Semeando o Evangelho

Semeando o Evangelho
Semear a Verdade e o Amor de Deus

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

O QUE ACONTECE COM AQUELES QUE NUNCA OUVIRAM O EVANGELHO?

O homem da ilha. Talvez você o tenha encontrado no argumento de um amigo contra o cristianismo. Talvez você mesmo tenha expressado a objeção.

Como um Deus bom e amoroso poderia condenar ao inferno alguém que nunca ouviu falar dele?

Quando se trata desta questão emocionalmente perturbadora, existem duas posições dominantes entre cristãos professos: o inclusivismo e o exclusivismo. Embora esses pontos de vista sustentem que Jesus é o único caminho para Deus, apenas um insiste na necessidade da fé consciente nele.

O Fascínio do Inclusivismo

O inclusivismo é a crença de que a salvação é somente por meio de Jesus Cristo, mas que pode haver pessoas que são salvas sem saber disso. Estas são redimidas pela pessoa e pelo trabalho de um Cristo que não aceitaram conscientemente. Simplificando, Jesus pode salvar alguns que nunca ouviram falar dele.

Os inclusivistas geralmente citam Romanos 2:1-16, um texto que interpretam como denotando que a salvação é possível à parte da revelação especial de Deus. O conteúdo da revelação geral, tanto a ordem criada de maneira externa (Romanos 1:19-20) quanto a lei moral interna (Romanos 2.14-15), fornece conhecimento o bastante para a salvação. Como Millard Erickson explica: O surgimento de visões mais inclusivas da salvação, mesmo entre os evangélicos, baseia-se na crença da eficácia da revelação geral para uma relação salvadora com Deus (Christian Theology, 123).

Além disso, muitos inclusivistas recorrem ao precedente dos santos do Antigo Testamento, que foram salvos sem conhecer o nome de Jesus. Erickson escreve:

E se alguém se lançasse (…) na misericórdia de Deus, sem saber em que base essa misericórdia foi proporcionada? Em algum sentido, esta pessoa não estaria na mesma situação dos crentes do Antigo Testamento? A doutrina de Cristo e seu trabalho de expiação não foram completamente reveladas a estas pessoas. No entanto, elas sabiam que havia provisão para o perdão de seus pecados e que não poderiam ser aceitas com base nos méritos de qualquer trabalho próprio. Elas tinham a forma do evangelho, sem o seu conteúdo completo. E elas foram salvos. (138)

Contudo, este paralelo não banaliza o trabalho salvador de Cristo? Erickson insiste que de modo algum, pois Jesus ainda é a fonte de todos os benefícios da salvação:

A base da aceitação seria o trabalho de Jesus Cristo, mesmo que a pessoa envolvida não esteja consciente de que foi assim, que foi providenciada a salvação. (…) A salvação sempre foi apropriada pela fé. (…) Nada foi alterado a este respeito. (138)

Para os inclusivistas, o que importa para Deus é a fé humana respondendo à “luz” que ele forneceu em um determinado momento ou lugar. Portanto, não há justificativa para alguém que reivindique conhecer o destino dos não evangelizados. Um pastor escreveu assim: Creio que a posição mais cristã com relação a esta questão é permanecer agnóstico. O fato é que Deus, através dos alertas mais solenes sobre nossa responsabilidade de responder ao evangelho, não revelou como vai lidar com aqueles que nunca ouviram isso.

Muitos inclusivistas recorrem ao caráter de Deus em defesa de sua visão. Porque “Deus é amor”, sugere o argumento, nunca condenaria alguém que sequer teve uma chance para ser salvo (1 João 4:8,16). Concordo que o inclusivismo não é um tema central na Bíblia, e a evidência para isso é menor do que gostaríamos, admite Clark Pinnock. Ele continua: Mas a visão do amor de Deus é tão forte que a evidência existente me parece suficiente.

Evidência de Exclusivismo

Em contraste com o inclusivismo, o exclusivismo é a visão de que a redenção é possível apenas pela fé no evangelho. Essa tem sido a posição cristã predominante em toda a história da igreja, e permanece assim entre os evangélicos contemporâneos que acreditam na Bíblia. Vários textos são comumente citados em sua defesa. Aqui estão cinco.

Romanos 1
Primeiro, embora os inclusivistas geralmente citem Romanos 1.18-23 para destacar a importância da revelação geral, na verdade, uma leitura mais atenta do texto defende a visão exclusivista. O argumento de Paulo é que a revelação de Deus na natureza é suficiente apenas para condenar, e não para salvar. Embora o homem numa ilha “conheça a Deus” (v. 21), ele “suprime a verdade” (v. 18), perceptível na natureza e, portanto, torna-se “indesculpável” (v. 20). Os seres humanos não são culpados porque não ouviram o evangelho; são culpados porque não honraram o Criador. Em outras palavras, não por causa da ausência de algo (a fé), mas por causa da presença de algo (a rebelião).

Todavia, Deus condenará um inocente, membro de uma tribo, que nunca ouviu o nome de Cristo? Não, porque não há membros de tribos inocentes.

As Escrituras simplesmente não retratam os seres humanos caídos como tendo um desejo vago, mas nobre por misericórdia e perdão. Além disso, parece que temos uma avidez inelutável para exercer nossa fé em rituais, liturgias e sacrifícios. Então, o que o homem da ilha faz? Na imaginação do inclusivista, ele simplesmente clama por uma vaga misericórdia e perdão, não contestando nenhum mérito próprio. No mundo real, contudo, ele provavelmente participa de uma forma de religião idólatra regional que contradiz e mina o evangelho da graça.

Romanos 10
Em segundo lugar, a necessidade da fé no evangelho para a salvação está evidenciada em Romanos 10:

Porque: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: “Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” E, assim, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo (Romanos 10.13-15,17).

A ideia lógica na mente de Paulo é direta:

A única maneira de ser salvo é invocar o nome de Cristo.

A única maneira de invocar o nome de Cristo é crer no evangelho.

A única maneira de crer no evangelho é ouvir o evangelho.

A única maneira de ouvir o evangelho é que ele seja apresentado.

É difícil coadunar esse texto com a realidade de algum outro meio de salvação além da fé na “Palavra de Cristo”

João 14
Em terceiro lugar, devemos fazer justiça à declaração de Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (João 14:6; cf. 10:7,9). Embora os inclusivistas argumentem que esta afirmação não diz nada sobre a fé explicitamente, a ideia, com efeito, está implícita. Afinal, o objetivo do Evangelho de João é convencer os leitores a crerem e serem salvos (João 20:30-31), conforme o contexto precedente deixa claro (João 3:36; 5:23-24; 6:35; 7:38; 8:19,24,42; 11:25; 12:46). O apóstolo aborda a crença 97 vezes ao longo do livro. À luz de todo o contexto, “senão por mim” denota “senão pela fé em mim”.

Atos 4
Em quarto lugar, o apóstolo Pedro declara: E não há salvação em nenhum outro, porque debaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos (Atos 4:12). Note que ele não diz apenas que não há outro salvador sob o céu (algo com o qual os inclusivistas concordariam), mas especificamente que não há nenhum outro nome. Aparentemente, saber o nome ou quem é este salvador – e suas implicações – é necessário.

Atos 10
Finalmente, há uma história particularmente reveladora em Atos 10. Deus ouve as orações de um gentio piedoso chamado Cornélio, e o instrui a mandar buscar “um homem que se chama Pedro” (v. 5). No dia seguinte, na casa de Pedro, os mensageiros de Cornélio anunciam: O centurião Cornélio, homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo a mandar chamar você para a casa dele e ouvir o que você tem a dizer (v. 22).

Pedro, então, viaja com os enviados para a casa de Cornélio, onde o centurião se dirige a seu convidado: Portanto, sem demora, mandei chamá-lo, e você fez muito bem em vir. Agora estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que o Senhor ordenou a você (v. 33).

O interessante é que Cornélio não aguardava alguma mensagem aleatória, mas específica, tal como o anjo havia lhe dito – o qual lhe dirá palavras mediante as quais você e toda a sua casa serão salvos (Atos 11:14). Em outras palavras, era uma mensagem sem a qual Cornélio teria permanecido eternamente perdido, apesar de toda a sua sinceridade religiosa.

Por que apelo para essa história? Por dois motivos.

Primeiro, porque se, verdadeiramente, existisse uma pessoa que buscou a Deus, mas não foi alcançada, por que não teríamos a expectativa de que Deus revelasse a mensagem do evangelho a ele ou a ela (seja através de um missionário ou de um sonho) exatamente como fez com Cornélio? Em segundo lugar, e mais importante ainda, se alguma vez houve um candidato à salvação através da revelação geral, decerto seria Cornélio. Ele era piedoso e temente a Deus, mediante a “luz” que havia recebido. Porém, à medida que o capítulo se desenrola, fica claro que até mesmo a sinceridade religiosa extraordinária não é suficiente. Foi necessário que Pedro se deslocasse de sua casa e viajasse mais de 48 quilômetros para proferir uma mensagem sem a qual, sugerem as Escrituras, mesmo a pessoa mais espiritualmente receptiva do mundo, não pode ser salva.

Por que isto é importante?

O que acontecerá com aqueles que nunca ouviram o evangelho? A questão não é uma abstração teológica vaga; é relevante na prática e eternamente séria. Sua visão de missões, por exemplo, seja em termos de sua natureza ou de sua urgência, será moldada diretamente por sua visão do destino do homem na ilha (também é oportuno perguntar: se a condenação divina é resultado da rejeição a Cristo, por que o amor não nos constrange a negá-lo aos não evangelizados?).

Ainda assim, alguém pode se perguntar: o exclusivismo não é injusto? Embora pareça que sim, em última análise, devemos confiar na sabedoria de um Deus insondavelmente bom e misericordioso. Talvez essa resposta pareça uma justificativa, mas não é. É uma postura de humildade. Afinal, não devemos sujeitar o Criador às nossas impressões finitas e caídas de justiça. Nossa tarefa é aceitar sua palavra e confiar de coração. Seus caminhos são mais altos e diferentes do que os nossos (Isaías 55:8-9). Ele não necessita de conselheiro, pois é bom e faz o bem (Salmo 119:68; Romanos 11:34). O juiz de toda a terra fará justiça (Gênesis 18:25). E, sobretudo, devemos contemplar firmemente o Calvário, o cume da sabedoria, a encruzilhada da justiça e do amor. Ali, em um madeiro romano, o juiz de toda a terra foi pendurado no lugar de rebeldes que não queriam nada com ele.

“Visite muitos livros bons, mas viva na Bíblia”, advertiu Charles Spurgeon. A coisa mais importante que podemos fazer diante de uma questão emocionalmente saturada como esta é abrir a Palavra de Deus, orar por humildade e compreensão, e depois abraçar o que ela diz.

Autor: Matt Smethurst

Fonte: The Gospel Coalition

Tradução: Leonardo Dâmaso

Divulgação: Reformados 21

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