Semeando o Evangelho

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Semear a Verdade e o Amor de Deus

domingo, 30 de dezembro de 2018

DEUS SE ARREPENDE?

Por Heber Carlos de Campos

Em muitos lugares, as Escrituras afirmam que “Deus se arrependeu”, como em Gênesis 6.5, 6; Êxodo 32.10-14; Jeremias  18.8,10; 26.13; Jonas 3.9,10,42; Amós 7.1-3.

Alguns desses textos dizem respeito a uma mudança da atitude de Deus estudada acima, mas há outros que parecem indicar uma mudança mais séria em Deus, que merecem uma análise mais detalhada.

Esse fenômeno de Deus se “arrependendo” é explicado em teologia como sendo um antropopatismo, isto é, a atribuição de um “sentimento humano” a Deus.

Todavia, há certos “sentimentos” de Deus que são próprios somente dele, e não das criaturas. Os escritores sacros tentaram expressar um sentimento que é próprio de Deus usando palavras que expressam um sentimento unicamente humano. Essas palavras humanas, mesmo que inspiradas, permanecem huma­nas, e não são suficientes para explicar o que a divindade sentiu quando se diz que ele se “arrependeu”.

Uma outra verdade a respeito desta matéria, que está muito clara em vários textos das Escrituras, é que o arrependimento atribuído a Deus não tem o mesmo sentido que o arrependimento atribuído aos homens. Os versos a serem estudados abaixo atestam essa verdade.

De um lado, Deus não tem o “arrependimento” que o homem tem. Deus não é homem para se arrepender. É óbvio que o “arrependimento” que conota erro, falta de planejamento, impotência, etc., não pode ser atribuído a Deus. Essas coisas são próprias de seres criados, além de serem pecadores. O escritor bíblico contrasta o homem finito e pecador com o Deus eterno e imutável:

Nm 23.19 – Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou tendo falado, não o cumprirá?

Isto quer dizer que Deus não possui as coisas próprias de um ser humano. Deus não planeja mal, Deus não erra nos seus objetivos, não pode crescer nem diminuir no seu conhecimento de tudo o que há. No mínimo, o arrependimento de Deus não é igual ao dos seres humanos na sua essência. Nele está a verdade imutável e ele não age como agem os homens, arrependendo-se, isto é, mudando os seus planos ou as suas promessas, por causa da sua impotência ou do seu plano mal feito, ou ainda voltando atrás dos seus pecados.

Sl 110.4 – O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre. segundo a ordem de Melquisedeque.

De outro lado, o arrependimento que Deus tem, o homem não possui. O arrependimento de Deus é singular nele. É impossível para o homem possuir o que é próprio de Deus. No entanto, a expressão hebraica usada é a mesma. Uma das evidências mais fortes de que o arrependimento de Deus não é igual ao dos seres humanos está demonstrada em 1Sm 15.11, que deve ser comparado com 1Sm 15.29. Num mesmo capítulo se diz que Deus se arrepende e que ele não se arre­ pende. Como podemos entender isso? No verso 11, o escritor está se referindo ao arrependimento de Deus; no verso 29, ele se refere ao arrependimento dos homens. Observe que a palavra hebraica é a mesma nos dois casos, mas o sentido não é o mesmo. Eu posso saber com clareza qual é o tipo de arrependimento que os seres humanos possuem, mas não tenho condições de saber qual é o conteúdo do arrependimento em Deus. Certamente, os dois não são da mesma natureza.

Portanto, esse arrependimento, que não é coisa de homem, nós não sabemos exatamente o que possa ser. Se fosse possível ao homem conhecer sobre esse arrependimento, os escritores bíblicos teriam uma palavra mais apropriada. As Escrituras não têm uma palavra apropriada para o “arrependimento de Deus” por­que nenhum ser humano conhece ou pode expressar esse sentimento, porque ele é peculiar a Deus. Então, os escritores sacros tentaram expressar um sentimento que é próprio de Deus com uma palavra que expressa um sentimento próprio de homens. Daí o nome técnico antropopatismo, ao qual já nos referimos acima.

Essas aparentes mudanças ou “arrependimentos” em Deus não indicam que Deus altera alguma coisa em seu ser, propósitos, atributos ou promessas.

Trecho extraído do livro O Ser de Deus e Seus Atributos, pág 197-198. Editora: Cultura Cristã

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