Por Heber Carlos de Campos
No seio das igrejas cristãs não há muitos problemas com respeito à persona lidade divina, mas há um problema maior do que simplesmente mostrar que Deus é pessoal: mostrar que ele subsiste em três pessoas. Contudo, a despeito da dificuldade desta matéria, é melhor falar da tripersonalidade de Deus do que falar da sua simples personalidade.
A grande tarefa da teologia cristã é afirmar, sem apoio de qualquer outro ramo religioso ou filosófico, a misteriosa doutrina da tripersonalidade de Deus. É uma matéria de pura confiança no ensino geral da Santa Escritura, sem qualquer similaridade em outra religião. E o propósito deste capítulo é mostrar a visão bíblica da tripersonalidade divina, uma doutrina singularmente cristã.
BASE BÍBLICA DA DOUTRINA DA TRINDADE
O termo “Trindade” não é encontrado na Bíblia. É um termo teológico usa do pela primeira vez provavelmente por Tertuliano, por volta do ano 220 AD. Mesmo a despeito de esse termo não aparecer nas Escrituras, a tentativa deste capítulo é fazer justiça ao seu ensino global sobre essa matéria tão decisiva para o cristianismo ortodoxo, e mostrar bíblica, teológica e historicamente que a Trindade existe. Ambos os Testamentos fazem referência a esta matéria, e nós a estudaremos de maneira sistemática, mesmo que algumas vezes adotemos, de maneira muito clara, o método da teologia bíblica.
Quando examinamos as Escrituras em sua totalidade, percebemos que a evidência da doutrina da Trindade no Novo Testamento é muito mais clara do que no Antigo Testamento. Este entendimento mais claro do Novo Testamento é devido ao caráter progressivo da revelação redentora de Deus. Portanto, nesta parte da base bíblica entenderemos os textos sobre a Trindade no Antigo Testamento com a luz que os textos do Novo Testamento lançam. Para dizermos de outra forma, à luz dos textos do Novo Testamento é que entenderemos os textos do Antigo Testamento sobre a Trindade. Temos que fazer justiça às ênfases específicas e também às limitações específicas do Antigo Testamento com relação a esta matéria.
Examinaremos a base bíblica na ordem inversa dos Testamentos, pela simples razão de a doutrina da Trindade estar mais clara no Novo Testamento do que no Antigo. Portanto, as bases lançadas no Novo Testamento servirão de base para o entendimento dos textos alusivos à Trindade no Antigo Testamento. Esta é apenas uma tentativa metodológica diferente para estudar a doutrina da Trindade.
a. A doutrina da Trindade no Novo Testamento
Fica relativamente mais fácil elaborar a doutrina da Trindade a partir dos dois grandes eventos redentores, ou seja, a encarnação do Verbo e o derramamento do Espírito no Pentecoste, do que elaborá-la a partir do ensino do Antigo Testamento. No Novo Testamento, a revelação já está completa e, portanto, o nosso ponto de partida é um entendimento retroativo, partindo do mais claro para o mais obscuro. Ao invés de seguir o caminho do caráter progressivo da revelação, faremos o caminho inverso. Partiremos daquilo que foi revelado mais plenamente, voltando pelo caminho da revelação histórica, a fim de ver os ele mentos da doutrina da Trindade em gérmen no Antigo Testamento. A tentativa deste estudo é partir do que está patente no Novo Testamento para o que está latente no Antigo Testamento.
Uma apresentação plena da evidência da doutrina da Trindade requer um estudo de todas as passagens que falem tanto da divindade de Cristo como da divindade e personalidade do Espírito Santo, mas isso faremos posteriormente. Como não temos espaço para um estudo exaustivo, estudaremos apenas alguns textos mais importantes para o nosso propósito.
Como mencionei acima, houve dois grandes eventos reveladores neotestamentários que nos ajudam muito na elaboração dessa doutrina e que não podem ficar no esquecimento: a encarnação de Cristo e o derramamento do Espírito. Se estas duas grandes revelações forem esquecidas, ficaremos na mesma dificuldade de elaborar a doutrina da Trindade que teríamos se contássemos apenas com as informações do Antigo Testamento.
Veremos a seguir algumas evidências textuais da doutrina da Trindade no Novo Testamento.
a.1. Os Textos sobre o Batismo de Jesus
Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21-23; Jo 1.32-34. Estas passagens falam do Filho encarnado que está diante de João Batista para ser batizado, enquanto o Espírito desce do céu tomando a forma corpórea de uma pomba, e ao mesmo tempo ouve-se a voz do Pai dizendo algo sobre o Filho amado. Nesses textos percebem-se três pessoas que aparecem simultaneamente, e não três modos diferentes de a mesma pessoa se apresentar, como pensam os modalistas. Embora a ênfase maior da ideia de pessoa recaia sobre o Pai (que fala) e o Filho (que está sendo batizado), todavia, o Espírito aparece de forma distinta das outras duas pessoas.
a.2. Os Textos sobre a Fórmula Batismal
Mt 28.16-20 (Me 16.15-18). Os textos sobre o batismo de Jesus mostram a presença simultânea das três pessoas de uma forma bem distinta. Mas a unidade dessas três pessoas não está evidente naquelas passagens. Todavia, a unidade do ser divino está evidente no fato de que os atributos da divindade são aplicados indistintamente a cada uma das três pessoas. E o fato de cada uma delas apresentar obras puramente divinas é, outra vez, a evidência da divindade de cada uma. A singularidade da fórmula batismal está na ênfase que dá à unidade das três pessoas no nome de alguém que é batizado.
a.3. Os Textos sobre a Bênção Apostólica
2Co 13.13 mostra de maneira clara as três pessoas sendo apontadas como as beneficiadoras dos remidos de Deus. Deve ser observado que esse texto mostra que as funções abençoadoras de cada uma das pessoas tem um caráter pessoal. A graça, o amor e a comunhão são propriedades de pessoas, não de energias ou poderes. Há três pessoas distintas claramente ensinadas nessa passagem.
Ap 1.4, 5 – também mostra as três pessoas juntas, mas com nomenclaturas diferentes. Nesse texto, o Pai é chamado de “aquele que era, que é e que há de vir” e “aquele que está no trono”; o Filho, Jesus Cristo, é chamado de “a fiel testemunha”, “o primogênito dos mortos” e “o soberano dos reis da terra”; o Espírito é chamado de “os sete espíritos”. Portanto, graça, paz e amor vêm desse Deus triúno.
O curioso é que a bênção araônica de Números 6 também mostra uma espécie de trindade, se a vemos com a luz derramada pelo ensino do Novo Testa mento, pois nela o nome santíssimo aparece três vezes, onde em cada vez aparece uma promessa de bênção.
a.4. Textos Gerais sobre a Trindade
1Co 12.4-6 – Nesta passagem há novamente a menção das três pessoas exer cendo funções diferentes na capacitação da igreja. O Espírito é o mesmo que distribui os dons para os membros do corpo (v. 4); o Filho, que aqui é chamado de Senhor, é quem determina o lugar onde os membros do corpo vão trabalhar (v. 5), e o Pai é quem dá a diversidade das realizações dos membros do corpo (v. 6), determinando o sucesso do trabalho dos mesmos.
Ef 4.4-6 – Nesta passagem, Paulo trata da unidade do corpo, dando várias evidências da mesma. A característica importante é que essa unidade gira em torno das três pessoas da Trindade. Há um só Espírito, um só Senhor e um só Deus e Pai de todos. A Trindade, como no texto de 1Co 12.4-6, é a mola mestra da vida do corpo. Sem as pessoas da Trindade o corpo não pode funcionar.
1 Pe 1.1, 2 – Enquanto as duas passagens acima têm a ver com a capacitação da igreja, esta tem a ver com a obra soteriológica das pessoas da Trindade. O Pai é o responsável pela eleição, segundo a sua presciência; a obra de redenção dos pecadores é feita pela “aspersão do sangue de Jesus Cristo”, o Filho, e a santificação dos eleitos e redimidos é feita pelo Espírito Santo.
Judas 20-22 – Esta passagem novamente mostra as três pessoas exercendo funções diferentes na vida dos santos. O Pai é quem guarda os santos no seu amor. O Filho é a expressão da misericórdia divina, na qual os santos devem esperar. O Espírito é o que edifica os santos na fé santíssima, ou seja, no corpo de doutrina recebido, a mesma “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3).
1Jo 5.7 – Bavinck dá algumas informações preciosas sobre o desenvolvi mento do pensamento cristão quanto a esta passagem:
A genuinidade do texto de 1Jo 5.7 permanece duvidosa. Ele não é encontrado em quais quer dos códices gregos, exceto em uns poucos datados do século XVI. Também não aparece em quaisquer dos códices latinos anteriores ao século VIII e está ausente de quase todas as versões. Além disso, nunca é citado pelos pais gregos, nem mesmo durante o período da controvérsia ariana, nem pelos pais latinos: Hilário, Ambrósio, Jerônimo, Agostinho, etc. Se é citado ou pressuposto por Tertuliano, ele deve ter existido desde aproximadamente o ano 190; e se é citado por Cipriano, deve ter sido conhecido por volta do ano 220. Se a Versão Africana continha esse texto – como é sustentado por um manuscrito datado do século V e por outro do século VII – podemos voltar ainda mais no tempo, porque a Versão Africana data de por volta do ano 160 e foi trazida para a Itália por volta de 250. Com certeza, podemos afirmar que esse texto apareceu nos escritos de Vigília, por volta de fins do século V. No século XVI, ele foi incluído no N.T. Grego Complutensiano, por Erasmo na terceira edição de sua obra, por Robert Estienne (Estefano), por Teodoro Beza, e no Textus Receptus. Ele não é definitivamente exigido pelo contexto e seria muito difícil explicar a sua omissão e subseq üente desaparecimen to. Há ainda alguns que defendem esta passagem como genuína. Em 1897, a questão de se lJo 5.7 pode ser rejeitado com segurança ou pelo menos omitido por ter origem duvidosa foi rejeitada pela Congregação do Santo Ofício, em Roma, decisão essa que foi ratificada pelo papa. Mas aparentemente esse veredicto não resolveu a questão da autenticidade do texto… De qualquer modo, mesmo após essa declaração oficial [da Igreja de Roma], muitos teólogos católicos romanos têm defendido com muitos argumentos a inautenticidade de 1Jo 5.7.
b. BASE NO ANTIGO TESTAMENTO
Todos os textos do Antigo Testamento que serão citados ficam muito mais claros quando os entendemos à luz de uma revelação posterior. Eles são mais bem entendidos quando recebem a luz que vem dos textos mais claros do Novo Testamento, onde a revelação progressiva se torna mais evidente.
b.1. Textos Gerais Indicando a Pluralidade de Pessoas
Is 48.16 – Parece-nos que as palavras deste verso foram colocadas na boca da segunda pessoa da Trindade, o Verbo ainda não encarnado. Deus enviou o seu Filho e o seu Espírito para realizarem a obra de salvação na história do mundo e na vida pessoal do pecador. Obviamente, a primeira obra cabe ao Filho encarnado e a segunda ao Espírito que opera no íntimo do pecador.
Is 59.20, 21 – Estes versos são palavras diretas de Deus, o Pai, aqui chamado de “Senhor”, que estabelece um pacto com o seu povo. Como parte desse pacto, o Espírito estaria sobre o mediador do pacto, o Salvador Jesus Cristo, que é o Redentor que vem de Sião.
Is 61.1-3 – As três pessoas aparecem de forma clara nesta passagem. Ela é citada no Novo Testamento (Lc 4.16) para mostrar a unção do Messias pelo Espírito que vem de Deus. Logo no começo do verso 1, o texto diz: “O Espírito do Senhor (Deus, o Pai) está sobre mim (o Filho, Cristo)”.
b.2. Textos que Indicam a Pluralidade de Pessoas pelo Nome de Deus
Nos textos abaixo, embora apareça a ideia de pluralidade de pessoas, não há necessariamente a indicação de que sejam três pessoas. Contudo, não podemos deixar de levar em conta que no judaísmo havia uma forte ênfase no monoteísmo. A ênfase no monoteísmo e, ao mesmo tempo, a pluralidade de pessoas envolvida no nome de Deus provam que ele é um ser que possui mais de uma personalidade.
Todavia, a conclusão acerca da doutrina da Trindade nesses textos é inferencial, ou deduzida da ideia da Trindade já provada no Novo Testamento.
Embora haja ênfase na unidade de Deus, as Escrituras indicam a pluralidade de pessoas na divindade. O nome incomunicável de Deus, Javé, está sempre no singular, enfatizando a natureza essencial de Deus que é a mesma nas três pessoas, enquanto o primeiro nome de Deus mencionado nas Escrituras revela a pluralidade de pessoas que nele há. O nome usado para Deus em Gn 1.1 (Elohim) é um plural de majestade. Embora esse texto não indique que são três pessoas, certamente indica a pluralidade de pessoas na divindade. Entendendo esse verso de acordo com o contexto geral das Escrituras, incluindo o Novo Testamento, é como se Moisés houvesse dito: “No princípio, cada uma das pessoas da divindade (Elohim = plural de majestade) criou os céus e a terra”. Isto é perfeitamente possível, pois podemos ver nos ensinos da Bíblia que tanto o Pai como o Filho e o Espírito participaram ativamente da obra da criação, como veremos adiante. A pluralidade de pessoas na divindade é patente desde o início da revelação bíblica.
Em textos como Jó 35.10; SI 149.2; Ec 12.1 e Is 54.5, a tradução em nossa língua apresenta Criador no singular, mas o texto hebraico apresenta o termo no plural – Criadores. O mundo foi feito por um só Deus, mas foi feito pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito. A pluralidade no nome de Deus indica a pluralidade de pessoas que existe nele, se considerarmos a matéria à luz da revelação neotestamentária já estudada.
b.3. Textos que Indicam a Pluralidade de Pessoas pela Relação de Comunicação
Nessa questão, a abordagem do texto de Gn 1.26 é diferente da anterior. Gn 1.26 novamente mostra a ideia de pluralidade de pessoas pela ideia de comunicação interpessoal, pois Deus diz de si para consigo: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Quando Deus fala, sem haver um ser criado com quem falar, é absolutamente certo que ele fala com alguém dentro de si mesmo. As pessoas da Trindade sempre se comunicaram, antes que houvesse o mundo e as suas criaturas racionais. O fato de Deus ser tripessoal é o que torna essa comunicação relacional possível.
Em Gn 3.22 a ideia de pluralidade também está presente na comunicação intratrinitária. Depois de verificar que o pecado havia entrado no universo dos homens, vendo a condição de cegueira de nossos primeiros pais e sua fuga da presença gozosa de Deus, este disse de si para consigo mesmo: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal”. É como se Deus dissesse no conselho da Trindade: “Eis a situação do homem a quem Satanás prometeu ser um de nós, e que ele esperou ser como um de nós, como uma das pessoas da divindade. Vejam se ele se parece conosco. Agora está querendo fugir de nós e está tremendo de medo, cobrindo-se com folhas de árvore!”
Essa observação que Deus faz para si mesmo, o que indica pluralidade de pessoas, mostra o desapontamento que tiveram os nossos primeiros pais quando ouviram o conselho de Satanás, que disse: “Vós sereis como deuses” (Gn 3.5).
Gênesis 3.22 reforça imensamente a ideia da Trindade no Antigo Testamento, mas não sem o auxílio da revelação mais completa que está evidente no Novo Testamento.
Um outro exemplo encontra-se em Gênesis 11.7, no evento da construção da torre de Babel, onde o mesmo tipo de linguagem é empregado: “Vinde, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro”. Essa comunicação intratrinitária é mais uma vez patente, em consonância com as obras de Deus que sempre são feitas num acordo de pluralidade de ação.
Um outro texto que também mostra a pluralidade de pessoas em comunicação é o de Isaías 6.8, onde Deus pergunta para si mesmo, obtendo a prontidão do serviço de Isaías: “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem envia rei, e quem há de ir por nós? Disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim”. (Examinar também Isaías 41.21-23 .) É a Trindade que envia as pessoas para o exercício de um ministério, e isto está latente neste texto e fica patente à medida que a revelação progride.
Essa pluralidade demonstrada na comunicação de pessoas distintas também está patente no ensino de Jesus Cristo em João 14.23. O entendimento desses textos do Antigo Testamento é devido à luz lançada, por exemplo, por textos como João 1.1, onde se diz que o “Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, indicando que ao mesmo tempo em que era a Palavra de Deus, ele era também o próprio Deus.
Bavinck afirma:
O fato de que o nome Elohim é plural na sua forma, na verdade não prova a trindade. Contudo, o fato adicional de que os advogados do monoteísmo nunca objetaram ao uso deste nome prova que esta [a trindade] não deve ser explicada como uma reminiscência do politeísmo, mas que indica a riqueza e a plenitude do Ser Divino. O Deus da revelação não é uma mônada abstrata, mas é o Deus vivo e verdadeiro, que contém as mais altas distinções dentro de uma essência divina, infinito em plenitude. Isto já está evidente na obra da criação. Elohim cria por meio da Palavra e do Espírito.
Temos que reconhecer que a ideia de pluralidade contida no nome Elohim, de si mesma não prova a doutrina da Trindade, a menos que a entendamos à luz da força maior dos textos do Novo Testamento. O mesmo se pode dizer da argumentação seguinte, que diz respeito às referências ao Anjo de Iavé.
b.4. Textos que Indicam a Pluralidade de Pessoas pela Obra que Deus Faz
Gn 1.26 mostra claramente que a obra da criação é compartilhada pela pluralidade de pessoas na divindade. Nenhuma das pessoas da Trindade opera sozinha as grandes obras ad extra, as obras que são feitas fora do ser divino, ou seja, as obras da criação e da redenção.
Falando da majestade poderosa do Senhor na criação do universo, o profeta pergunta: “Quem guiou o Espírito do Senhor? ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão?” (Is 40.13, 14). Certamente, ao criar o universo ex nihilo, Deus consultou o seu próprio ser, no conselho da Trindade. Ele nunca poderia estar se referindo a qualquer de suas criaturas, mesmo aos anjos. Quando Deus resolve fazer qual quer coisa, ele a faz consultando a si próprio. Isso somente é possível na existência de uma pluralidade de pessoas. Se fôssemos unitários, não poderíamos crer na possibilidade de Deus falar para si mesmo: “Façamos o homem segundo a nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.
b.5. Textos que Indicam a Pluralidade pelas Referências a Cristo Agindo no Antigo Testamento
Não há dúvida entre os cristãos ortodoxos de que Jesus Cristo atuou no período do Velho Testamento, embora de maneira não-encarnada. A preexistência do Verbo, agindo juntamente com Deus, o Pai, é claramente vista em Jo 8.56-58 – “Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: ainda não tens cinquenta anos, e viste a Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade cu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou.”
Com toda a probabilidade, a referência que Jesus faz ao fato de Abraão ter visto o seu dia está vinculada à manifestação da divindade nos dias que precederam a destruição de Sodoma e Gomorra. Em Gênesis 18 houve uma manifestação teofânica e Abraão esteve na presença do Senhor (vv. 2, 3, 22). Deus, o Filho (assim se crê), manifestou-se claramente a Abraão, mostrando facetas de seu poder onisciente (vv. 11-14). Portanto, quando da promessa do nascimento de Isaque (v. 10), a preexistência do Verbo é perfeitamente inteligível. Esta passagem parece comprovar a preexistência do Verbo (além do que está provado em Jo 1.1-5).
1 Co 10.4 – “… e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.”
Este verso fala da obra providencial de Jesus Cristo, pré-encarnado, na vida peregrina do povo do Velho Testamento. Através da ação do Verbo divino, havia providências físicas e espirituais. Essa rocha sobrenatural protegia e sustentava o povo no deserto, preservando-o da destruição. Está claro que a proteção é de Deus, mas Paulo esclarece que essa proteção vinha de Deus, o Filho, que, no tempo de Paulo, já se havia feito homem.
At 7.30, 35 – “Decorridos quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do monte Sinai um anjo, por entre as chamas de uma sarça que ardia… A este Moisés, a quem negaram reconhecer, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus como chefe e libertador, com a assistência do Anjo que lhe apareceu na sarça.”
Todos nós entendemos que foi Deus quem apareceu na sarça para falar com Moisés. Isso é verdade, mas parece-nos que não foi a primeira pessoa da Trindade, e sim a segunda, que era o agente da divindade em matéria de comunicação e ação. O texto transcrito mostra novamente o Anjo, que aparece em cena, mas agora agindo de maneira clara na libertação do povo da escravidão do Egito, fazendo sinais e prodígios (v. 36). Não é difícil mostrar que o Anjo não se refere à primeira pessoa da Trindade. Deus, o Pai, enviou o anjo para comunicar-se com Moisés, e para que esse estivesse assistindo tudo o que Moisés fazia para libertar o povo.
1Co 10.3, 4 – “Todos eles comeram de um só manjar espiritual, e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.”
Esse Anjo de Jeová ia adiante do povo de Deus, guardando-o, guiando-o, tomando todas as providências para o seu sustento físico e espiritual. Esse Anjo era o próprio Jeová, o Filho, que veio a tornar-se o Cristo.
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