Semeando o Evangelho

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Semear a Verdade e o Amor de Deus

sexta-feira, 6 de julho de 2018

ELEMENTOS, FORMAS E CIRCUNSTÂNCIAS DO CULTO

Devemos fazer no culto aquilo que está de “acordo com as Escrituras”. Devemos nos limitar àquelas coisas que Deus mesmo autorizou e prometeu abençoar. Isso não é algo odioso ou um fardo pesado de carregar. É somente uma questão de aceitar aquelas atividades ou elementos da adoração que Deus autorizou, e aos quais Ele vinculou as Sua promessas. O princípio regulador flui necessariamente de todo sistema da Teologia Reformada.

Isso nos leva à seguinte questão: O quê, especificamente, Ele autorizou? Quais são os elementos que Ele ordenou para o culto? A Confissão especifica:

Orações, com ações de graça (…) leitura das Escrituras, com santo temor (…) a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela (…) o cântico de Salmos com gratidão no coração; bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo – são todos parte do culto comum oferecido a Deus (xxxi.ui,v).

Acrescentando, ela fala de elementos ocasionais, tais como juramentos religiosos” e “votos” (credos, pactos de membresia e votos de ordenação) como parte legítima do “culto religioso” (xxi.v, xxii.i). Textos como Atos 2:42 nos dão um vislumbre da adoração na igreja primitiva, com um uso simples da Palavra, dos sacramentos e da oração. Vemos também o apóstolo Paulo regulamentando a oração (1Co 11:2-16; 14:14-17; 2Tm 2:1-3), os cânticos de louvor (1Co 14:26,27; Cl 3:16; Ef 5:19), a ministração da Palavra (1Co 14:29-33; 1Tm 4:13; 2Tm 4:1,2), o Ofertório (1Co 16:1,2) e a Santa Ceia (1Co 11:17-34). Esses parecem ter sido os elementos regulares do culto na igreja apostólica. A oração, a leitura das Escrituras, a pregação das Escrituras, o cântico de Salmos, a ministração dos sacramentos e os juramentos religiosos, são todos feitos “de acordo com as Escrituras”, modelados pelo exemplo apostólico, regulados pelas ordenanças apostólicas e acompanhados pelas divinas promessas de bênçãos.

A esta altura, alguém de opinião contrária poderá perguntar sobre o púlpito, os hinários, as luzes, os microfones e questionar a consistência com a qual o princípio regulador está sendo aplicado. Onde se encontra, nas Escrituras, a permissão para essas inovações? A tradição Reformada, e especialmente os Padrões de Westminster, distinguem entre elementos (que são determinados pelas Escrituras e não podem ser mudados), formas (o conteúdo dos elementos, a respeito dos quais há bastante liberdade) e circunstâncias, que são governadas por considerações mais abrangentes. Por exemplo, o elemento da oração pode ser expresso por meio da forma escrita ou da extemporânea. O elemento da pregação pode ser textual ou tópico quanto à forma. O elemento da leitura das Escrituras pode ser expresso de várias formas: uns poucos versículos ou um capítulo ou mais, de Gênesis a Apocalipse, ou em qualquer lugar entre ambos. Em cada um desses casos, a forma é o conteúdo e estrutura pelos quais o elemento é expresso.

A forma tem seus limites (não se pode representar ou “dançar um sermão” ou representar por mímica a oração, mormente porque dramatização, dança e mímica não são formas de pregação e oração, mas elementos novos, não obstante a argumentação dos seus proponentes), mas há uma gama de escolhas. T. David Gordon reconhece que essa categoria “parece ser menos conhecida que a categoria dos “elementos” ou “circunstâncias”. No entanto, esta tem sido uma parte importante da discussão sobre a adoração desde a Reforma. Por exemplo, Calvino publicou uma Forma de Orações para a Igreja (1542) e o Catecismo Maior, e muitos autores Reformados, desde então, têm se referido à Oração do Senhor como uma forma de oração e várias formas de oração para a família e orações públicas têm sido publicadas através dos anos. Também debates sobre formas “livres” versus formas “fixas” de adoração, têm sido travados pelos Presbiterianos desde os dias dos Puritanos. Uma familiaridade superficial com a literatura clássica do Protestantismo, atestará o que estarmos dizendo. “Forma” é a palavra tradicionalmente usada para identificar o conteúdo de um elemento e a maneira corno ele está estruturado.

As circunstâncias são mencionadas pela Confissão:

(…) há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus, comuns às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas (i.xvi).

A “luz da natureza”, a “prudência cristã” e as “regras gerais da Palavra” nos ajudam a resolver questões circunstanciais que são “comuns às ações humanas e à sociedade”, isto é, comuns aos ajuntamentos públicos. Por exemplo, todas assembleias públicas devem resolver assuntos de iluminação, amplificação sonora, horário e lugar das reuniões, se haverá canto ou responso grupal, ou corno prover textos para o grupo. Como serão essas questões resolvidas? Pela utilização da “prudência cristã” ou de um senso espiritual comum. Não devemos esperar que a Escritura apresente textos sobre essas questões. Voltando ao exemplo da oração, eu posso fazer no culto (trata-se de um elemento autorizado) uma oração extemporânea ou escrita (questão de forma), usando ou não um microfone (questão de circunstância). Posso pregar (elemento) sobre o Evangelho de Marcos ou Lucas (forma) numa assembleia toda iluminada por luz elétrica ou lamparinas (circunstâncias).

Então deve haver uma consistência na aplicação do princípio regulador, que reconheça a importante distinção entre elementos, que requer sanção escriturística (por meio de mandamento, exemplo ou dedução); liberdade nas formas e senso comum nas circunstâncias. O princípio regulador, como esboçado, demonstra o que o povo Reformado entende por adoração que é “de acordo com as Escrituras”. Isso resume a visão Reformada de culto. Sem dúvida isso é Calvinismo em adoração”, como disse T. David Gordon. Esse é o princípio histórico pelo qual a igreja Reformada tem enunciado o seu entendimento da ordem de Jesus quanto à adoração “em verdade”.

Autor: Terry L. Johnson

Trecho extraído do livro Adoração Reformada, pág 49-53. Editora: Monergismo

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