Semeando o Evangelho

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Semear a Verdade e o Amor de Deus

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

QUE TIPO DE LIBERDADE TEMOS?

A liberdade é uma qualidade essencial nos seres morais. Não existe nenhum ser moral que não seja livre. Todavia, há uma grande necessidade de se definir de qual tipo de liberdade que está se falando.

Liberdade com Neutralidade Moral?

Quando falo de liberdade, não estou me referindo ao que o libertarismo chama de “neutralidade moral”. Neutralidade moral é aquela na qual o indivíduo faz alguma coisa com indiferença, em equilíbrio moral, isto é, sem qualquer restrição interior ou exterior, sem qualquer inclinação para um lado ou para outro. Num indivíduo com neutralidade moral não existe a inclinação para fazer o bem ou para fazer o mal. Essa pessoa toma uma resolução, mas sua resolução não é baseada numa vontade que age sob os efeitos do pecado ou da santidade. Ela age apenas porque resolveu agir, sem qualquer tipo de força interior que a inclinasse à sua ação. É possível esse tipo de liberdade em círculos eminentemente pelagianos. Nesses círculos, pode ser percebido que uma pessoa peca simplesmente porque ela resolveu seguir os exemplos dos seus pares, não porque havia nela qualquer inclinação para o mal.

A ideia da Escritura é a de que nenhum ser vem ao mundo com neutra­lidade moral. Não existe seres humanos neutros moralmente. Todos eles têm uma inclinação moral, isto é, têm uma tendência para aquilo que a sua natureza interior os inclina, seja para o bem ou para o bem.

Liberdade de Autonomia ou de Independência?

Quando digo que os seres humanos são seres morais livres, não estou dizendo que eles tenham uma liberdade de independência ou de autonomia, como também afirmam os pelagianos e alguns semipelagianos ou arminianos. Por liberdade de independência quero dizer uma liberdade em que eles não têm de prestar contas a ninguém, ou seja, são independentes mesmo de Deus; por liberdade de autonomia quero dizer que não são determinados por nada, seja de dentro ou de fora deles próprios.

Liberdade de Indeterminismo?

Quando digo que os seres humanos são seres morais livres, também não estou dizendo que eles sejam totalmente indeterminados. Esse tipo de liberdade sonhada por alguns é algo absolutamente impossível. Essa liberdade é diferente da liberdade de neutralidade moral porque nessa última o homem é dito possuir uma falta de inclinação dentro de sua própria natureza, enquanto na liberdade de indeterminismo o homem não é determinado por nada de fora dele. Deus não exerce nenhuma influência por meio dos seus decretos naquilo que o homem faz.

Esse tipo de liberdade indeterminada é uma quimera! Não há lugar para nada neste mundo que tenha uma liberdade que seja sinônimo de indeterminismo. Todas as coisas têm a sua origem última na vontade decretiva de Deus. Na verdade, nem Deus possui essa liberdade, pois ele não é condicionado por sua própria natureza, nem os seus decretos são influenciados pelas decisões dos homens.

Liberdade com o Sentido de Livre Agência?

Os cristãos que ensinam uma liberdade vinculada ao decreto divino creem numa liberdade em que as criaturas racionais sempre farão as suas ações voluntariamente, sem serem coagidos por qualquer força externa. Todavia, nunca agirão independentemente de Deus. A liberdade deles se constitui na capacidade de eles agirem sempre de acordo com as disposições dominantes da sua natureza.

Esses cristãos sempre haverão de distinguir duas espécies de causas que agem sobre as decisões dos seres morais. Todavia, essas ações causais não forçam os indivíduos externamente a fazerem nada que não querem fazer. A liberdade dos seres morais está condicionada a duas coisas: ao decreto divino e à própria natureza deles. Cremos nos decretos divinos que determinam a existência de nossos atos, mas creio que nossos atos são feitos livremente, isto é, feitos de acordo com o que gostamos, preferimos e desejamos. Nada nos constrange a fazer o que não queremos. Os atos decretivos de Deus não tornam as nossas ações forçadas. O que estamos tentando mostrar é que uma ação nossa é livre mesmo que seja causalmente determinada. Chamamos essa posição compatibilismo, como já vimos anteriormente, porque a ação do ser humano é determinada causalmente, mas nunca é feita por constrangimento, mas sempre livre, isto é, ela é feita de acordo com as disposições dominantes na natureza interior dele.

A limitação que o decreto divino traz diz respeito à apresentação somente dos atos que cumprem os desígnios divinos. Os seres morais são livres para fazerem o que desejarem fazer, mas seus atos nunca irão de encontro aos desígnios previamente estabelecidos por Deus. Deus cumpre a História escrita de antemão por meio de seus agentes secundários que são os agentes morais.

A limitação trazida pela própria natureza dos seres morais diz respeito às impossibilidades deles de não poderem fazer o que está além e contra o que eles são. Nenhum ser moral é capaz de agir contra as inclinações de sua própria natureza, se entregues a si mesmos. Todavia, um homem natural (sem Cristo) é capaz de fazer coisas boas quando a graça comum opera dentro dele capacitando-o a fazer um ato bom. A intervenção da graça capa­ cita o homem a fazer o que está além de suas posses, mas entregue à sua própria natureza, o ser humano é capaz de fazer somente o que está de acordo com o que ele é. Ele pode fazer tudo o que quer e o que gosta, mas o seu querer e as suas predileções estão amarradas à sua natureza moral. A sua natureza o limita na sua liberdade de ação.

Todos os seres morais são livres para fazerem tudo o que querem, gostam e preferem, agindo livremente. Todavia, essa liberdade não deve ser entendida como independente do decreto de Deus que, em última instância, determina que eles façam o que natureza deles permita. Essa é a liberdade de agência em que, geralmente, os cristãos de origem reformada creem.

Autor: Heber Carlos de Campos

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