Londrina


A TRIUNIDADE DE DEUS (2/4)

Por Heber Carlos de Campos

c. Base histórica da doutrina da Trindade

A doutrina da Trindade experimentou um desenvolvimento já nos primeiros séculos da igreja cristã, pois as controvérsias sobre a natureza das pessoas trinitárias gerou uma formulação mais elaborada no Credo Apostólico e nos credos subsequentes dos primeiros concílios ecumênicos, como o de Nicéia (325), o de Constantinopla (381) e o credo de Atanásio.

A história da doutrina da Trindade foi mais importante e significativa nos períodos das controvérsias em torno do Monarquianismo,79 do Arianismo e do Macedonianismo.

AS CONTROVÉRSIAS TRINITÁRIAS DO MONARQUIANISMO
Houve dois tipos de monarquianismo na história da igreja. O monarquianismo sempre esteve ligado a controvérsias a respeito da pessoa de Cristo, pois foi uma tentativa de explicar o elemento divino em Cristo, mas sem cair no erro do triteísmo. Todo monarquianismo era unitário, isto é, cria na existência de um só Deus, porém unipessoal, não tripessoal. Sempre tentou-se mostrar que há um Deus somente, mas a dificuldade era mostrar como poderia haver três pessoas em uma só essência numérica.

Os dois tipos de monarquianismo foram conhecidos como Modalista e Dinâmico.

a. Monarquianismo modalista

Esse monarquianismo também foi chamado de Sabelianismo na igreja oriental e Patripassianismo na ocidental. Teve como expoentes Noeto (c. 200), Práxeas (c. 200) e Sabélio (c. 215), todos eles em Roma.

O monarquianismo modalista possuía uma tendência docética em sua cristologia. Para essas pessoas, Cristo não era realmente homem, mas tinha aparência de homem. A tendência desse tipo de modalismo era apresentar Cristo como divino, mas não uma pessoa distinta do Pai e do Espírito Santo. Todavia, não há nenhuma preocupação no modalismo de mostrar a sua humanidade. Portanto, todo monarquianismo modalista vai negar, em algum grau, a humanidade de Cristo.

Há alguns pontos claros no monarquianismo modalista:

1) Deus é essencialmente um. O monarquianismo modalista começa com a unidade de Deus, afirmando um só Deus, mas também uma só pessoa. Nega, portanto, a sua tripersonalidade.

2) A Trindade é vista somente de maneira revelacional ou econômica. Deus revelou-se de três modos diferentes ou agiu de três modos diferentes. Não existe a Trindade essencial ou ontológica.

3) Pai, Filho e Espírito Santo não são pessoas, mas modos de manifestação ou modos de revelação do Ser divino. Eles não são co-eternos, mas sucessivos cronologicamente.

4) O primeiro modo de manifestação é o Pai, na criação e na doação da lei ao seu povo; o segundo modo de manifestação é o Filho, na encarnação; e o terceiro modo é o Espírito, na regeneração  e na santificação. Nunca os três modos aparecem simultaneamente na história da revelação, mas sucessivamente.

b. Monarquianismo dinâmico

O monarquianismo dinâmico teve como expoente Paulo de Samosata (260). Em contraste com o monarquianismo modalista (que nega a plena humanidade de Cristo), este tem uma tendência ebionita, pois começa por negar a divindade essencial de Jesus Cristo.

Há algumas proposições básicas nesse tipo de monarquianismo que justificam a sua designação como “dinâmico”. Não se deve esquecer que todo tipo de monarquianismo  é unitarista:

1) Deus é essencialmente um, mas também é uma só pessoa. Como é típico do monarquianismo, o fundamento essencial é o unitarismo e não o trinitarismo. Há uma monarquia (mono+arche), isto é, o governo de uma só pessoa e uma só essência.

2) O Logos (Filho) e o Espírito não são pessoas divinas distintas. O Espírito é um atributo, uma espécie de dynamis (poder) de Deus, um atributo impessoal em Deus. O Filho não é ontologicamente Deus, mas recebe o dynamis de Deus na sua experiência do batismo, sendo elevado a uma categoria divina. Portanto, é chamado monarquianismo dinâmico porque o homem Jesus recebe o dynamis de Deus e é elevado a uma posição que não possuía antes.

Dessa forma, Paulo de Samosata assevera que o Logos vem a ser homoousios (da mesma essência) ou consubstancial com o Pai, mas o Logos não é uma pessoa distinta da divindade. Paulo de Samosata entendeu o termo “ousia” no sentido de pessoa, e não de natureza ou essência. Portanto, no seu pensamento, o Logos é uma pessoa com o Pai, sendo da mesma “ousia”. O seu uso de homoousios veio a significar que o Logos (Filho) foi uma única pessoa com o Pai, negando, assim, a Trindade. O Logos poderia ser identificado com Deus porque existia nele da mesma forma que a razão existe no homem. O Logos é, portanto, um poder impessoal presente em todos os homens, mas particularmente no homem Jesus.

No ano 268, o Sínodo de Antioquia rejeitou esse termo “ousia” com o senti­do que Paulo de Samosata lhe deu. O Concílio de Nicéia, em 325, usou o termo homoousios no sentido de essência, não de pessoa, para combater Ário. Observe-se que o Concílio de Nicéia ordenou o rebatismo dos seguidores de Paulo de Samosata e, dessa forma, tratou-os como não cristãos por causa do seu unitaris­mo. Isto é, eles negaram a doutrina da tripersonalidade em Deus. É bom lembrar que a Escola de Antioquia, Ário e Nestório tiveram a mesma tendência de Paulo de Samosata.

3) Jesus Cristo é adotado como o Filho de Deus. Originalmente, Jesus era um mero homem. No momento do seu batismo, o dynamis de Deus, que é o Espírito,  desceu  sobre ele em forma de pomba e qualificou-o para sua tarefa especial, de tal modo que ele podia realizar milagres e tinha outros poderes. É bom ter-se em mente que o Logos (dynamis ) morou  em Jesus como em um templo. Assim, quando o dynamis desceu sobre Jesus, este tornou-se um Filho de Deus adotado, em virtude de sua qualificação especial  através do Logos, e em virtude da obra realizada por ele.

A divindade de Jesus Cristo é, todavia, uma divindade de honra, de adoção, mas não uma divindade essencial. A deificação de Jesus Cristo ocorre por graça. Há divergência entre os estudiosos sobre se essa deificação foi completada no batismo ou na sua ressurreição. O Logos progressivamente penetrou a natureza humana de Jesus Cristo e esteve presente nele mais plenamente do que em qualquer outro ser humano. Assim, ele é digno da honra divina. Todos os monarquianistas dinâmicos são adocionistas.

Portanto, a cristologia de Paulo de Samosata evita que haja uma tripersonalidade em Deus, afirmando o seu monarquianismo, isto é, a sua ideia de um só princípio, uma só pessoa.

AS CONTROVÉRSIAS TRINITÁRIAS DO ARIANISMO
O originador do movimento conhecido como arianismo foi Ário (250-336), um presbítero de Alexandria que por volta de 318 tornou-se adversário teológico do seu bispo, Alexandre (t328). Ário teve como grande apoiador, fora dos limites do Egito, o grande Eusébio de Nicomédia (t342), o primeiro bispo pro­ eminente   da  era  constantiniana.

Para Ário, Deus era “não-gerado, único eternamente, o único a possuir imortalidade, o único sábio, o único bom, o único soberano”. Esses elementos que eram parte da sua essência não poderiam, de forma alguma, ser atribuídos a outra pessoa sem cair no erro do politeísmo. Para Ário, somente o Pai era verdadeiramente Deus. Como unitário que era, Ário rejeitou a doutrina da Trindade.

Eis alguns pontos da sua doutrina cristológica:

1) Deus somente é sem começo, não-gerado, não-originado. Este é o sentido de eterno para Ário.

2) Deus não foi eternamente Pai. Houve um tempo em que ele era só. Deus veio a ser Pai somente quando criou o Filho.

3) O Filho é originado, o unigênito, o primogênito. O Filho, portanto, teve um começo. Houve um tempo em que ele não era. Antes de sua geração ele não existia.

4) O começo do Filho foi uma criação a partir do nada, antes da existência do mundo material. O Filho foi criado pelo poder e pela vontade do Pai. A expressão usada por Ário de que ele foi “sem começo” deve-se à expressão contrária usada por seu adversário, o bispo Alexandre, que havia dito que assim como Deus foi “sempre o Pai”, o Filho foi “sempre o Filho”.

5) O Filho, embora criado, veio de cima. Era considerado como uma criatura especial para exercer uma função específica. O Filho veio a tornar-se o cria­dor do Espírito e do universo físico. A razão da criação do universo ser obra do Filho é porque, na visão de Ário, o universo não poderia ter vindo imediatamente da mão de Deus. Assim, o papel mais importante de Cristo era ser o servo de Deus na obra da criação. Dessa forma, vindo diretamente da mão de Deus, para exercer a obra da criação, Cristo veio de cima. Nesse sentido, a cristologia de Ário é considerada “from above” (que vem de cima).

6) Portanto, o Filho não é verdadeiramente Deus. Ele não é homoousios, co­-essencial ou consubstancial com o Pai. Jesus Cristo é um tertium quid, um ser intermediário; todavia, em vista de seus méritos previstos e em vista da sua futura glória ele é chamado de Filho de Deus e venerado pelos homens. Nesse sentido, a cristologia de Ário é adocionista.

Portanto, com essa visão de cristologia, Ário anula a doutrina da Trindade, pois o Filho não é essencialmente Deus.

O arianismo foi condenado no Concílio de Nicéia, em 325, mas não ficou morto. Ele sobreviveu subterraneamente nas três décadas seguintes e teve um fortalecimento entre os anos 353 e 378, porque nesse tempo teve apoio imperial. Seu declínio ocorreu ao perder o apoio real, em 378, e com o Concílio de Constantinopla, em 381, que sustentou e fortaleceu a ortodoxia afirmada em Nicéia.

AS CONTROVÉRSIAS TRINITÁRIAS DO MACEDONIANISMO
Em contraste com os monarquianos e os arianos, a questão do macedonianismo tem a ver com a divindade do Espírito. Atanásio havia afirmado que o Espírito Santo era homoousios (da mesma essência) com o Pai, no que teve o apoio dos pais capadócios. Fazendo isto, em 362, no Concílio de Alexandria, Atanásio assegurou a doutrina de que o Espírito não era uma criatura do Filho, como ensinaram os arianos, mas que era inseparável do Pai e da mesma substância dele. Essa asserção era necessária porque havia alguns que ensinavam que o Espírito era uma espécie de “energia” de Deus, e não uma pessoa divina, em igualdade com o Pai.

Os opositores da plena divindade do Espírito Santo ficaram conhecidos como macedonianos (ou pneumatomaquianos, “lutadores contra o Espírito”). A primeira designação, que ficou em voga após o ano 380, lembra o nome de Macedônio, bispo de Constantinopla, que foi deposto pelos arianos em 360, mas historicamente não há nada que indique que ele tem algo a ver com os macedonianos.

O segundo nome, pneumatomaquianos, refere-se àqueles que provavelmente Atanásio tinha em mente quando insistiu sobre o fato de o Espírito ser homoousios com o Pai.

ROMANOS 5

Paulo não encerrou ainda o assunto da justificação pela fé, mas começou este quinto capítulo mostrando que já havia apresentado uma ampla definição sobre o modo da salvação que é mediante a justificação.
Agora ele vai começar a falar dos efeitos desta justificação pela graça, mediante a fé.

O primeiro deles é que por meio dela fomos resgatados da maldição da Lei, que afirma que é maldito de Deus todo aquele que não cumpre perfeitamente todos os seus mandamentos, e por conseguinte, somos livrados também da ira de Deus contra o pecado.
Enquanto o homem não é justificado, Deus permanece em guerra contra ele. Mas uma vez justificado, a guerra termina, porque é reconciliado com Deus por meio de Jesus, de maneira que se diz que agora desfruta de paz com Ele, em vez de se encontrar sujeito à Sua ira que se manifestaria certamente no dia do juízo, sujeitando-o a uma condenação eterna.

Por meio da justificação o cristão passa a participar da graça do evangelho, na qual ele estará firmemente seguro por causa da obra perfeita de redenção que foi feita em seu favor por Jesus.
Isto significa que ainda que ele venha a decair da graça, pela prática de pecados eventuais, esta queda nunca será numa forma final e definitiva, porque foi transformado em filho de Deus, por meio da justificação.

É a justificação que abre também para nós a esperança firme e segura de que participaremos da glória de Deus, como Paulo afirma no verso 2.
Mas os efeitos da justificação não param por aí, porque uma vez sendo transformados em filhos de Deus, passamos a contar com a assistência da graça, a qual nos fortalece e ampara nas tribulações pelas quais a nossa fé é colocada à prova, para que possa crescer.
De maneira que isto não é para motivo de tristeza, mas para se dar glória a Deus, porque prova que de fato nos tornamos Seus filhos, e que agora estamos sendo aperfeiçoados por Ele através das tribulações, para que aprendamos a perseverança, a experiência e a esperança (v. 2,3).

Quando Paulo diz no verso 5 que a esperança não traz confusão porque o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado na justificação, o significado disto é que esta esperança evangélica é de plena e segura certeza do que temos recebido em Cristo, pela testificação do Espírito.
De maneira que quando alguém se converte de fato a Cristo, sendo justificado, tal pessoa não estará mais confusa acerca firmeza eterna da sua união com Deus, porque isto será aprendido através da sua paciência nas tribulações, que por fim lhe confirmarão na experiência e na esperança cristã.

E como Paulo disse nos versos 3 e 4, esta esperança será fortalecida e aperfeiçoada pelas próprias tribulações, porque veremos o poder operante de Deus em meio a elas, nos conduzindo em triunfo em Cristo, porque a fé verdadeira que salva não pode ser destruída, e não recuará diante das aflições, porque é o próprio Deus quem fortalece aqueles que são agora Seus filhos.

De modo que o apóstolo nos assegura no v. 5 que, como efeito da paciência que podemos ter pelo Espírito, nas tribulações, depois de variadas experiências disto, seremos confirmados na fé, e com esta esperança inabalável da certeza do que temos alcançado em Cristo, quanto à segurança eterna da nossa salvação, toda dúvida e confusão de mente serão banidas de nós, pela certeza do amor de Deus por nós e em nós, em toda e qualquer circunstância.

“E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (v.5)

(Veja mais detalhes sobre esperança cristã no link:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/2014/04/a-plena-certeza-da-esperanca.html)

Mas o apóstolo acrescentou argumentos ao que havia falado antes, para demonstrar que de fato a nossa esperança não é algo incerto, mas algo a respeito do qual podemos ter a plena certeza de que jamais será frustrada.
E o grande argumento que Ele apresentou é que quando Cristo morreu por nós, ainda éramos fracos e ímpios.

Não foi por pessoas santas, e perfeitas na fé, que Ele morreu, mas por pecadores fracos e ímpios (não piedosos), como éramos todos nós antes da conversão.
Então se Jesus fez isto quando estávamos nesta condição de fraqueza e impiedade, quanto mais não garantirá a nossa salvação depois de termos sido tornados santificados pela Sua Palavra e pelo Espírito Santo, e fortalecidos pela Sua graça?
Deste modo, Jesus não morreu por justos, mas por injustos.

E se demonstrou o Seu amor por nós quando éramos ainda escravos do pecado, que nada ou pouco conheciam e viviam da santidade de Deus, muito mais podemos estar certos então de que não nos deixará e desamparará depois que fomos justificados pelo Seu sangue e adotados como filhos de Deus.
Podemos então ter a certeza da esperança que seremos salvos por Ele da ira vindoura, no Dia do Grande Juízo de Deus.

Outro grande argumento é o de que Deus nos reconciliou consigo mesmo através da morte de Jesus quando éramos Seus inimigos, porque vivíamos transgredindo os Seus mandamentos e indiferentes quanto ao modo como deveríamos andar na Sua presença.
E esta condição de inimizade com Deus é decorrente da natureza pecaminosa que possuímos.
Portanto, se fomos reconciliados quando éramos inimigos, muito mais permaneceremos reconciliados depois que nos tornamos seus amigos por meio de Jesus.
Então podemos estar certos da segurança da nossa salvação por causa da vida de Jesus, que vive para interceder por nós e garantir plenamente aquilo que obtivemos como herança, por meio da fé nEle.

Mas além destes argumentos Paulo destacou no verso 11 que é um dever nos gloriarmos em Deus, isto é, tributar-Lhe toda honra e glória, pelo que é em Si mesmo, uma vez que nos permitiu alcançar a reconciliação que dá vida eterna por meio de Jesus.
A partir do verso 11 deste quinto capítulo, Paulo discorreu sobre o pecado original, para demonstrar que a causa da condenação é decorrente principalmente dele, e não somente das transgressões que cometemos diariamente.
Aqui cabe abrir um parêntesis para refletirmos devidamente, por que teria o apóstolo se referido ao trabalho das tribulações no nosso aperfeiçoamento espiritual, no nosso crescimento na graça na qual estamos firmes.

Certamente, ele não o fizera nesta passagem, simplesmente com o intuito de nos confortar em nossas provações e aflições, mas para demonstrar que o fato de estar em Jesus, a par de termos agora paz com Deus, de não sermos mais inimigos de Deus, por causa da paz obtida pela justificação que é pela graça e pela fé, abriu uma nova frente de guerra que tem em vista subjugar o nosso ego, a nos despojar do corpo de pecado – para que nos acheguemos cada vez mais à íntima comunhão com Jesus – e isto será feito sobretudo pelas tribulações, nas quais Deus, em Sua providência, provará a cada um de seus filhos, conforme as suas necessidades respectivas de transformação, para implantar neles o caráter do próprio Jesus Cristo.
Foi a isto que o apóstolo quis se referir.

Ele pretendia que nós entendêssemos que a salvação pela graça, a bênção da justificação, nos foram dadas gratuitamente por Deus, mas com o propósito de santificar as nossas vidas, de maneira que sejamos cada vez mais desmamados do mundo, por não nos conformarmos (tomar a forma) a ele, por meio da apresentação de nossos corpos como sacrifício vivo e santo no altar de Deus (Rom 12.1,2); e principalmente para nos tornar participantes da Sua santidade (Heb 12.10).

O que herdamos de Adão foi crucificado na cruz, e devemos nos despojar deste “Adão” que resiste bravamente à morte, e que pretende permanecer no controle e domínio de sua própria vontade. Assim Deus interpõe as provações para que sejamos quebrados e dependentes de estarmos unidos a Ele para que sejamos vencedores, sujeitando-nos à Sua vontade, e não mais procurando fazer com que seja a nossa própria vontade que prevaleça, porque por ela, somos mantidos escravizados às coisas que são terrenas, e não apreciamos as que são celestiais, espirituais e divinas.

Estas coisas referidas não se encontram apenas na esfera das escolhas que fazemos, mas na energia natural que opera poderosamente na nossa carne, e cujo poder é muito superior ao da nossa própria vontade. Somente a graça de Cristo é mais poderosa do que este princípio do pecado que opera na carne gerando cobiças e paixões carnais, e toda forma de rebelião à santidade que se encontra na pessoa e caráter de Deus.
Daí o único modo de se vencer o velho Adão é se sujeitando ao último Adão (Cristo), porque é somente pela eficácia operante de Sua vida em nós que todo o tipo de energia pecaminosa pode ser subjugada, e em seu lugar, ser estabelecido um novo princípio pelo qual viveremos, a saber, o poder da graça santificadora de Jesus.

Daí haver grande eficácia em se clamar a Jesus por socorro quando nos encontramos numa baixa condição espiritual, porque Ele nos prometeu tal socorro, tão simplesmente pelo arrependimento e fé nEle.
Não há outra maneira portanto, para que as nossas mentes carnais sejam renovadas em mentes espirituais, para que não julguemos segundo os homens, mas segundo a mente de Cristo, que está sendo formada em nós.
Deus sujeitou toda a humanidade à condenação por causa da transgressão de Adão.
A Bíblia diz que todos foram encerrados debaixo do pecado por causa da transgressão de Adão.

A morte entrou no mundo por causa do pecado de Adão, porque Deus lhe disse que caso comesse do fruto proibido da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele morreria, e com ele, toda a sua descendência.
E esta morte ocorreu simultaneamente ao ato da desobediência – a morte do espírito, que ficou separado da comunhão com Deus.
O grande problema do pecado original não consistiu no simples ato de desobediência em se comer do fruto proibido, mas do que aquilo representava – rebelião contra Deus e associação ao diabo. Desejo de se libertar da instrução e direção de Deus por se buscar a falsa liberdade oferecida pela Serpente, para agir segundo a própria deliberação e vontade, seguindo o impulso da natureza carnal, em resistência a toda forma de influência do Espírito Santo. Esta é a natureza do conflito que o pecado original estabeleceu no coração de todas as pessoas.

Assim, debaixo da cabeça desobediente que é Adão todos morrem, mas os que estiverem debaixo da cabeça obediente e justa de Cristo viverão eternamente.
Não se pense que não somos culpados por nossos próprios pecados, ou que somos castigados porque estamos respondendo pelo pecado de Adão, porque, afinal, não há quem não peque. E a Lei Régia do grande Juiz e Legislador afirma expressamente que qualquer ato de desobediência gera a morte.

Adão foi alertado sobre esta Lei Régia, pois Deus fizera uma aliança com ele e com toda a sua descendência, com a previsão desta pena capital que exige a morte física, espiritual e eterna de todo aquele que procurar viver desligado da fonte da Vida Eterna – o próprio Cristo.
Como o pecado entrou no mundo através de Adão então todos os homens estão mortos em delitos e pecados, porque desde então o pecado passou a reinar sobre todos; mas por meio da graça de Jesus muitos são justificados para a vida eterna no Espírito, porque os efeitos do dom da graça foram concedidos por Deus de maneira muito mais abundante do que a sentença de morte por causa da transgressão de Adão.
Porque a condenação entrou no mundo por causa de uma só ofensa, a saber, a de Adão no Éden.

Mas a justificação é imputada individualmente a cada pessoa que se converte, perdoando-lhe todas as suas muitas ofensas, como Paulo afirma nos versos 15 e 16.
De maneira que quando somos perdoados por Deus o que está sendo perdoado não é o pecado que Adão cometeu no Éden, mas os nossos próprios pecados.
Então se a morte reinou por causa da ofensa de um só homem, a saber, Adão, Deus proveu um meio para que a graça e o dom da justiça sejam muito mais abundantes, porque por meio de Cristo está perdoando muitas transgressões, de muitos pecadores (v. 17).

Mas a base da justificação está relacionada a uma só ofensa, a saber, a de Adão no Éden; e a um só ato de justiça, a saber, Cristo guardando toda a Lei e morrendo por nós na cruz.
E especificamente este um só ato de justiça significa que a justificação é atribuída de uma única vez para sempre; do mesmo modo que a imputação do pecado e da morte que lhe é consequente, foram imputados de uma vez para sempre desde a transgressão de Adão.
Então se a desobediência de Adão fez com que todos se tornassem pecadores, e estes não são poucos, porque são muitos, uma vez que diz respeito a toda a humanidade, de igual modo, a obediência de Jesus é a causa da justificação de muitos, a saber de todos os que estão unidos a Ele pela fé.

Então na justificação há uma diferença em relação à condenação quanto ao modo de imputação, porque se todos os homens são herdeiros de Adão, e estão ligados a Ele por descendência, nem todos estão ligados a Cristo, porque a união com Cristo não é natural, mas espiritual, e demanda a necessidade de conversão para que possamos nos tornar co-herdeiros com Ele.
Daí ser ordenado por Deus que se pregue o evangelho a todos, de modo que tenham a oportunidade de alcançarem a vida eterna que está em nosso Senhor Jesus Cristo.
Um dos propósitos da Lei foi para que a ofensa ficasse bem patente aos olhos dos pecadores; revelando que há abundância de pecado no mundo.

Mas pelo Seu plano de salvação Deus tem feito com que a graça seja muito mais abundante do que este pecado abundante, porque em Cristo todas as transgressões são apagadas e esquecidas, por causa da justificação.
Isto porque como o pecado reinava na vida do pecador gerando a morte, Deus estabeleceu o grande contraste fazendo com que a graça que se opõe ao pecado reine agora no lugar do pecado, por meio da justificação, para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo; de modo que quem reina agora na vida do crente é a graça, e não mais o pecado, que foi destronado da sua antiga condição de senhor absoluto no coração do cristão.
E esta graça está em Cristo, e portanto, é somente na comunhão com Ele que podemos desfrutá-la.

FORÇA PARA O DIA

COADUNE SUA PRÁTICA COM SUA POSIÇÃO

… Deus nos escolheu, nele, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele… (Efésios 1:4).

O desafio da vida cristã é equiparar cada vez mais nossa prática com nossa posição.

Deus escolheu você em Cristo para torná-lo santo e irrepreensível aos Seus olhos. Ser “santo” é ser separado do pecado e dedicado à justiça. Ser “irrepreensível” é ser puro, sem mancha ou defeito – como Jesus, o Cordeiro de Deus (1 Pedro 1:19).

Efésios 1:4 é uma declaração de posição; isto é, Paulo descreve como Deus nos vê “em Cristo”. Ele nos vê como santos e irrepreensíveis porque Cristo, nosso Salvador, é santo e sem culpa. Sua pureza é creditada em nossa conta bancária espiritual. Isso porque Deus gerou a Cristo, “que não conheceu pecado, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).

Apesar de nossa posição exaltada perante Deus, nossa prática muitas vezes está muito aquém do seu padrão sagrado. Portanto, o desafio da vida cristã é assemelhar cada vez mais nossa prática com nossa posição, percebendo que a perfeição sem pecado não virá até que estivermos nos céus totalmente glorificados (Romanos 8:23).

Como você enfrenta esse desafio? Pela oração, estudo da Bíblia e cedendo sua vida ao controle do Espírito. Comprometa-se com essas prioridades hoje à medida que você procura cumprir o grande propósito para o qual você foi chamado: “boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:10).

Sugestão para a oração

Agradeça a Deus porque Ele não espera que você ganhe a sua própria justiça, mas a providenciou em Seu Filho.

Peça ao Seu Espírito que perscrute seu coração e revele qualquer pecado que possa impedir seu crescimento em santidade. Confesse esse pecado e tome as medidas necessárias para eliminá-lo de sua vida.

Estudo adicional

Leia Filipenses 1:9-11 .

Que ingredientes devem ser adicionados ao amor cristão para produzir sinceridade e falta de culpa?

Qual é a principal fonte desses ingredientes (veja o Salmo 119:97-105)?

Que medidas específicas você vai tomar para adicionar ou aumentar esses ingredientes em sua vida?

Devocional Alegria Inabalável - John Piper

APEGUE-SE À SUA ESPERANÇA

Versículo do dia: Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta. (Hebreus 6.17-18)

Por que o escritor nos encoraja a lançarmos mão da nossa esperança? Se a nossa segurança foi obtida e irrevogavelmente garantida pelo sangue de Jesus, então por que Deus nos diz para nos mantermos firmes?

A resposta é esta:

O que Cristo comprou para nós quando morreu não foi a liberdade de nos mantermos firmes, mas o poder capacitador para isso.
O que ele comprou não foi a anulação das nossas vontades, ainda que não tivéssemos nenhuma para nos mantermos firmes, mas a capacitação das nossas vontades, porque nós desejamos nos manter firmes.
O que ele comprou não foi o cancelamento da ordem para nos mantermos firmes, mas o cumprimento desse mandamento.
O que ele comprou não foi o fim da exortação, mas o triunfo da exortação.
Ele morreu para que você fizesse exatamente o que Paulo fez em Filipenses 3.12: “Prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus”. Não é tolice, é o evangelho, dizer para um pecador fazer o que somente Cristo pode capacitá-lo a fazer, ou seja, esperar em Deus.

Assim, exorto-lhe de todo o coração: Tome e lance mão daquilo para o que você foi alcançado por Cristo, e apegue-se a isso com toda a sua força.

Devocional Do Dia - Charles Spurgeon

Versículo do dia: O SENHOR ali nos será grandioso, fará as vezes de rios e correntes largas. (Isaías 33.21)

Rios e correntes largas produzem fertilidade e abundância na terra. As terras próximas dos grandes rios são notáveis pela variedade de plantas e suas colheitas abundantes. Deus é tudo isso para sua igreja. Tendo a Deus, a igreja possui abundância. Porventura, ela pode Lhe pedir alguma coisa que Ele não suprirá? “O SENHOR dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas” (Isaías 25.6). Você quer o pão da vida? Ele cai do céu como o maná. Você quer fontes refrescantes? A Rocha acompanha você e esta Rocha é Cristo. Se você experimentar qualquer perda, a culpa é sua. Se está a sofrer qualquer deficiência, não é deficiente nEle, mas em seu próprio coração. Rios e correntes largas também nos falam de comércio. Nosso glorioso Senhor é para nós um lugar de comercialização celestial. Por meio de nosso Senhor, temos comércio com o passado. As riquezas do Calvário, os tesouros da aliança, as riquezas dos séculos antigos da eleição, e os estoques da eternidade – tudo isso vem até nós pelo rio largo de nosso gracioso Senhor. Temos, igualmente, comércio com o futuro. Quantas bênçãos e recompensas vêm até nós oriundas do milênio! Que visões temos dos dias do céu na terra! Por meio de nosso glorioso Senhor, temos comércio com os anjos e comunhão com os luminosos espíritos lavados em seu sangue, que cantam diante do trono. Melhor ainda, temos comunhão com o Infinito. Rios e correntes largas transmitem especialmente a idéia de segurança. Os rios eram uma defesa no passado. Ó, querido irmão, que defesa é Deus para a sua igreja! O diabo não pode atravessar o rio largo de Deus. Como o diabo gostaria de mudar a correnteza. Mas não tenha medo, Deus permanece imutavelmente o mesmo. Satanás pode nos preocupar, mas não pode destruir-nos. Nenhum barco a remo invadirá nosso rio; nem por ele passarão imponentes navios.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Culpa, Como lidar Com Ela? - Comunidade Cristã de Londrina


A PAZ ENTRE INIMIGOS

Por Jorge Fernandes Isah

“E por aquele mesmo tempo o rei Herodes estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os maltratar. E matou à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradara aos judeus, continuou, mandando prender também a Pedro. E eram os dias dos ázimos. E, havendo-o prendido, o encerrou na prisão, entregando-o a quatro quaternos de soldados, para que o guardassem, querendo apresentá-lo ao povo depois da páscoa. Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus. E quando Herodes estava para o fazer comparecer, nessa mesma noite estava Pedro dormindo entre dois soldados, ligado com duas cadeias, e os guardas diante da porta guardavam a prisão.” [Atos 12.1-6]

INTRODUÇÃO:

Vamos nos situar, primeiramente, no momento histórico em que ocorreram os fatos relatados neste trecho de Atos. Após a morte, ressurreição e assunção do Senhor Jesus aos céus, os seus discípulos empreenderam a “Grande Comissão” de Mateus 28.19-20:


“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”

O evangelho da graça estava se espalhando por toda a Judéia, e pelas províncias circunvizinhas, de maneira que a igreja ganhava diariamente novos convertidos do judaísmo e de outras religiões e cultos, e a revelação de Cristo, como Senhor e Salvador, o Deus-Homem, feito pecado em favor do seu povo, espalhava-se rapidamente, causando ódio e desejo de vingança entre os inimigos da verdade, os líderes de Israel, mas também entre o povo.

Nesse contexto, encontramos a Judéia governada por Herodes Agripa I, filho de Aristóbulo, nomeado rei por Calígula, um dos mais sanguinários, cruéis e depravados monarcas romanos. Agripa I vinha da linhagem de Herodes, o Grande, seu avô, cujo ódio a Deus levou-o a matar centenas de crianças em Belém [Mt 2.16], com o objetivo de eliminar o Rei dos Judeus anunciado pelos magos do Oriente. Esse homem, receoso de perder o seu trono, em sua ignorância grassa e maldade imperiosa, ordenou o infanticídio, conforme profetizado por Jeremias:

“Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto: Raquel chorando os seus filhos, E não quer ser consolada, porque já não existem.” [Mt 2.18]

Era também sobrinho de outro Herodes, o Antipas, que, para satisfazer o desejo perverso da sua cunhada [tomada para si por esposa], ordenou a decapitação de João o Batista [Mt 14.9].

Agripa provinha de uma linhagem de homens maus, ímpios governantes, que odiavam a Deus e tudo o que se relacionava a ele. Não é pois, portanto, de se estranhar o que veremos a seguir; a sua sanha, ou cruzada, contra a igreja.

Governou a Judeia e Samaria de 41 a 44 d.C.; alguns anos após a morte e ressurreição de Cristo.

A PERSEGUIÇÃO À IGREJA

Esse Herodes estendeu as mãos sobre a igreja para a maltratar. Claramente havia nele uma disposição para o mal e contra tudo o que se relacionasse com o nome do Deus bíblico, tal qual os seus antecessores. A Escritura ao dizer que ele “estendeu as suas mãos”, revela que dispôs de todos os meios ao alcance do seu poder, como governante da Judeia, para fazer valer, realizar, a sua vontade maligna. A expressão maltratar significa que tencionava fazer sofrer, infligir violência, ofender e arruinar a igreja, tratando-a brutal e cruelmente. Dessa forma, ficariam evidentes o seu desagravo para com os santos, mas também o seu poder em persegui-la. Porém, fica a pergunta: por que?

Na verdade, o mundo, como uma representação objetiva do mal a dominá-lo, e as pessoas que se entregam a ele, tem rejeição e ódio ao Deus Todo-Poderoso. Se você perguntar a qualquer ímpio se ele o odeia, via de regra, não encontraria afirmações categóricas e claras, expressões objetivas dessa ojeriza. Sejam elas pertencentes a culturas diferentes, religiões diferentes, sistemas políticos e econômicos diferentes, sentido moral e ético diferentes, negarão que odeiam a Deus, pelo contrário, dirão amá-lo [exceção seriam os ateus militantes, os materialistas ideológicos, os adoradores professos do diabo, e outros círculos a orbitá-los].

Entretanto, a qual Deus eles se referem? A um Deus genérico, sem identidade, sem pessoalidade, indefinido ou definido segundo padrões pessoais e exclusivos do próprio homem? Esse será sempre um Deus que se revelou pela criação humana, pelos delírios e imposturas humanas, jamais o Deus autorevelado e definido por si mesmo, tal qual nos deu a conhecer nas Escrituras Sagradas.

Nesse sentido, provavelmente Herodes, até mesmo ele, jamais foi capaz de dizer que odiava a Deus. Mas entre o ódio e o amor existe um abismo imenso; e a negação do primeiro não garante a profissão do segundo. Herodes pode não ter sido claro em sua relação com o Criador, mas os seus atos e vontade demonstravam inequivocamente em qual direção estava a sua alma: em inimizade completa a Deus; na direção contrária ao cumprimento da sua vontade santa.

O Deus de Herodes e do homem natural não pode ser jamais o Deus bíblico, uma vez que não há qualquer interesse ou desejo de servi-lo ou obedecê-lo, mas uma flagrante resolução de negar o seu governo, rebelando-se e fazendo de si mesmo seu senhor.

O individualismo, o egoísmo, a autoidolatria, o hedonismo, são marcas cada vez mais sedimentadas no homem moderno, que não reconhece outra autoridade a não ser a si; e acabando por guiar-se pelo mesmo caminho de morte pelo qual multidões se entregaram, desde o Éden. Caminhos divergentes da vida, e convergentes para a morte.

A respeito dessa inimizade do mundo para com Cristo e a igreja, o próprio Senhor, orando ao Pai, disse:

“Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos. Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou.” [João 17:12-16]

Não é de se estranhar, portanto, o desejo colocado em prática de Agripa I em perseguir a igreja: o ódio a Deus manifestou-se no ódio aos seus servos, aos seus representantes neste mundo. A igreja incomodava o mundo com a pregação do evangelho de Cristo; condenando o que Herodes e o mundo amavam; trazendo à luz seus pecados; apontando-lhes a vida falseada; exigindo deles mudança de direção, arrependimento, e a verdadeira adoração ao Deus verdadeiro; o que eles não queriam, e resistiam com o que lhes havia de mais intenso na alma.

Não há como negar a oposição do mundo a Deus e sua palavra, e de que esta verdade não pode ser minimizada ou anulada por uma declaração de respeito e amor por um Deus genérico, criado à imagem do homem. O próprio fato de se defenderem todas as religiões, colocando-as no mesmo balaio, e empreenderem uma cruzada contra o Cristianismo, demonstra o quão malignamente está dominada a sua vontade. A permissividade e o consentimento com religiões frontalmente inimigas da fé bíblica, as quais se empenham há séculos em destruí-la, erradica-la da face da terra, revela a inclinação e o desejo não secreto de também aniquilá-la, favorecendo, encorajando os agentes do mal a instalar uma guerra desigual, onde os meios e a força são desproporcionais e injustos, deflagrados em um campo onde os cristãos não sabem e não podem lutar, cumprindo a vontade do Mestre e Senhor, Cristo, que lhes proporcionou um poder diferente, não para a morte, mas para a vida; não para que mais sangue seja derramado, pois o único sangue necessário para a redenção e propiciação do homem diante de Deus verteu-se na cruz, santo, justo e imaculado.

A nossa guerra é espiritual, em trincheiras que o mundo não entende; e, por não entender, decidiu tornar-se inimigo da igreja, afligindo-a, perseguindo-a, incapaz de compreender o amor que move e comove o povo de Deus a levar adiante o evangelho do nosso Senhor, a fazê-lo audível e inteligível a todos, revelando a graça e favor de Cristo. Se não creram em Jesus, a despeito dos inúmeros sinais que realizou, por que creriam em nós, servos inúteis? [Jo 12.37].

Então, Herodes não resistiu a todo o ódio que havia em sua alma, levando-o a matar Tiago, um dos doze, e primeiro mártir entre os apóstolos. O texto não nos diz se o apóstolo foi martirizado diretamente pelo rei, no sentido de ser ele que desferiu o golpe mortal, mas o coloca como o principal culpado, cujas mãos estavam manchadas pelo sangue inocente. Ele era o causador e responsável por aquele crime de morte.

OS QUE SÃO DO MAL, SE AGRADAM COM O MAL

A execução trouxe ainda mais notoriedade a Herodes. O povo agradou-se¹[também responsáveis pela morte de Tiago], animando o rei a continuar com a sua perseguição implacável. O alvo agora era Pedro; o qual mandou prender, com o intuito de fazer com ele o que havia sido feito com Tiago, dando-lhe o mesmo destino.

O que poderia ter sido um ato criminoso isolado tornou-se em uma maneira de trazer para Herodes a aceitação popular. E uma forma de aumentar o seu poder e controle sobre o povo, fazendo exatamente o que ele desejava, mas que também estava em harmonia com o imperioso desejo assassino do rei. Esse mesmo povo foi quem disse no Sinédrio: “Crucifica-o!” [Lc 23.21]. Foram eles que amaram mais a glória dos homens que a glória de Deus [Jo 12.43]. Que levaram Félix a manter Paulo preso, injustamente, para satisfazê-los. E ainda Pórcio Festo, sucessor de Félix, a persistir na injustiça, tudo para agradar à massa.

Podemos fazer um paralelo com os tempos atuais? Não está, boa parte da igreja, contaminada com o mesmo desejo de satisfazer o povo? Esquecendo-se da sua missão que é não distrair ou divertir, mas de exortar, instruir e fazer discípulos de Cristo? Essa igreja não apostatou da verdade, em favor de um evangelho falso, ilusório e homicida? O qual promove definitivamente a morte do homem? A separação eterna de Deus? Por que as igrejas, onde a palavra de Deus é proclamada, são sistematicamente tratadas como reacionárias, não amorosas e irreconciliáveis? Qual razão existe entre harmonizar o mal com o bem? Cristo com demônios? [2 Co 6.15].

Pois bem, o mesmo espírito assassino presente em Herodes e no povo judeu, perpassa muitos púlpitos e assembleias onde a verdade morreu, e a vida não tem lugar. Há apenas o cheiro de morte para morte, pois a verdade não os alcança, nem produz os efeitos necessários para libertarem-se da prisão eterna em que se encontram as suas almas, inebriados pelo falso evangelho, embalados pelos mercenários da fé [2Co 2.14-17]. O culto a Deus foi substituído pelo entretenimento, por técnicas capazes de arregimentar um maior número de adeptos, não importando o quanto permanecem distantes de Deus e do evangelho, o quanto rejeitam-no, o quanto trabalham em prol das trevas, satisfazendo a carne e mantendo acorrentado o espírito. O culto virou um show, onde Cristo é honrado com os lábios, mas não com o coração. A maioria está muito mais preocupada com o seu prazer e satisfação, em ver a adoração acomodada ao seu pensamento e prática do que o serviço verdadeiro e real ao nosso Senhor. Pois o culto é serviço a Deus, e deve se realizar segundo o seu padrão e não segundo a disposição natural do homem. O que pode haver de divino em danças sensuais, corpos estrebuchando e se esfregando no chão, sons inteligíveis, gestos histriónicos e balbúrdia?

Infelizmente, quem dita a regra são os homens, para a sua perdição e desgraça, quando deveria ser a obediência sincera àquilo que nos foi dado como norma e regulador do culto. E uma adoração antibíblica e desordenada dará lugar a uma fé claudicante, no mínimo, quando não uma fé artificial e impostora, cada vez mais a enganá-lo em sua fantasiosa simulação de bem, quando é o mal imitando dissimuladamente a virtude, a santidade. Os líderes religiosos atuais se assemelham muito a Herodes, ao buscarem satisfazer os desejos deles para angariarem a si maior fama, poder, influência e domínio. E as multidões que se aglomeram nestas igrejas se parecem com os israelenses daquele tempo, vivendo por um divertimento, no desvio moral dos valores da fé cristã.

Alguém pode alegar que essas práticas não trazem problemas mais sérios, pois Deus é capaz de compreender e aceitar a nossa adoração como válida. Contudo, ele mesmo nos adverte a não transigirmos a sua vontade, ainda que sejamos bem-intencionados. Estão a nos alertar os casos de Caim, que mesmo levando a Deus o melhor dos frutos da terra, não o agradou, enchendo Caim de fúria e desejo assassino, culminando em crime e pecado [Gn 4.5-8]. Também Uzá, preocupado com o destino da Arca da Aliança, prestes a cair da carroça onde estava sendo transportada, tocou-a, quando não lhe era permitido fazê-lo, vindo a morrer imediatamente pela desobediência [1CR 13.9-10].

Note-se que os judeus comemoravam a Páscoa ou Pessach [em hebraico, significando passagem. Também chamada de Festa dos Pães Ázimos], e que se iniciava no dia 14 de Abibe, Abril. Este período tinha por objetivo buscar a santificação; relembrando-os de que Deus havia passado em suas casas, quando ainda estavam no Egito, marcando-as com sangue, livrando-os da morte e condenação [Ex 12,27]. Significa também a lembrança de que foram escravos, servindo a outro senhor, mas agora estavam libertos e deviam servir ao único e bom Deus.

Era a festa mais importante do calendário judaico; um período de contrição, de sincera avaliação, arrependimento, e retomada do caminho de vida. De escravos errantes, perdidos em um mundo em queda, para poupados da condenação, salvos e constituídos herdeiros do Reino divino. Uma glória imerecida, inalcançável, propiciada pelos méritos exclusivos de Cristo.

Pedro foi colocado sob a guarda de quatro quaternos de soldados [4 x 4 = 16], e esperavam terminar a Páscoa para executá-lo.

Herodes e o povo respeitavam, ou cumpriam, o princípio dietético, de não comer pão fermentado, mas desprezavam o fundamento santo. A preocupação não era se Deus os aprovava ou não, mas de as festividades não serem interrompidas ou desviadas em seu propósito ritualístico. Propósito este que imaginavam cumprir, e sequer cogitavam estar quebrando com seus planos e ilações diabólicas. Na verdade, havia um princípio de gozo e alegria com o pecado, mesmo guardando-se formalmente um mandamento divino [Ex 12.15]. Eles eram “massa fermentada”; da mesma origem do diabo, o qual veio matar, roubar e destruir.

A IGREJA ORAVA INSISTENTEMENTE… PEDRO DORMIA

Enquanto as festividades corriam nas ruas, casas, salões e no Templo, Pedro era mantido preso. Em seu favor orava a igreja insistentemente a Deus. Muitos entendem a oração como uma arma poderosa para demover o Senhor da sua vontade. Existem absurdos dignos dos mais desprezíveis, incautos e delirantes homens, no sentido de que, ao orar-se com muita fé, a vontade divina pode ser vergada ou dobrada pelo homem. O cristão atual, em sua maioria, carrega a oração com um misticismo digno dos pagãos, onde a penitência e o mérito está em quem ora e não naquele que é poderoso, sábio e justo para realizar ou não o pedido.

Não raro alguns são acusados de não terem seus pedidos atendidos por lhes faltar fé ou um pouco de fé, de não alcançarem o nível exigido de fé. Sendo um dom divino [Ef 2.8], e não algo produzido no próprio homem por si mesmo, ninguém jamais possuirá, em si, a porção suficiente para satisfazer a Deus. A fé é uma dádiva; e antes de mover a vontade divina, é ele quem nos move, pela fé que nos dá, a fim de cumprir os seus perfeitos e santos conselhos.

Entretanto, alguém pode questionar: Se a igreja orava por Pedro, provavelmente orou por Tiago. Por que então ele não sobreviveu e morreu? Qual o sentido da oração se não for mover o coração de Deus a atender-nos?

A Escritura nos diz que tudo quanto pedirmos a Deus, em oração, ele o fará, segundo a sua vontade [1Jo 5.14-15]. Primeiro, o pedido deve estar em harmonia com a vontade divina. Segundo, não o façamos por deleite, vaidade ou apetite carnal. Não se deve pedir o que é ilegítimo. E sob a forma de murmuração ou exigência. A nossa vontade deve estar constantemente cativa à vontade divina, e não o contrário. E o mais importante: reconhecer o Senhor como soberano, seja qual for a sua decisão em relação a nossa oração, o seu cumprimento ou não. Afinal, o resultado será para a sua glória. A igreja orou por Tiago? Provavelmente, sim. Houve tempo suficiente para que o anúncio da sua prisão chegasse aos ouvidos da igreja. Certamente, a partir daquele momento, eles suplicaram por sua vida. Mesmo assim, ele veio a ser martirizado. Faltou fé à igreja? Não! O propósito divino era outro, contudo. A morte do apóstolo cumpriria a vontade soberana, justa e santa de Deus. Podemos cogitar os motivos? Sim. Ainda que o Senhor não nos deva nenhuma explicação quanto à razão dos seus feitos, bastando-nos aceita-los. De alguma maneira, a igreja estava sendo trabalhada por Deus, através da oração, mas também do sacrifício de Tiago, como no de Estevão, e muitos outros que se seguiram.

Havia uma confiança a ser aprimorada, a dependência divina, e a esperança em sua providência, seja na alegria, seja na dor. A fé, como está escrito, é a certeza das coisas que não se veem; e o maior exemplo de fé a certeza de que estarmos sempre sob os cuidados amorosos do Pai, não importando a situação. Não é o que Paulo nos diz?

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” [Rm 5.1-5].

E ainda, Pedro, que ratifica esta afirmação:

“Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” [1Pe 1.6-7]

E complementa:

“E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de havemos padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça.” [1Pe 5.10]

O fato é que o coração do homem e o seu desejo não podem mudar ou convencer a Deus de algo. Antes o Senhor é quem nos convence e nos move segundo a sua vontade. A igreja deve orar como forma de adoração, ao se colocar humildemente sob a vontade divina, reconhecendo o seu poder, mas também o seu amor paternal, a nos conduzir, aperfeiçoando-nos para aquele dia em que seremos tal qual é o nosso Senhor. Aqueles irmãos poderiam pegar em armas e investirem contra o governo de Herodes a fim de libertarem Pedro, ou Tiago. Do ponto de vista humano seria uma saída plausível. Estaríamos em harmonia com a vontade divina? De nos sujeitarmos ao seu senhorio e governo? Não! Coube ao povo de Deus clamar, insistentemente, continuamente, para que Pedro, ou Tiago, fossem libertos. No segundo caso, as orações não foram atendidas, e ele foi entregue à sanha homicida de Herodes e do povo². No primeiro caso, veremos a seguir o aconteceu.

Voltando a Pedro, o encontramos, enquanto a igreja está de vigília, dormindo. Seria esta a atitude correta do apóstolo? Por que não seu uniu aos demais irmãos em oração por sua vida? Mas ele conseguia dormir, acorrentado a dois soldados, sabendo que naquele dia seria apresentado e morto diante do povo por Herodes.

Fico a pensar se eu seria capaz de manter-me tranquilo diante da morte. Pedro, talvez, estivesse certo do seu fim, já que Tiago, um dos três, juntamente com Pedro e João, era um dos discípulos mais próximos e chegados de Jesus. Se ele não foi poupado, por que Pedro seria? Parecia que Pedro trabalhava com essa certeza, como algo inevitável. Porém, é possível afirmar a confiança do apóstolo no Senhor. Ele sabia que a sua vida estava guardada em suas mãos poderosas. Ainda que não soubesse de fato o que sucederia, a morte não era uma aflição, nem motivo de angústia. Provavelmente ele pediu por sua vida, mas descansou em seu pedido. Era-lhe suficiente ter pedido, assim como suficiente era esperar na providência divina: de mantê-lo mais algum tempo neste mundo, ou leva-lo para junto a glória eterna. De alguma maneira, Pedro já tinha a sua resposta; e não a esperava com ansiedade. Pelo contrário, dormia.

Haveria contradição entre a atitude de Pedro e a do restante da igreja? Se de um lado havia um intenso clamor, no outro o descanso silencioso? Novamente, não! Eram atitudes complementares e necessárias. Se de um lado o alvo da oração descansava, e estava certo em descansar e esperar no Senhor, de outro lado, o clamor insistente também revelava a confiança de ser Deus o único capaz de preservar a vida do apóstolo, pois enquanto os homens, animais e demônios têm o poder de tirar a vida, Deus é o único capaz de dá-la e preservá-la. Em ambos os lados havia uma única certeza: Deus pode, e o fará segundo a sua vontade, para a sua glória. Cabe-nos confiar e depositar a nossa esperança nele; sabendo que a oração insistente, em favor do próximo, é o nosso dever, sobretudo para que encontrem a paz e o repouso, possível somente em Cristo, assim com Pedro encontrou. Da parte de Pedro, aprender que nossas vidas devem estar em conformidade com a vontade divina, em serviço a ela, seja aqui ou na eternidade.

NOTAS:
1-A palavra tem o sentido de satisfazer-se; de estar em conformidade com a vontade de quem se agrada, fazendo-o deleitar-se, ter prazer.

2-A se notar o fato de que este é o único relato e descrição de morte de um apóstolo na Escritura; nenhum outro teve a morte relatada. Trazendo um significado necessário a ela.

ROMANOS 4

Paulo dedicou todo o quarto capítulo de Romanos para explicar o significado da justificação, que é por meio da fé em Jesus Cristo.
É importante que seja destacado que aqui neste capítulo, o apóstolo não está explicando o que é a santificação, mas somente a justificação, ou seja, o ato judicial declarativo de Deus pelo qual somos considerados justos por Ele.

Paulo demonstrou como é que a nossa justificação, que nos traz a salvação, promovendo a nossa conversão e união eternas a Cristo, é realizada somente pela graça, mediante a fé.
É importante observar como ele ordenou os argumentos nesta epístola aos Romanos, uma vez que primeiro apresentou a condição decaída no pecado e sujeita à condenação (cap 1 e 2); depois a forma como se é livrado da condenação pela justificação, que é o ato declarativo de Deus que nos torna seus filhos para sempre (cap 3 a 5); depois o significado da expiação e a consequente consagração pelo processo da nossa santificação (cap 6); depois apresentou a posição firme na qual todo crente se encontra diante de Deus por causa da sua união com Jesus, a par da sua luta interior (cap 7), e das provações externas (cap 8), e em tudo isto, sempre mostrando como somente é possível ser vitorioso sobre a carne, o diabo e o mundo, por causa da nossa união espiritual com Cristo, por meio da fé.

No capítulo 9º Paulo discorre sobre a predestinação e eleição; no 10º sobre o dever e o modo de se proclamar o evangelho; no 11º sobre a condição do povo de Israel perante Deus; do 12º ao 16º discorre principalmente sobre qual deve ser a conduta dos que foram salvos pelo evangelho.
Na verdade, nem na justificação, nem na santificação, temos motivo para nos gloriar em nós mesmos, tal como Abraão não tinha motivos para se gloriar no fato ter sido justificado pela fé.

Não somente por causa do argumento de que esta justificação é por pura graça e misericórdia de Deus, excluindo qualquer mérito do homem, como também pela verdade que toda a glória é devida ao Senhor, porque somente Ele é o Criador e o Salvador.
Sem Ele nada existiria. Sem Ele não haveria nenhuma salvação, nenhuma eleição, nenhuma justificação, nenhuma santificação, nenhuma glorificação, nenhuma cura do espírito, nenhum livramento da condenação, nenhuma herança para o cristão no céu.
Então, ao afirmar que se Abraão tivesse sido justificado por obras, teria motivo de se gloriar, mas não diante de Deus, Paulo queria dizer que ele teria realmente motivo de se gloriar em si mesmo, caso fosse possível alguém ser justificado por suas obras.
Mas, como isto é impossível, então ninguém deve se gloriar em si mesmo na Sua presença, senão somente no próprio Deus, que tudo opera em todos, e por meio de quem são todas as coisas.

Deste modo, não está sendo enfocado por Paulo que haja alguma obrigação de Deus em dar a salvação a qualquer pessoa como uma espécie de salário, de pagamento de uma dívida, por alguma boa obra que tenha sido praticada por aquele a quem Ele salvou.
Como Deus sabia que não haveria no homem nenhum modo de salvar a si mesmo do pecado, Ele deliberou, desde a eternidade, salvar pela graça mediante a fé.

Então se uma pessoa insiste em ser salva por obras, ela permanecerá sob a condenação de Deus, porque está sendo desobediente à Sua ordenação, de que aquele que for salvo, o será pela Sua graça, e mediante a fé. Tentar fazer valer a própria justiça sempre nos deixará desprovidos daquela Justiça que nos vem da parte de Deus pelo evangelho.
Cabe destacar que a causa da condenação não será a desobediência propriamente dita, mas o fato de que é por meio desta que ficamos alijados da graça de Cristo, porque Deus determinou que salvaria o pecador somente por fé, pela fé do pecador na Pessoa e obra do Seu Filho amado Jesus Cristo.

As boas obras devem ser praticadas, mas não com o fim de sermos salvos por Cristo, porque isto ocorre somente pela graça e por meio da fé. E é importante que se frise que estas boas obras se referem em primeiro lugar à transformação progressiva e gradual do cristão à imagem de Jesus, e depois se manifestam em atos de justiça, amor e bondade em relação ao próximo, porque esta é a consequência imediata daquele que tem caminhado com Deus, por ter sido reconciliado com Ele por meio da fé em Jesus.

Quando não se conhece esta verdade, ou mesmo quando a esquecemos, é possível que nos entreguemos com todo afinco à obra de evangelização, até mesmo convencendo a muitos a se tornarem cristãos… todavia, a questão essencial permanece de pé: como fruto do nosso trabalho, houve uma conversão real destas pessoas que se agregaram à Igreja? Houve uma transformação real em novas criaturas em Cristo? Houve a evidência das obras e fruto do Espírito Santo em suas vidas através da santificação?

Assim, não podemos dizer que o evangelho, que a fé, é meramente algo pró-ativo, ou seja, que demanda de nós apenas esforços para evangelizar o mundo. Se não tivermos uma santificação verdadeira operada pelo evangelho em nossas próprias vidas, é bem certo que ficaremos longe do alvo proposto por Deus para a pregação do evangelho, que é o de operar, antes de tudo, justificação, regeneração e santificação de pecadores.
É pela fé no sangue que Jesus derramou na cruz que somos lavados e perdoados dos nossos pecados.

Deus revelou esta verdade pelo Espírito ao rei Davi, a qual lemos no Sl 32.1,2, cujas palavras Paulo usou em Rom 4.7 e 8:
“7 Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.”
Então a justificação é uma declaração da parte de Deus em relação a quem se converte, de que esta pessoa é agora justa diante dEle, ou seja, está justificada do pecado, por causa da obra realizada por Jesus em seu favor.

Esta justiça que é atribuída ao homem é decorrente da justiça do próprio Cristo. É a veste de Cristo com a qual ele agora está vestido.
Uma vez justificado, ele é chamado a ser justo em todo o seu procedimento, e assim há uma justiça procedente de Deus que deve ser nele implantada pelo Espírito, de maneira que seja aperfeiçoado na justiça evangélica, mas isto não faz parte do ato da justificação, que como vimos antes, é uma declaração feita por Deus de que somos agora justos aos Seus olhos por causa de Cristo, e não uma implantação da Sua justiça em nós.
Esta implantação da justiça é feita pela regeneração (novo nascimento) e santificação do Espírito Santo, sendo que a santificação é um processo progressivo, e não instantâneo tal como se dá com a justificação e a regeneração, quando do nosso encontro pessoal com Jesus na nossa conversão.

E esta bênção da justificação, que nos dá a salvação, não é somente para os judeus, uma vez que Abraão foi justificado pela fé, quando ainda era um gentio em Ur dos caldeus; e foi circuncidado em seu prepúcio somente depois de ter crido em Deus e ter sido justificado, de maneira que não é a circuncisão do prepúcio que justifica uma pessoa conforme os judeus costumavam ensinar, porque não foi por ter sido circuncidado que Abraão foi justificado.
Aconteceu justamente o contrário: ele foi circuncidado porque foi justificado, isto é, ele recebeu a circuncisão como um sinal comprobatório da justificação que é pela fé, que Deus lhe havia concedido.

De maneira que os cristãos que são justificados devem trazer em si este sinal comprobatório que também foram circuncidados por terem crido, já não mais no prepúcio, mas no coração.
A circuncisão dos judeus era um ato de despojamento da carne do prepúcio.
Então a circuncisão do cristão na Nova Aliança com Cristo consiste no despojamento da carne, não do prepúcio, mas do princípio operativo do pecado, que a Bíblia chama de carne; e que consiste em tudo aquilo que nos impeça de ter uma vida de comunhão no espírito com Deus.

Lembremos que o motivo alegado por Deus de que não permaneceria mais atuando nos homens nos dias de Noé, porque estes eram carnais, significava que eles haviam se tornado insensíveis, e completamente endurecidos à ação do Espírito Santo, que procurava conduzi-los ao arrependimento, conforme lemos em Gên 6.3.
Deve ser levado em conta também que a promessa da Nova Aliança foi feita a Abraão, mais de quatrocentos anos antes da Lei ter sido dada a Moisés no Sinai.

Isto significa que ao dizer que no Descendente de Abraão, que é Cristo, seriam benditas, todas as nações da terra, Deus estava mostrando que o modo de alguém ser salvo não seria por causa da Lei, mas pela promessa que fez a Abraão, de salvar também a muitos do mesmo modo como fizera com Abraão, a saber, somente pela fé.
Se a herança prometida a Abraão, de uma pátria celestial, para ele e aqueles que seriam considerados seus descendentes, tivesse sido feita pela Lei, a promessa de Deus teria sido aniquilada, mas isto é impossível, porque não foi pela Lei, mas pela justiça que é pela fé, que os homens são salvos, como Paulo afirma nos versos 13 e 14 deste quarto capítulo de Romanos.

Se a promessa fosse pelas obras da Lei todos continuariam debaixo da ira e da maldição de Deus, porque não há quem guarde perfeitamente todos os mandamentos, durante todos os dias da sua vida. E mais do que guardar os mandamentos de Deus, isto se refere sobretudo a se ter uma vida que seja à exata imagem e semelhança da santidade e caráter divinos.

Algum descendente de Adão, tanto quanto ele, poderia atender a tal exigência, sem a graça de Cristo? Por isso Deus não nos deu uma árvore de conhecimento divino para sermos salvos, mas uma Árvore de Vida, uma Videira Verdadeira, pela qual podemos participar da Sua própria vida celestial e inteiramente santa.
Mas o apóstolo argumenta num nível mais fácil, ainda que também impossível para o pecador, a saber, o da obediência à Lei para a salvação, uma vez que os judeus ensinavam e criam nisto. Ele os tem em mira quando argumenta sobre a justificação, de modo a lhes convencer que se alguém pretendesse ser salvo pela Lei e não pela fé, esta seria a única maneira de ser salvo, a saber, pela guarda perfeita da Lei.

Ainda que a Lei não deva ser desconsiderada e descumprida, mas amada e obedecida, não há quem possa cumpri-la perfeitamente, porque o princípio do pecado permanece operando na carne e exigindo que seja mortificado diariamente pela operação da cruz.
Então, todos os homens, de todas as épocas, quer antes da Lei, como foi o caso de Abraão, quer depois da Lei, depois de Moisés, encontram-se numa condição miserável diante da justiça de Deus, mas este determinou ser gracioso e misericordioso para com os pecadores, ao justificá-los somente pela fé, de maneira que sendo por fé, a justificação será pela graça do Senhor, conforme Ele estabeleceu, para que ninguém se glorie diante dEle por suas próprias obras, como Paulo afirma no verso 16.

Assim o registro da justificação de Abraão pela fé, não se encontra em Gên 12, somente por causa dele, mas também por nós que temos sido justificados pela mesma fé com a qual ele foi justificado, para que estejamos convictos sobre o modo pelo qual Deus salva, como também para que possamos ser efetivamente salvos da mesma maneira como Ele salvou Abraão, como se vê em Gên 15.6:
“E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça.”.
A grande prova que a justificação que dá vida eterna é pela fé no Filho de Deus reside na ressurreição de Jesus.

Portanto, pela Sua ressurreição Ele comprovou que possui o poder de dar vida eterna aos que estão mortos em seus pecados, a saber todos os homens, e dentre os quais se encontrava o próprio Abraão.
E a ressurreição de Jesus foi também o sinal confirmatório de que a justiça divina havia sido plenamente satisfeita.
É importante saber que não há nenhum resto mortal de Jesus na terra; assim como também não há de Elias e Enoque, porque foram arrebatados.

Mas nenhum dos dois ressuscitou dos mortos como Jesus havia ressuscitado antes dEle ter subido ao céu, num corpo glorificado, depois de ter experimentado a morte por todos os homens, para dar vida aos que creem no Seu nome, de modo que somente o Senhor Jesus é Primícia dos que dormem, quanto à promessa da ressurreição futura de seus corpos no dia do Arrebatamento.