Semeando o Evangelho

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Semear a Verdade e o Amor de Deus

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

PORQUE SEMINARISTAS COSTUMAM PERDER A FÉ?

Por Augustus Nicodemus

Não quero dizer que acontece com todos, mas acontece com muitos. Conheço vários casos, inclusive próximos a mim, de jovens cristãos fervorosos, dedicados, crentes, compromissados com Deus, que gostavam de orar e ler a Bíblia, que evangelizavam a tempo e fora de tempo, e que, depois de entrar no seminário ou na faculdade de teologia, esfriaram na fé, se tornaram confusos, críticos, incertos e até cínicos. Como Tomé, não conseguem crer (espero que ao final venham a crer, como graciosamente aconteceu com Tomé).

E isso pode acontecer até mesmo em seminários cujos professores são conservadores, que acreditam na Bíblia de capa a capa. Esse quase foi o meu caso. Após minha conversão em 1977, depois de uma vida desregrada e dissoluta, dediquei-me à pregação do evangelho e a plantar igrejas. Larguei meu curso de desenho industrial na Universidade Federal de Pernambuco e fui trabalhar como obreiro no litoral de Olinda, pregando a uma comunidade de pescadores, depois entre plantadores de cana no interior de Pernambuco e, finalmente, entre viciados em drogas no Recife. Todos me aconselhavam cursar o seminário e a me tornar pastor. Eu resistia, pois tinha receio de que quatro anos em um seminário poderiam esfriar meu ânimo, meu zelo, minha paixão pelas almas perdidas. Eu conhecia vários seminaristas e não tinha a menor intenção de me tornar como eles. Finalmente, cedi. Entrei no seminário com 24 anos, provavelmente como um dos mais relutantes candidatos ao ministério que passara por aquelas portas. Tive professores muito abençoados que me ensinaram teologia, Bíblia, história, aconselhamento. Eram todos, sem exceção, homens de Deus, comprometidos com a infalibilidade das Escrituras e com a teologia reformada. Tenho que confessar, porém, que nesse período esfriei bastante. Perdi em parte aquele zelo evangelístico, a prática de dedicar várias horas diárias para ler a Bíblia e orar. O contato com a história da Igreja, a história das doutrinas, as controvérsias, além da carga tremenda de leituras e trabalhos a serem feitos, tudo isso teve impacto na minha vida devocional. Pela graça de Deus, durante esse período permaneci ligado ao trabalho evangelístico, à pregação. Mantive-me em comunhão com outros colegas que também amavam o Senhor, e juntos orávamos, discutíamos, compartilhávamos nossas angústias, alegrias, dificuldades e nossos planos futuros. Saí do seminário arranhado, embora continue crente até hoje.

Infelizmente, esse não é o caso de muitos. Além desses casos que eu mencionei, conheço vários outros de seminaristas, estudantes de teologia, que perderam a fé, o zelo, o fervor, a confiança, e que saíram do seminário totalmente diferentes daqueles jovens entusiasmados, evangelistas, que um dia entraram na sala de aula ansiosos por aprender mais de Deus e da sua Palavra.

Existem algumas razões pelas quais essa história tem se tornado cada vez mais comum. Coloco aqui as que considero mais relevantes, sempre lembrando que muitos seminários e escolas de teologia levam muito a sério a questão da ortodoxia bíblica e do cultivo da vida espiritual de seus alunos. Não é a eles que me refiro aqui.

1. Acho que tudo começa quando as denominações mandam para os seminários e faculdades de teologia jovens que não têm absolutamente a menor condição de serem pastores, professores, obreiros e pregadores. Muitos são enviados sem nenhum preparo intelectual, espiritual e emocional. Alguns mal completaram dezessete anos e vão estudar teologia simplesmente porque são líderes destacados dos adolescentes em sua congregação, ministros do grupo de louvor ou filhos de pessoas influentes da igreja. Não é sem razão que Paulo orienta que o líder não pode ser neófito, isto é, novo na fé (1Tm 3:6). Eles não têm estrutura intelectual, bíblica e emocional para interagir criticamente com os livros dos liberais e com os professores liberais que vão encontrar aos montes em algumas das instituições para onde serão mandados. Não estarão inoculados preventivamente contra o veneno que professores liberais costumam destilar em sala de aula.

2. Acho também que a culpa é das denominações que mantêm professores liberais (ou conservadores frios espiritualmente) nas cátedras de suas escolas de teologia. O que um professor que não acredita em Deus, nem que a Bíblia é a Palavra de Deus, e além de tudo não ora, tem para ensinar a jovens que estão na sala de aula para aprender mais de Deus e de sua Palavra? Há seminários e escolas de teologia que mantêm no corpo docente professores que nem vão mais a uma igreja local, que usam o título de pastor apenas para ocupar uma vaga na cátedra dos seminários. Nunca levaram ninguém a Cristo, nem estão interessados nisso. Não têm vida de oração, de piedade. Que exemplo eles poderão dar aos jovens que sentam nas salas de aula com a mente aberta, ansiosos e desejosos de ter modelos de líderes para começar seu próprio ministério?

3. Alguns desses professores chegam a declarar, em tom teoricamente farsesco no primeiro dia de aula, que seu alvo pessoal é “destruir a fé de todos os seus estudantes” antes mesmo que terminem o primeiro ano de estudos. Começam desconstruindo o conceito de que a Bíblia é a infalível e inspirada Palavra de Deus. Com grandes demonstrações de sapiência e erudição, eles mostram os “erros” da Bíblia e o “engano” da igreja cristã ao, “influenciada” pela filosofia grega, elaborar doutrinas como a Trindade, a divindade de Cristo e a expiação. Mesmo sem usar linguagem direta, embora alguns até utilizem, lançam dúvidas sobre a ressurreição literal de Cristo dentre os mortos. A pá de cal na sepultura da fé desses meninos é a vida desses professores. Além de não terem vida devocional alguma, alguns deles incentivam os seus pobres alunos a beber, fumar, frequentar baladas e outros locais. Eles até lideram o grupo Noé (que se encheu de vinho) e o grupo Isaías (“e a casa se encheu de fumo”) nos seminários!

4. Bem, acredito que uma fé que pode ser destruída deve ser destruída mesmo, pois não era autêntica nem sólida. Quanto mais cedo ela for exterminada e substituída por uma fé robusta, enraizada na Palavra de Deus, melhor. Acontece que os professores liberais e os professores conservadores mortos só sabem destruir; eles não têm a menor ideia de como ajudar jovens candidatos ao ministério pastoral a cultivarem uma mente educada, uma fé robusta e uma vida de devoção e consagração a Deus: os primeiros, porque lhes falta; os segundos, devoção. Ao fim de quatro anos de estudo com professores assim, vários desses jovens saem para serem pastores, mas intimamente — alguns, abertamente — estão cheios de dúvidas quanto à Bíblia, quanto a Deus e quanto às principais doutrinas da fé cristã. Estão confusos teologicamente, incertos doutrinariamente e cínicos devocionalmente. Quando entraram nos estudos teológicos, eram jovens que tinham como grande missão de sua vida pregar o evangelho, glorificar a Deus e ganhar o mundo para Cristo. Agora, após quatro anos debaixo do jugo de professores liberais ou conservadores mortos, seu único alvo é conseguir campo para ganhar o pão de cada dia, sustentando a si e à família. Esse tipo de motivação destrói igrejas em curto espaço de tempo.

5. Não podemos deixar de lembrar que, na verdade, se trata de uma guerra espiritual feroz, em que Satanás tenta de todos os modos corromper a singeleza e sinceridade da fé em Cristo, atacando a mente e o coração dos futuros pastores (2Co 11:3). Usando professores sem fé e professores sem vida espiritual, ele procura minar as convicções, a certeza, o fervor e a dedicação dos jovens que se preparam para o ministério. Aqui é pertinente o lema de Calvino, orare et lahutare. Pela oração, os seminaristas poderão escapar da tendência dos estudos teológicos de transformar nossa fé em um esquema doutrinário seco. E, pela labuta nos estudos, poderão se livrar das mentiras dos professores liberais, neo-ortodoxos, libertinos e marxistas.

Eu daria as seguintes sugestões a quem pensa em fazer teologia e depois seguir a carreira pastoral:

Verifique suas motivações. O que leva você a desejar o pastorado? Muitos querem ser pastores porque não conseguem ser mais nada na vida. Não conseguem passar no vestibular para outras carreiras, nem conseguem emprego. Enxergam o pastorado como um caminho fácil para alguma (qualquer uma) colocação profissional.
Procure saber qual a opinião de seus pais, de seus pastores, e de seus amigos mais chegados, que terão coragem de lhe dizer a verdade.
Seja honesto consigo mesmo e responda: você já levou alguém a Cristo? Você tem liderança? Você tem facilidade de comunicação em público e em particular?
Você tem uma vida devocional firme, constante, sólida, em que lê a Bíblia e ora, buscando a face de Deus, com zelo e fervor? Cultiva uma vida santa e reta diante de Deus, odeia o pecado e almeja ser mais e mais santo em seu caminhar?
Um colega de seminário me lembrou recentemente que uma das coisas que o impediram de perder a fé e o fervor, durante o tempo de estudos, foi que ele tenazmente se aproximou dos professores conservadores que eram espirituais, dedicados, fervorosos, que valorizavam a vida com Deus e a santidade. A comunhão com esses homens de Deus foi um refrigério para ele e funcionou como uma âncora nos momentos de tentação e crise.

Lamento pelos jovens que perdem a fé ou o amor a Deus durante os anos de estudos teológicos. Lamento mais ainda pelas igrejas onde eles vão pastorear e onde vão plantar as mesmas sementes de incredulidade e frieza que foram semeadas em sua mente aberta e despreparada por professores sem fé e sem zelo.

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