Por Johnny Bernardo
Finalmente, após alguns meses em dívida com o público leitor da série A Bíblia nos Ensina a Viver, conseguimos desenvolver o corpo do artigo número III. A proposta inicial era a de que publicaríamos um artigo por mês, totalizando a série de 12 artigos. Por força maior não conseguimos colocar o plano em prática, mas esperamos que em 2016 possamos dar andamento ao projeto Discípulos, que é a matriz e base da série. No presente texto iremos falar sobre a importância do trabalho, do papel que Adão recebeu de Deus ao ser empossado como administrador do jardim do Éden. Vale dizer: da importância de mantermos nossa mente e corpo ocupados em algo que seja proveitoso e que nos traga benefícios duradouros. Não é o trabalho material em si o principal foco de nossa análise, mas àquele que nos mantém conectados com Deus, que o engrandece. Abaixo iremos conhecer um pouco sobre a história da Cigarra e da Formiga e daí tecermos nossa análise, fundamentados na história de Adão e Eva e sua relação com Deus. Esperamos que o presente possa servir de ponto de partida para uma vida melhor.
A importância do trabalho
Quem não se lembra da história da Cigarra e da Formiga? Ela fez parte de nossa infância, seja por meio de livros ou adaptações teatrais e cinematográficas. Desenvolvida originalmente pelo escritor da Grécia Antiga, Esopo, e adpatada pelo francês Jean de La Fontaine, e o espanhol Félix María Samaniego, a história de a Cigarra e a Formiga é usada como pano de fundo em palestras motivacionais em empresas, em grupos de estudos em escolas e associações para sintetizar a importância da ocupação em algo – não necessáriamente um trabalho ou emprego -, de manter nossa mente e coração empenhados em uma atividade que nos traga prazer e bons frutos. A seguir vamos fazer uma rápida passagem pela história de Esopo e na sequência trazer algumas interpretações práticas e proveitosas ao nosso entendimento do presente artigo.
Era uma vez uma cigarra que cantava pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou: Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para gente aproveitar, para se divertir. Não, não, não, respondeu a formiguinha: Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno, para o futuro.
Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando pelo bosque. Quando tinha fome, pegava uma folha e comia. Certo dia encontrou novamente a formiguinha e viu que carregava outra folha. A cigarra aconselhou: Deixa esse trabalho para as outras, vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar!
A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga cigarra. No entanto, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, cantando e dançando, olhou feio e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vida boa.
A rainha das formigas falou então para a cigarra: Se não mudar de vida no inverno você vai se arrepender. Vai passar frio e fome. A cigarra não ligou, fez uma reverência para a rainha e comentou: Hum! O inverno ainda está longe, querida. Para a cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Com que finalidade construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo.
O inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, bateu na casa da formiga. Ao abrir à porta a formiga viu que a cigarra estava morrendo de frio. Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa quente e deliciosa. Na mesma hora apareceu a rainha e falou à cigarra: No mundo das formigas todos trabalham e se você quiser ficar, toque e cante para nós. Para a cigarra e para a formiga, aquele foi o inverno mais feliz de suas vidas. (Adaptado do link: http://www.qdivertido.com.br/verconto.php?codigo=9. Consulta em: 01/02/2016, às 14h).
Que história maravilhosa, não acha? A Cigarra e a Formiga nos trazem à consciência a importância não somente do trabalho, mas também de que devemos nos preocupar com o futuro, da forma como nos relacionamos com o próximo, de como agimos e nos comportamentamos em sociedade. Em algumas versões a cigarra diz à formiga: “Escute filho: A Bíblia diz que nosso Senhor a tudo proverá, de nada Ele se esqueceu. Portanto, ninguém precisa trabalhar”. Não nos parece algo muito semelhante com o primeiro diálogo entre a serpente e a mulher? (Gênesis 3.1-5). Astuta, a serpente recorreu a uma argumentação bíblica para convencer Eva dos benefícios de se comer do fruto proibido. É claro que há uma diferença entre o desfecho da história da cigarra e da serpente, mas vale a comparação de que há, mesmo em contextos diferentes, posições e opiniões que contrariam o sentido espiritual e material de compreensão da existência.
Deus plantou o Jardim do Éden para dar ao homem uma ocupação
É correto o ditado que diz que ”mente vazia é oficina do cão” (no evangeliquês: “oficina do diabo”). Mais correto ainda é afirmar que Adão precisava de uma ocupação, de que ele não deveria ficar apenas observando as belezas da criação, do Éden. Ele tinha capacidade e condições para se dedicar a uma atividade que lhe ocupasse parte do dia. Deus pretendia conceder uma esposa a Adão e a criação do jardim do Éden – lembrando que o Éden não era um jardim, mas uma área geográfica denominada – serviu como protótipo ou modelo do primeiro lar e espaço de trabalho do homem. Foi no Éden que as duas primeiras profissões tiveram início: a de jardineiro e a de segurança. São duas profissões que, em algumas sociedades, são desprezadas ou relegadas a indívíduos de baixa formação escolar, de “coisa de imigrante”. Há certo estigma social e mesmo pessoal de quem exerce as funções. Nada mais preconceituoso. Que seria do mundo não fosse o trabalho de milhões de jardineiros e seguranças? São eles que mantêm a beleza e a segurança das instalações públicas e privadas. São funções essenciais e importantes.
Não é a função em si que exercemos, mas a forma como a exercemos. Adão poderia questionar Deus, reclamar para si uma responsabilidade maior, mas não o fez. Atualmente reclamamos que ganhamos pouco, que exercemos uma função desprestigiada, e nos esquecemos de agradecer a Deus pela oportunidade de trabalho. Na Igreja há os que desejam alcançar o presbitério ou pastorado sem passar pelo diáconato; reclamam que não tiveram uma oportunidade de exercer uma função de prestígio na Igreja. Tudo, na vida, é uma questão de dedicação, de foco, de objetivo. É claro que não devemos nos contentar com ganhar pouco, sermos humilhados e desprestigiados, mas somente uma postura de confiança e competência pode nos levar a autos patamares na escala social de trabalho. Adão deveria dedicar-se com amor e carinho às atividades delegadas por Deus. Era de fundamental importância que Adão passasse um tempinho dedicando-se à jardinagem e à segurança para que tivesse conhecimento e condições necessárias para assumir sua função de pai da sociedade. Era um estágio, como tudo na vida. Devemos igualmente passar por semelhante experiência.
A experiência nos ensina que devemos tomar cuidado com as distrações. Na história da Formiga e da Cigarra há um contraste entre o trabalho e a curtição, entre o preparar-se para o futuro e o ócio. Enquanto as formigas trabalhavam, recolhiam alimentos e estocava em compartimentos do formigueiro, a cigarra cantava e dançava. Convencida, uma das formigas foi pega pela rainha dançando e cantando. Mais do que em nenhuma outra época da história, a sociedade do século XXI cararacteriza-se como uma sociedade alienada, no sentido de que cada vez mais pessoas dedicam-se a coisas fúteis e sem qualquer preocupação com o futuro. Não que devemos viver em um círculo vicioso de trabalho-casa-trabalho, mas tomar cuidado com algumas distrações que podem tirar de nós a capacidade de comunicação orar e visual com nossos semelhantes. É preocupante que cada vez mais jovens passem horas conectados em aplicativos como Whatsapp, e poucas horas face a face com seus pais e irmãos. A onda do selfie também tem recebido sua parte de crítica porque é responsável por um aprofundamento na alienação, e em alguns casos tem sido responsável por acidentes – caso de pessoas que são atropeladas ou perdem parte de seus membros por descuido no local de trabalho.
Entende? A sociedade está perdendo os valores fundamentais e a Igreja não passa ao largo dessa situação – diria catastrófica – que se desenrola diante de nossos olhos. Muitos aplicativos têm alienado nossos jovens, na Igreja, e diminuido sua atuação em atividades como evangelismo e estudo bíblico. Antigamente reclamavamos que a mocidade não produzia e não se interessava por outra coisa que não fosse o louvor, e hoje vemos que a situação é ainda mais preocupante. Não se engane: toda a Igreja se vê imersa em uma alienação que impede o avanço do Reino, da pregação do Evangelho. A distração é um perigo porque tira nosso foco, nosso objetivo de vida. Foi assim com Adão e Eva e com Pedro ao dar atenção ao vendaval. Sentir medo e solidão é algo natural. Pedro sentiu medo e começou a afundar. Nossa reação, mais que natural, ao nos sentirmos solitários e tristes é buscar algo externo que nos traga prazer. Alguns buscam auxílio em redes sociais, e ainda outros em drogas e sexo explícito. Afinal, somos humanos e tendenciosos ao pecado. O que não devemos, no entanto, é nos distanciar de nossas atividades, permitir que nossa mente e corpo sejam usados pelo inimigo. Eva perdeu o foco e deu no que deu: levou Adão e toda humanidade ao pecado, ao buraco.
Para concluir está breve explanação sobre a importância do trabalho e de manter-se ocupado em uma atividade, ressaltamos alguns aspectos aqui discutidos, como o preocupar-se com o futuro e não se deixar seduzir com as distrações externas. Assim como no caso da Cigarra e da Formiga e de Adão e Eva no jardim do Éden, devemos prestar atenção aos detalhes, uma vez que são eles que podem determinar o que e como seremos e aonde chegaremos. A vida é um caminho que deve ser percorrido com calma e com determinação. Nada pode nos tirar deste caminho, nem mesmo distrações que nos ofereçam alívio ou relaxamento temporário. O inimigo é expert em apresentar “atalhos” para algo que desejamos alcançar ou obter. É óbvio que nem toda distração é maliciosa, que pode nos trazer prejuízo ou nos afastar de nossas responsabilidades. Pelo contrário: a vida deve sim ser regada por momentos prazerosos, por situações e locais que nos proporcionem descanso e lazer. Muitos aposentam e continuam trabalhando com a desculpa de que “enquanto tiver saúde continuam trabalhando”. A questão é: quando ficar doente, deixará de trabalhar? Ficará sobre uma cama sem poder aproveitar a vida? Ou o caso de obreiros que acham que ser “cristão” é ficar preso dentro de quatro paredes, sem permitir que os filhos possam ir à praia ou praticar atividades esportivas? Ambos os extremos devem ser rejeitados: a alienação e a atividade laborativa fanática.
Nenhum comentário:
Postar um comentário