Semeando o Evangelho

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terça-feira, 1 de janeiro de 2019

O TEMPO REALMENTE CURA AS FERIDAS?

Por Barnabas Piper

Há alguns provérbios da sabedoria cultural comum que são tantas vezes citados e repetidos que não percebemos o quanto eles são estúpidos.

Outro dia vi uma entrevista com um homem que estava descrevendo uma situação familiar desfeita. O entrevistador perguntou-lhe se a relação dele com o filho havia melhorado recentemente. Esta foi a sua resposta: “Estou apenas tentando ser paciente. Você sabe, o tempo cura todas as feridas”.

Soa bem. Paciência. Esperando. Cura. O tempo cura todas as feridas… Isso verdadeiramente faz sentido? Pense na analogia. Essa ideia reflete de alguma forma a realidade da cura?

Quando era criança, eu machuquei minha cabeça algumas vezes. Eu caí de uma varanda. Eu bati em uma cerca de corrente em um triciclo (foi um teste para dois dos meus irmãos mais velhos. Eles me puxaram com uma corda de 20 pés pela calçada em alta velocidade. O sangue estragou minha camiseta Twins World Series Champion de 1987. Mas eu não sou amargurado por causa disso). Eu fui atingido na testa por um martelo que saiu da mão de um amigo bastante corpulento. E nem uma vez minha mãe ou qualquer outra pessoa olhou o sangue escorrendo pelo meu rosto e disse: “O tempo cura todas as feridas”.

Eu quebrei meu braço no segundo ano. Eu quebrei minha clavícula no ensino médio. Nem os meus pais esperaram que eu me curasse; pelo contrário, eles me levaram ao médico. Sem esse cuidado eu teria corrido risco de adquirir alguma infecção. As feridas poderiam ter inflamado. E eu provavelmente teria três cicatrizes realmente feias. Os ossos teriam ficado tortos e eu teria perdido a função do membro. Eu poderia ter sido curado, mas nunca teria me recuperado totalmente.

Isso não é diferente de feridas emocionais, relacionais, espirituais ou psicológicas. Deixe-as do jeito que estão e a perda de sangue será significativa, a possibilidade de infecção será incrivelmente alta, e as cicatrizes serão esfarrapadas. As feridas no coração ou nas emoções são mais propensas a se espalharem e causar danos em outros lugares, para infeccionar e trazer infecção para os que estão à minha volta do que as feridas físicas. Uma ferida não tratada na minha cabeça deixa uma cicatriz; uma ferida não tratada no meu coração pode acabar ferindo outros.

A visão de deixar ferimentos se curarem com o tempo só é útil se estimular a paciência, não se levar à passividade. É preciso agir para cuidar das mágoas do coração. É preciso limpar e suturar. Ela precisa dos outros, de sua ajuda e atenção. Muitas vezes, são necessários esforços repetidos enquanto a ferida permanece. Às vezes é preciso terapia e reconstrução da funcionalidade perdida – “músculos” mentais e emocionais. Tudo isso leva tempo, mas o tempo é simplesmente o que é gasto no trabalho de recuperação; não é o curador.

O tempo não cura todas as feridas. O tempo não tem poder. O tempo é apenas o espaço durante o qual Deus pode usar as ações das pessoas para curar feridas externas enquanto ele trabalha internamente.

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