Semeando o Evangelho

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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

CIÊNCIA E FÉ CRISTÃ

Por Djesniel Krause

Entre os estudantes das ciências naturais, escritos como os de Richard Dawkins, Stephen Hawking e Carl Sagan têm disseminado uma ideia de um conflito inevitável entre a fé cristã e o empreendimento científico.

Os estudantes são pressionados a fazem uma escolha, por um lado, podem fazer parte de um seleto grupo de pessoas, engajadas com o conhecimento científico, inteligentes o suficiente para saberem que Deus não existe ou cometem suicídio intelectual e permanecem com suas crenças infantis em Papai Noel, Deus e anjos da guarda.

Um exemplo é o já falecido Carl Sagan, que, embora não faça parte do movimento do Novo Ateísmo, é uma referência e uma inspiração para estes.

Sagan esteve à frente de um programa televisivo de sucesso intitulado Cosmos, destinado a ensinar sobre ciência, com pressupostos claramente naturalistas, ele ironiza, “Podemos rezar pela vítima do [sic] cólera ou podemos administrar-lhe quinhentos miligramas de tetraciclina a cada 12 horas”.

Uma continuação da série Cosmos foi recentemente gravada por seu sucessor, o astrofísico Neil deGrasse Tyson, que mantém o mesmo discurso naturalista.

Fica clara a dualidade imposta para os alunos, o conhecimento científico, neste sentido, não é compatível com a crença religiosa.

Steven Pinker afirma que “As ciências modernas da cosmologia, geologia, biologia e arqueologia tornaram impossível que uma pessoa com conhecimentos científicos elementares acredite que a história bíblica da criação de fato aconteceu”.

A homogeneização ateísta das universidades é levada tão a sério pelos novos ateus que Ravi Zacharias relata que “quando estive em Oxford recentemente, falaram-me de um artigo escrito por Richard Dawkins no qual ele defendia que qualquer candidato a aluno com a visão de mundo criacionista devia ter a admissão em Oxford recusada”.

Também o Nobel Steven Weinberg afirma, “nós, cientistas, devemos fazer tudo o que estiver a nosso alcance para enfraquecer a influência da religião. No final, talvez seja essa a nossa maior contribuição para a civilização”.

A ideia de conflito entre ciência e religião, tão difundida por autores como Dawkins, Sagan ou Weinberg é na verdade um mito, e sua origem pode ser rastreada até os escritos de John William Draper e Andrew Dickson White, segundo o apologista Dinesh D’Souza:

Os historiadores são praticamente unânimes ao defenderem que a batalha entre a ciência e a religião é uma invenção do século XIX. O nome dos inventores é conhecido. O primeiro é John William Draper, que introduziu o modelo de “guerra” em seu conhecido livro, History of the Conflict between Religion and Sciense [A história sobre o conflito entre religião e ciência], escrito em 1874. Esse livro está repleto de embustes e mentiras, e hoje é lido, principalmente, como um estudo de caso sobre o preconceito anti-religioso do fin de siécle. A segunda fonte é Andrew Dickson White, o primeiro reitor da Universidade de Corneww, cujo estudo em dois volumes de 1896, History of the Warfare of Science whith Theology in Christendom [História da guerra da ciência contra a teologia na cristandade], é uma história de guerra mais sofisticada, mas não menos ardilosa que a de Draper. Os documentos originais perderam a credibilidade, mas seu tom ainda é repercutido pelos principais autores ateus.

A verdadeira batalha se dá entre uma cosmovisão cientifica com pressupostos materialistas e outra cosmovisão cientifica com pressupostos teístas, e o Deus atacado pelas furiosas afirmações dos novos ateus não é o Deus de Israel, como encontrado revelado em Jesus Cristo, é antes, o chamado Deus das Lacunas, uma divindade invocada para explicar tudo aquilo que o ser humano ainda não pode explicar através do método científico.

Segundo Sagan, “conforme a ciência avança, parece que Deus tem cada vez menos o que fazer […]. Tudo o que não podemos explicar, ultimamente, é atribuído a Deus […]. E, então, depois de um tempo, nós o explicamos e, assim, não há mais lugar para Deus”.

Este, claramente não é o Deus judaico-cristão, criador e sustentador do universo, do qual nada escapa ao seu domínio.

De acordo com Charles Coulson, químico de Oxford, “ou Deus está no todo na natureza, sem nenhuma lacuna, ou ele não está de maneira alguma ali”.

Também Richard Swinburne comenta a situação:

Note-se que não estou postulando um “Deus das lacunas”, um deus só para explicar as coisas que a ciência ainda não explicou. Estou postulando um Deus para explicar por que a ciência explica; não nego que a ciência explique, mas postulo Deus para explicar por que a ciência explica. O próprio sucesso da ciência demonstrando-nos como o mundo natural é profundamente ordenado nos apresenta fortes razões para acreditar que há uma causa ainda mais profunda para essa ordem.

Diante disto, segue que o modelo de conflito entre a fé cristã e o conhecimento científico deve ser abandonado nos círculos acadêmicos, quer sejam seculares ou religiosos.

Conforme N.T. Wright declara, “o verdadeiro conflito não deveria ser entre fé e ciência, mas entre uma visão de mundo que separa as duas e uma que as une”, isto é verdade por pelo menos dois motivos, primeiro, a ciência moderna nasceu e floresceu na Europa do século XVI graças aos pressupostos da fé cristã, em especial da reforma protestante, e segundo, o próprio conhecimento científico tem tornado cada dia mais plausível a crença em um Deus transcendente do universo, ambas questões serão discutidas a seguir.

O filósofo indiano Vishal Mangalwadi, escrevendo sobre a história da ciência moderna:

A perspectiva científica floresceu na Europa como um desenvolvimento da teologia bíblica medieval nutrida pela igreja. Os teólogos estudavam ciência por motivos bíblicos. Seu espírito científico germinou durante os séculos XII e XIV e floresceu após a Reforma do século XVI.

De semelhante modo, o autor das Crônicas de Nárnia, C.S. Lewis afirma que “os homens se tornaram cientistas porque esperavam haver leis na natureza, e esperavam haver leis na natureza, porque acreditavam num legislador”.

A crença generalizada, na idade média, em um Deus pessoal criador dos céus e da Terra, e que governa o universo com leis fixas foi fundamental para o desenvolvimento da ciência moderna.

Albert North Whiteread em sua obra clássica A ciência e o mundo moderno, conclui, “minha explicação é que a fé na possibilidade da ciência, produzida anteriormente para o desenvolvimento da teoria científica moderna, é um derivado inconsciente da teologia medieval” (grifo nosso).

Também Alister McGrath escreve a respeito da concepção cristã sobre a natureza da criação, “contrária à ideia de que a ordem natural era caótica, irracional ou intrinsecamente má, […] a tradição cristã dos primeiros séculos afirmava que a ordem natural era boa, racional e ordenada, atributos que provinham do fato de ter sido criada por Deus”.

E até mesmo o físico britânico Paul Davies concorda, “na Europa renascentista, a justificativa para o que hoje chamamos de investigação científica era a crença em um Deus racional, cuja ordem criada poderia ser discernida por meio de um cauteloso estudo na natureza”.

Uma profunda fé pessoal em um Deus transcendente pode ser verificado nas obras e na vida da grande maioria dos grandes cientistas do passado, pessoas como Nicolau Copérnico, Francis Bacon, Galileu Galilei, Isaac Newton, Johannes Kepler e Robert Boyle.

Um claro exemplo pode ser encontrado na pessoa do luterano Johannes Kepler, que afirma que “quanto mais o homem avança na penetração dos segredos da natureza, melhor se desvenda a universalidade do plano eterno”.

Kepler também afirmou que “o principal objetivo de todas as investigações do mundo externo é descobrir a ordem racional e a harmonia que foram impostas por Deus e que ele nos revela na linguagem da matemática”.

De forma muito semelhante, o reformador João Calvino, a respeito da educação, afirmou que ela “começa com o primeiro livro de Deus, as Escrituras. Em seguida, compreendendo que toda a verdade vem de Deus. Calvino dizia que devíamos também estudar a verdade que está revelada no segundo livro de Deus, a natureza”.

Demonstrando assim, que embora a cosmovisão cristã em geral fosse essencial para o desenvolvimento da ciência moderna, os países protestantes se mostraram muito mais abertos a pesquisa científica do que os países católicos, que viviam a contra-reforma nesta época, e portanto, estavam desconfiados em relação a qualquer novidade.

Outro exemplo interessante é Robert Boyle, considerado um dos fundadores da química moderna, que, “em seu testamento, destinou parte de sua herança ao financiamento de uma série de palestras no combate ao ateísmo”.

Diante destas informações, Mangalwadi conclui, acerca da importância da reforma protestante para o desenvolvimento da ciência:

A Reforma Protestante despertou o interesse popular na descoberta e no conhecimento da verdade, e isso deu um estímulo à ciência. Os reformadores levaram a sério a exortação de Cristo de que conhecer a verdade leva à libertação. Lutero enfatizou a ideia bíblica do sacerdócio de todos os crentes. Consequentemente todos os seres humanos devem fazer tudo para a glória de Deus. Como tudo existe para a glória de Deus e os céus declaram sua glória, é direito do povo de Deus estudar todas as coisas, até mesmo os céus. Por isso quase todos os pioneiros da ciência eram cristãos e quase todos, cristãos devotos. Ele trabalhavam para a glória de Deus.

Como se não bastasse os pressupostos teístas nas origens da ciência moderna, também as conclusões das descobertas científicas seguem sendo compatíveis com a fé cristã convencional.

Não afirma-se a necessidade de evidências científicas para a fé cristã, antes, a afirmação é de que não há contradições entre a razão humana e a fé cristã, embora a segunda vá além  da primeira.

Conforme McGrath, “A fé não contradiz a razão, mas a transcende por meio de uma jubilosa libertação divina dos frios e austeros limites da razão e da lógica humanas”.

Embora haja uma troca de críticas em relação à teoria da evolução, a ciência moderna tem sido compatível com a crença tradicional em Deus, desde as evidências científicas que apontam para um início absoluto para o universo, o ajuste preciso que possibilita a vida baseada em carbono, até a inteligibilidade e beleza presentes em todo o cosmo, assim como nossa capacidade de conhecê-lo e decifrá-lo.

Conforme o físico e sacerdote anglicano John Polkinghorne afirma, “a ciência moderna parece, quase de forma irresistível, apontar para além de si mesma”.

O matemático de Oxford, John Lennox discorre mais sobre isto:

O universo contém certas pistas sobre nosso relacionamento com ele, pistas que são cientificamente acessíveis. A inteligibilidade racional do universo, por exemplo, aponta para a existência de uma Mente que foi responsável tanto pelo universo quanto por nossas mentes. É por esse motivo que nós podemos fazer ciência e descobrir as belas estruturas matemáticas latentes nos fenômenos que observamos. Não só isso, mas também nossa crescente percepção da sintonia fina do universo em geral, e do planeta Terra em particular, é consistente com a muito difundida consciência de que fomos concebidos para estarmos aqui. A Terra é nossa casa[23].

Tal conhecimento científico leva até mesmo ateus como Stephen Hawking a admitir que “afirmar que existe um ser responsável pelas leis da física seria totalmente consistente com tudo o que conhecemos”.

Diante disto, não há motivos para a igreja de Cristo temer o desenvolvimento científico, como se o mesmo representasse um perigo para a fé em Deus.

Igualmente, não há motivos para que os estudantes sejam pressionados pelos seguidores de Dawkins, Dennett e Harris para fazerem uma escolha entre a ciência ou a fé pessoal, mas o oposto é verdadeiro, sua fé em um Deus que criou o universo de forma racional deve despertar ainda mais seu amor pela descoberta científica, fazendo com que se destaquem no meio da comunidade científica.

Conforme destaca, de maneira tão inspiradora, Jennifer Wiseman, astrofísica do Goddard Space Flight Center, da NASA:

As coisas que temos descoberto como cientistas, nos deixam de queixo caído e mudam o que tradicionalmente pensávamos sobre de onde viemos ou sobre a origem do universo; isso não é algo diante do qual devemos nos sentir ameaçados, mas sim empolgados. São novos tesouros que Deus nos permite descobrir, segredos que ele sempre conheceu. Porém, apenas agora recebemos as ferramentas e a capacidade de compreender mais e mais sobre a criação e sobre o universo. Não deveríamos nos sentir ameaçados ou hostis diante disso: deveríamos antes tomar posse do que nos é dado. Essa é a criação de Deus e os cristãos de todos os povos deveriam ser os mais entusiasmados a respeito dela, se cremos de fato que o Deus que se mostrou em Cristo é o Senhor de tudo – de todo o tempo e de todo o espaço. Primeiro essa ideia me surpreendeu, mas depois me libertou para desfrutar as descobertas da ciência, mesmo não sabendo todas as respostas nem como tudo se encaixa.

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