Semeando o Evangelho

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sábado, 15 de dezembro de 2018

PROCLAMAÇÃO E ADORAÇÃO: O PÚLPITO COMO INSTRUMENTO DE LOUVOR (PARTE 1)

Por John McAlister

Mesmo que você jamais tenha assistido a uma apresentação de uma orquestra sinfônica, você deve saber que antes da orquestra se apresentar, cada músico deve afinar o seu instrumento antes do espetáculo começar. E como se dá a afinação dos instrumentos de uma orquestra? Para quem não sabe, cabe ao primeiro-violino (também conhecido como spalla ou concertino) servir de referência para a afinação da orquestra. O primeiro-violino é o último músico a tomar o seu lugar na plataforma após a entrada dos seus demais colegas, antes da entrada do maestro ou regente. É possível reconhecê-lo também pelo seu lugar de destaque, logo à esquerda do maestro. Antes que este assuma o comando da orquestra, cabe ao primeiro-violino conduzir a afinação do restante da orquestra. E por que é necessário que todos afinem os seus instrumentos por um único instrumento? Pois, se todos estiverem afinados com o primeiro-violino, eles também estarão afinados uns com os outros (algo que não aconteceria caso cada músico tentasse afinar o seu instrumento pelo do seu colega mais próximo, o que acarretaria em pequenas variações na afinação até chegar ao último música da orquestra, comprometendo toda a afinação do conjunto).

O que tudo isso tem a ver com o assunto de louvor e adoração, especialmente com o púlpito como instrumento de louvor na igreja? Sem querer forçar demais a metáfora, propomos que a orquestra representa o conjunto de membros da congregação que oferece o seu louvor a Deus (cada um com seu conjunto de talentos musicais, mesmo que seja apenas a sua voz!). O regente dessa ‘orquestra-congregação’ é o próprio Senhor da Igreja, Jesus Cristo, que conduz o seu povo em adoração conforme a pauta das Escrituras Sagradas (isto é, a sinfonia bíblica e dramática que inclui os movimentos da Criação, da Queda, da Redenção e da Consumação de todas as coisas em Cristo Jesus). Mas, em sua absoluta soberania e autoridade, o regente dessa orquestra-congregação estabeleceu um instrumento (i.e. o primeiro-violino) para servir de referência para a afinação do restante da orquestra: no caso, o púlpito (ou a exposição fiel das Sagradas Escrituras). Assim como o primeiro-violino integra a orquestra e colabora com a apresentação musical do conjunto, a pregação da Palavra de Deus é um componente dentre vários que constituem o serviço de louvor e adoração da igreja ao seu Senhor. Porém, assim como o primeiro-violino destaca-se dentre os demais instrumentos pela sua função de referência na orquestra, assim também o púlpito destaca-se dentre os demais serviços da igreja pelo seu papel de referência na congregação. Mas, por quê?

A centralidade da pregação no louvor e na adoração da igreja
Por que o púlpito ou a pregação da Palavra de Deus representa o instrumento principal de louvor e adoração da igreja? Curiosamente, esta é uma pergunta própria da nossa época que marginalizou e deslocou a exposição fiel, contínua e sistemática das Escrituras Sagradas do seu lugar central no culto da igreja. Vivemos na geração “Imagem e Ação” e não mais na geração “Palavra e Reflexão”. Por isso, somos mais cativados e movidos pelo que vemos e fazemos na igreja do que pelo que ouvimos e sobre o qual refletimos dentro da igreja. Basta comparar a mudança radical na arquitetura e na disposição dos elementos em destaque na maioria dos templos evangélicos atuais. Se em gerações passadas o elemento central de destaque em uma igreja evangélica era o púlpito – o lugar de onde o pregador anunciava com autoridade a mensagem das Sagradas Escrituras – hoje esse lugar foi tomado por uma parafernália musical e teatral hollywoodiana (i.e. palco, luzes, telas, instrumentos musicais e afins) de onde uma série de personagens da congregação expressam seus rasgos de emoção sob a rubrica de “louvor e adoração”. Tal mudança arquitetônica nas igrejas evangélicas revela outra mudança litúrgica: o tempo médio de pregação da Palavra de Deus em um culto evangélico está cada vez mais reduzido e espremido entre uma série de apresentações, anúncios e apelos musicais e teatrais que consomem hoje a maior parte do culto público. Contudo, tais mudanças na igreja revelam outra mudança mais profunda e teológica: Deus e sua Palavra tem sido colocados de lado para darem espaço ao ser humano e à sua voz no centro do culto público.

Porém, será que existem boas razões para voltarmos a considerar como centrais o púlpito e a proclamação da Palavra no culto público da igreja? Cremos que sim. Como disse certa vez o falecido Pr. James Montgomery Boice: “Para louvarmos a Deus precisamos saber quem Deus é; mas, não podemos saber quem Deus é a não ser que Ele primeiro decida revelar-se a nós. Deus já o fez nas Escrituras Sagradas; por isso, as Escrituras e o ensino das Escrituras precisam ser centrais em nosso louvor a Deus.”

Aí está: as Escrituras e o ensino das Escrituras devem ser centrais em nosso louvor a Deus pelo simples fato de que Deus e a sua Palavra devem ter a primazia em tudo que a igreja é e faz, inclusive no seu culto ao Senhor. Deus fala primeiro por meio da sua Palavra; então, nós respondemos com nossos atos de louvor e adoração conforme esta Palavra.

Posto de outra forma, o Senhor da Igreja, Jesus Cristo, estabeleceu o púlpito – o lugar de leitura e exposição da Palavra – como o instrumento de afinação do restante do louvor da congregação (assim como um regente que designa o primeiro-violino para afinar os demais membros da orquestra). Quem ocupa o púlpito é mais um adorador como os demais membros da congregação (assim como o primeiro-violino é um dentre os demais músicos que compõem a orquestra). Porém, o Senhor conferiu ao instrumento do púlpito o lugar central de afinação e regência do culto da igreja – não pelos méritos de quem ocupa o púlpito, mas pelos méritos da Palavra que é lida e proclamada deste púlpito. (cf. 2Tm 3.16-17).

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