Por John MacArthur
Ao longo da história, epidemias mortais devastaram a humanidade. No século 14, a infame Morte Negra (um surto de peste bubônica) matou milhões na Europa. Cólera, difteria, malária e outras doenças devastaram vilas e cidades. Nossa geração testemunhou a rápida disseminação da doença fatal Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Com efeito, mais mortal do que qualquer uma dessas doenças, é a praga do falso ensino que aflige a igreja ao longo de sua história. Enquanto a doença pode matar o corpo, o falso ensino condena a alma.
Como a AIDS e a peste, o falso ensino tem uma patologia definida e observável: os elementos da anormalidade que caracterizam uma doença. Os cientistas estudam a patologia de uma doença para se equipar melhor para reconhecê-la e combatê-la.
Todo líder da igreja deve ser um patologista espiritual, capaz de discernir desvios da saúde espiritual. Só então ele estará equipado para diagnosticar a doença mortal do falso ensino, e fazer o que for necessário para verificar a sua disseminação entre o seu povo. Paulo advertiu sobre o perigo sutil das mentiras satânicas, descrevendo seus propagadores como
falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não deveria surpreender que os seus próprios ministros se disfarcem em ministros de justiça. O fim deles será conforme as suas obras (2 Coríntios 11:13-15).
É preciso um discernimento cuidadoso para ver que a luz é realmente escuridão. Paulo ensinou a Timóteo como diagnosticar a escuridão satânica disfarçada de luz divina. Veja como ele descreveu os principais sintomas que identificam os infectados com a doença espiritual do falso ensino:
Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, esse é orgulhoso e não entende nada, mas tem um desejo doentio por discussões e brigas a respeito de palavras. É daí que nascem a inveja, a provocação, as difamações, as suspeitas malignas e as polêmicas sem fim da parte de pessoas cuja mente é pervertida e que estão privadas da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro (1 Timóteo 6:3-5).
O primeiro sintoma dos falsos mestres é o que eles afirmam. Um falso mestre “defende uma doutrina diferente”. O falso ensino pode assumir muitas formas. Pode negar a existência de Deus ou ensinar algo errado sobre sua natureza e atributos, pode negar a Trindade. O erro sobre a pessoa e o trabalho de Cristo também é comum em sistemas falsos. Aqueles que negam Seu nascimento virginal, perfeição sem pecado, morte substitutiva, ressurreição corporal ou regresso futuro, mostram sinais de uma infecção perigosa. Os falsos mestres também ensinam erroneamente sobre a natureza, a pessoa e a obra do Espírito Santo. Outra linhagem da doença do falso ensino nega a autenticidade, inspiração, autoridade ou inerrância da Escritura.
Ao mesmo tempo, outra marca dos falsos mestres é o que eles negam. O ensino deles não apenas corrobora o erro, mas também “não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Timóteo 6:3). Os falsos mestres não estão de acordo com palavras espiritualmente saudáveis e benéficas. Os crentes precisam estar atentos, pois o ensino saudável é repetidamente enfatizado nas Epístolas Pastorais (cf. 1 Timóteo 1:10; 2 Timóteo 1:13; Tito 1:9; 2:1).
Falsos mestres não estão comprometidos com as Escrituras. Eles podem falar de Jesus e do Pai, mas o foco de seus ministérios não será a Palavra de Deus. Eles irão adicionar, extrair, interpretar de alguma forma herética, adicionar outras “revelações” ou negar completamente as Escrituras.
Um terceiro sintoma dos falsos mestres é a rejeição do “ensino segundo a piedade” (1 Timóteo 6:3). O teste final de qualquer ensinamento é se ele gera piedade. Não ensinar baseado nas Escrituras resultará em uma vida profana. Em vez de piedade, os amores dos falsos mestres serão caracterizados pelo pecado (2 Pedro 2:10-22; Judas 4, 8, 16).
A atitude dos falsos mestres pode ser resumida em só uma palavra: orgulho. É preciso um ego imenso para se colocar como juiz da Bíblia. Tal egoísmo descaradamente usurpa o lugar de Deus. “Orgulhoso” tuphoō , em 1 Timóteo 6:4, implica arrogância, uma marca inevitável de falsos mestres. Estabelecer o próprio ensino como superior à Palavra de Deus é o epítome da presunção. Os falsos mestres têm um senso excessivo de sua própria importância, não hesitando em se rebelar contra Deus e Sua Palavra. Isso meramente confirma que eles estão infectados com uma doença espiritual mortal.
Falsos mestres também são expostos através de sua mentalidade. Embora um falso profeta possa estar cheio de orgulho sobre o seu suposto conhecimento, Paulo diz que, na realidade, “ele não entende nada ” (1 Timóteo 6: 4). Toda a inteligência imaginada, pretensa erudição e supostos insights mais profundos equivale à mera loucura para com Deus (Romanos 1:22; 1 Coríntios 2:9-16). Pela falta de discernimento sobre a verdade espiritual, a sabedoria deles “não é aquela que desce do alto, mas é terrena, natural e demoníaca” (Tiago 3:15). Aqueles que conhecem e creem na Palavra de Deus têm muito mais discernimento sobre a realidade espiritual do que o herege mais instruído.
Em vez de se concentrar na verdade, os falsos mestres têm “um interesse mórbido em questões controversas e disputas sobre palavras” (1 Timóteo 6:4). Entregam-se à teorização pseudointelectual, em vez de ao estudo produtivo e à submissão à Palavra de Deus.
O falso ensino também falha em sua incapacidade de produzir unidade (1 Timóteo 6:4-5). As batalhas de palavras de falsos mestres resulta em caos e confusão. “Inveja” é o descontentamento interior com as vantagens ou popularidade de outros. Isso resulta em “provocação”, que muitas vezes se manifesta em “difamações” e “suspeitas malignas”. O resultado líquido do falso ensino são as “polêmicas intermináveis”. Os falsos mestres constantemente se esfregam no caminho errado. Isso ajuda a espalhar sua doença espiritual, assim como as ovelhas podem se esfregar e infectar umas às outras. O falso ensino nunca pode produzir unidade; apenas a verdade unifica.
A causa externa do falso ensino é o engano satânico (1 Timóteo 4:1). A causa interna, no entanto, é a mente depravada ou não regenerada do falso mestre. “A mente carnal”, escreve Paulo, “é hostil para com Deus” (Romanos 8:7). Tal mente não funciona normalmente no reino espiritual; não reage normalmente à verdade. Sendo homens naturais, os falsos mestres não podem entender as coisas de Deus, pois são tolas para eles (1 Coríntios 2:14). Como resultado, “Deus os entrega a uma mente depravada” (Romanos 1:28; cf. Efésios 2:1–3; 4:17–19).
A condição espiritual dos falsos mestres é crítica: eles estão em estado de apostasia. “Privada”, em 1 Timóteo 6:5, indica que alguém ou algo os afastou da verdade. Isso não implica que eles foram salvos, mas que eles tiveram contato com a verdade. Como os descritos em Hebreus 6:4–6, eles foram completamente expostos à verdade, mas a rejeitaram.
Infelizmente, o prognóstico deles não é esperançoso. A condição espiritual é terminal. Aqueles que são privados da verdade estão a caminho do julgamento. Hebreus 6:6 adverte solenemente sobre tais homens que “é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à zombaria”. Pedro diz que eles trazem “repentina destruição sobre si mesmos” (2 Pedro 2:1). O mais severo inferno será reservado para aqueles que, tendo sido expostos à verdade, se afastaram dela (cf. Hebreus 10:26-31).
Finalmente, os falsos mestres têm uma motivação simples: dinheiro. Eles “imaginam que a piedade” (1 Timóteo 6:5, usada sarcasticamente para uma falsa piedade) lhes trará lucro. Ao contrário de Paulo, eles não podem dizer: “Não cobicei prata, nem ouro nem roupa” (Atos 20:33). Simplificando, eles não estão “livres do amor ao dinheiro” (1 Timóteo 3:3).
A patologia dos falsos mestres é clara: eles negam a verdade, e seu ensino não produz uma vida piedosa. Eles são arrogantes e espiritualmente ignorantes sobre a verdade. Eles gastam seu tempo em especulações tolas que levam apenas ao caos e à divisão. Tendo abandonado a verdade, eles enfrentam a destruição eterna. Eles servem ao dinheiro, não a Deus. A igreja deve ter extremo cuidado para não permitir que esses homens espalhem sua doença mortal. A epidemia resultante seria trágica.
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