O Salmo 49 estabelece um dilema da pior condição:
Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate — pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre (49:7-8)
A condição do homem desde a queda é de escravidão ao pecado e corrupção. Tendo desobedecido a Deus, nos revoltamos desde nosso íntimo até a Sua boa ordem e Seus santos decretos. Portanto, somos escravos do pecado e filhos da ira.
O salmista, com efeito, ressalta que nenhum homem pode se salvar. E nem podemos nos resgatar. Por quê? Porque nenhum pecador pode se dispor da moeda moral necessária para pagar o resgate por esse resgate.
Isto deve ser motivo de grande humildade, porque aqueles que são salvos não são salvos por qualquer justiça própria, ou por grande paciência e misericórdia para com os outros; aqueles que não creem em Cristo são, biblicamente falando, cativos.
Contudo, o evangelho de Jesus Cristo deve ser levado a todos os cantos escuros da alma e a todos os cantos distantes do mundo! Pois do evangelho decorre o resgate que liberta cativos. O Salmo 49:15 fala disso: “Mas Deus remirá a minha alma do poder da morte, pois ele me tomará para si”.
Deus pagou o resgate para nos receber de volta a si mesmo. Ele fez isso através de Cristo, que é o nosso resgate, como podemos observar em textos como Marcos 10:45: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
No entanto, essa perspectiva da expiação sempre suscitou a difícil questão: o resgate foi pago para quem?
No clássico livro de C. S. Lewis, “Suposição”, O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa, vemos Aslan fazendo o pagamento de sua vida pela libertação de Edmund em resposta às exigências da Feiticeira Branca. É uma cena poderosa que ecoa da bíblia. Mas, se traçarmos as linhas diretamente, podemos cometer algum erro teológico importante. Aslan tipifica Cristo na história, e a Bruxa é a substituta para o nosso acusador, Satanás. Todavia, enquanto Satanás é frequentemente chamado de o deus deste mundo (2 Coríntios 4:4), ele ainda é subserviente ao soberano Senhor de todo o cosmos. Destarte, temos que ser cuidadosos em como falamos do resgate, para não supervalorizarmos o poder do inimigo e nos desviarmos da glória de Deus.
Existe, na verdade, um “texto de resgate” na Escritura que nos dá uma pista sobre quem está sendo pago como resgate. Em 1 Timóteo 2:5-6, Paulo escreve:
Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus, homem, que deu a si mesmo em resgate por todos, testemunho que se deve dar em tempos oportunos.
O contexto dessa passagem nos mostra Cristo como o “mediador” não entre os homens e o diabo, ou entre Deus e o diabo, mas entre os homens e Deus. Parece, como diz o texto, que o resgate é pago pelo Deus Filho a Deus Pai, quando Jesus se tornou o mediador resgatador entre Deus e os homens, fazendo expiação pelos pecados a Deus. Vemos o fundamento desta verdade no Salmo 49:7, onde é dito que o preço do resgate da vida do homem é devido a Deus.
Nesse sentido, a visão de resgate da expiação é semelhante ao conceito de propiciação (Romanos 3:25; Hebreus 2:17; 1 João 2:2), que significa “tornar favorável”. Sabendo que a morte de Jesus redime almas do pecado e do castigo eterno, na cruz, satanás não foi pago, mas realmente envergonhado (Colossenses 2:15), não satisfeito, mas verdadeiramente derrotado ( Hebreus 2:14-15 ).
Na cruz, Jesus tomou para si o castigo do Pai aos pecadores contra Sua santidade (Isaías 53:4-5). A ira de Deus foi satisfeita na cruz de Cristo (Colossenses 1:20). É o Pai que, por amor, enviou Seu Filho para fazer o pagamento que remove sua ira santa dos filhos de Deus (1 João 4:10; João 3:36). O Pai foi propiciado. Da mesma forma, Cristo pagou o resgate ao único que verdadeiramente mantém a vida e a morte em Suas mãos – o próprio Deus.
Afinal, na bela ironia do evangelho, somos efetivamente salvos de Deus por Deus. A única segurança da ira de Deus reside no amor de Deus em Cristo (Salmos 2:12). Com o resgate pago, fomos libertados da escravidão do pecado e da morte, para a perfeita união com o Filho de Deus, em quem agora não há condenação (Romanos 8:1).
Autor: Trevin Wax
Fonte: The Gospel Coalition
Tradução: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21
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