Por Sam Storms
Em um artigo anterior, nós vimos 10 coisas que devemos saber acerca do Espírito Santo. No presente artigo, vamos falar do trabalho do Espírito Santo.
1) O Espírito Santo serve-nos como um “pagamento inicial” sobre a herança futura da nossa salvação (2 Coríntios 1:21-22; 5:5; Efésios 1:14).
O termo arrabon, traduzido como “pagamento inicial”, era utilizado em transações comerciais para se referir à primeira parcela do valor total devido. O adiantamento efetivamente garantia o cumprimento de quaisquer obrigações contratuais assumidas. O Espírito, portanto, diz Gordon Fee, “serve como o pagamento de Deus em nossas vidas atuais, a evidência certa de que o futuro entrou no presente, a garantia segura de que o futuro será realizado em plena medida” (Presença Poderosa de Deus, 807).
Contudo, há mais. Como diz Peter O’Brien, ao nos dar o Espírito Santo, “Deus não está simplesmente nos prometendo a nossa herança final, mas, na verdade, nos proporciona um “adiantamento”, mesmo que seja apenas uma pequena fração da dotação futura” (121). Em outras palavras, se você quer saber em parte o que a vida na era futura será, medite sobre a presença gloriosa, reconfortante e capacitadora do Espírito em seu coração agora mesmo!
2) O Espírito Santo também serve para nos fornecer os “primeiros frutos” da nossa salvação (Romanos 8:23).
Essa metáfora também é extraída da ressurreição de Cristo como a nossa garantia (1 Coríntios 15:20, 23). Semelhante à ideia por trás do “pagamento inicial”, o Espírito Santo, como “o primeiro feixe”, é a promessa de Deus para nós da colheita final. Assim, o Espírito desempenha um papel essencial na nossa existência presente, como evidência, e garante que o futuro é ao mesmo tempo agora e ainda não (Fee, 807).
3) O Espírito Santo também é retratado na Escritura como o “selo” da nossa salvação (2 Coríntios 1:21-22; Efésios 1:13; 4:30).
Há, pelo menos, três ideias envolvidas no Espírito como um “selo”. Primeiro, um selo serve para autenticar (João 3:33; 6:27; 1 Coríntios 9:2) ou confirmar algo como genuíno ou verdadeiro, incluindo a ideia de que o que é selado é carimbado com o caráter do seu dono. Segundo, um selo serve para designar ou marcar como uma propriedade, para declarar e comunicar a propriedade (ver Apocalipse 7:3-8; 9:4). Finalmente, o Espírito Santo serve para tornar seguro ou para estabelecer (isto é, proteger, ver Efésios 4:30; Mateus 27:66; Apocalipse 20:3) nossa relação com Jesus Cristo.
Alguém poderia perguntar: “Com o que somos selados?” A resposta é simples: com o Espírito Santo. Em outras palavras, o próprio Espírito sela e é o selo. Portanto, o selo é a recepção e a consequente permanência do Espírito Santo em nossas vidas.
Outra pergunta também é frequentemente proposta: “Quando esta selagem acontece?” Paulo responde em Efésios 1:13: “Nele também vocês, depois que ouviram a palavra da verdade, o evangelho da salvação, tendo nele também crido, receberam o selo do Espírito Santo da promessa”. Destarte, somos selados quando ouvimos a palavra da verdade e acreditamos no evangelho.
4) O Espírito Santo não somente assegura nossa salvação por meio da graça salvadora, mas também funciona no mundo e na vida dos não-cristãos através do que é chamado de “graça comum”. O que é “graça comum”? Charles Hodge define desta maneira:
O Espírito Santo, como o Espírito da verdade, da santidade e da vida em todas as suas formas, está presente com cada mente humana, reforçando a verdade, restringindo o mal, impelindo ao bem e conferindo sabedoria ou força, quando, onde e na medida em que lhe parece bom. Isto é o que na teologia é chamado de “graça comum” (Teologia sistemática, 2: 667).
Abraham Kuyper define graça comum como:
Aquele ato de Deus pelo qual negativamente Ele restringe as operações de Satanás, a morte e o pecado, e pelo qual, positivamente, ele cria um estado intermediário para este cosmos, bem como para nossa raça humana, que é e continua sendo profundamente e radicalmente pecaminoso, mas em que o pecado não pode operar em seu fim (Princípios da Teologia Sagrada, 279).
Uma definição mais simples e mais direta de graça comum é dada por John Murray. Graça comum, ele escreve, “é todo o favor de qualquer tipo ou grau, ficando aquém da salvação, que este mundo imerecido e maldito pelo pecado desfruta na mão de Deus” (Escritos coletados de John Murray , 2:96).
5) O Espírito Santo é o elemento, por assim dizer, em que todos os cristãos são batizados ou “imersos” no momento da conversão. Nós lemos isso em 1 Coríntios 12:12-13: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, constituem um só corpo, assim também é com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” ( 1 Coríntios 12:12-13 ).
Aqui, o apóstolo Paulo está usando duas metáforas vívidas para descrever nossa experiência com o Espírito Santo no momento da conversão, no momento em que nos tornamos membros do corpo de Cristo, a Igreja:
Batismo, ou imersão no Espírito Santo, e bebendo para o enchimento do Espírito Santo, cujo propósito ou objetivo é unir todos nós em um só corpo.
Assim, nossa “saturação” com o Espírito, nossa experiência de “submergir”, ser “inundado” e “ser cheio” pelo Espírito Santo resulta em nossa participação no organismo espiritual do corpo de Cristo, a Igreja.
6) Devemos distinguir entre ser batizado e ser cheio do Espírito Santo Espírito Santo.
O batismo espiritual é uma metáfora que descreve a nossa recepção do Espírito Santo no momento da nossa conversão a Jesus em fé e arrependimento. Quando acreditamos e somos justificados, somos, por assim dizer, submergidos, inundados pelo Espírito; estamos, por assim dizer, imersos e cheios pelo Espírito. O batismo espiritual é, portanto, instantâneo (ou seja, não é um processo), simultâneo à conversão, universal (ou seja, todos os cristãos são recipientes), não repetível e permanente.
O enchimento do Espírito também é uma metáfora que descreve nossa contínua experiência e apropriação do mesmo. Ser cheio com o Espírito é passar por uma influência progressivamente mais intensa e íntima do Espírito. O enchimento do Espírito pode ser perdido e subsequentemente experimentado novamente, em várias ocasiões, ao longo da vida cristã.
7) Existem dois sentidos nos quais um crente pode ser cheio com o Espírito Santo. Primeiro, há textos que descrevem as pessoas como “cheias do Espírito Santo” como se fosse uma condição ou qualidade consistente do caráter cristão, uma disposição moral, possuindo e refletindo a maturidade em Cristo (ver Lucas 4:1; Atos 6:3, 5; 7:55; 11:24; 13:52). Esta é a condição “ideal” de cada cristão. Enfatiza o estado permanente de enchimento.
Segundo, existem textos que descrevem as pessoas como “cheias do Espírito Santo” para que possam cumprir ou executar uma tarefa especial ou equipá-las para o serviço ou ministério. Isso pode ser ao longo da vida, para um serviço ou ministério particular (ver Lucas 1:15-17; Atos 9:17); ou pode ocorrer em uma emergência espiritual. Este último seria uma capacitação imediata e especial de poder para cumprir uma tarefa especialmente importante e urgente. Assim, alguém que já está cheio com o Espírito pode experimentar um enchimento novo/adicional. Ou seja, não importa o quanto do Espírito Santo possa ter, sempre há espaço para mais (veja Atos 4:8, 31; 13:9; Lucas 1:41, 67 )! Também, em Atos 7:55, Estêvão, embora “cheio do Espírito Santo”, ficou novamente “cheio” com o Espírito para prepará-lo para suportar a perseguição e eventual martírio, bem como para “ter” a visão de Jesus.
8) Ser cheio com o Espírito é diferente de ser batizado no Espírito. Há um só batismo, mas enchimentos múltiplos. Em nenhum texto do NT, nós somos ordenados a sermos batizados no Espírito Santo. Não há recurso para fazer algo para ser batizado; nenhuma exortação, nenhum imperativo. Por outro lado, somos ordenados a sermos cheios com o Espírito Santo ( Efésios 5:18).
9) É possível ser batizado no Espírito Santo, experimentar a habitação permanente do Espírito, e ainda não ser cheio com o mesmo (os crentes coríntios podem muito bem ser um exemplo disso). Ser “cheio do Espírito Santo” é refletir uma maturidade de caráter; é a condição ideal de cada crente. Estar “cheio do Espírito Santo” é experimentar uma unção de poder, santidade, proclamação e louvor.
10) Devemos lembrar que o Espírito Santo não batiza ninguém. Jesus é aquele que batiza “no” Espírito Santo. O Espírito é aquele em quem estamos imersos e, portanto, aquele que continua para sempre habitando em nós e nos capacitando.
Em todos os textos referentes ao batismo do Espírito, a preposição grega en significa “em”, descrevendo o elemento em que se está, por assim dizer, imerso. Em nenhum texto, o Espírito Santo nunca disse ser o agente pelo qual alguém é batizado. Jesus é o batizador. O Espírito é aquele em quem estamos envolvidos ou o “elemento” com o qual estamos saturados.
Deve-se notar que, no NT, para ser batizado “por” alguém sempre é expresso pela preposição hupo seguido por um substantivo genitivo. As pessoas foram batizadas “por” João Batista, no rio Jordão (Mateus 3:6; Marcos 1:5; Lucas 3:7). Jesus foi batizado “por” João (Mateus 3:13; Marcos 1:9). Os fariseus não foram batizados “por” João (Lucas 7:30 ), etc. Muito provavelmente, se Paulo quisesse dizer que os coríntios tinham sido batizados “pelo” Espírito Santo, ele teria usado hupo com o genitivo, não en com o dativo.
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